Quando um familiar desenvolve uma doença que necessita de cuidados, os olhares de todos se voltam para ele. O fato é compreensível, já que é difícil ver que um ente pode ter uma doença sem expectativa de cura.
Entretanto, os olhares também precisam recair para a pessoa que assume a responsabilidade por esses cuidados, sendo na maioria das vezes um familiar sem preparo físico ou emocional. Sem a devida atenção, esse cuidador pode acabar desenvolvendo doenças como ansiedade e depressão por conta de toda a bagagem que vem junto com a “função”.
Ao ministrar a palestra ‘Cuidando de quem cuida: a importância do bem-estar dos cuidadores’, a psicóloga e professora Solange Mezzaroba explica que quando há um familiar doente, seja com Alzheimer ou outro tipo de demência, o foco e a prioridade sempre vão estar sobre ele, mas que também é necessário voltar os olhos para as pessoas que assumem a posição de cuidadores, principalmente quando essa função é designada por um membro da família.
Leia mais:
Acesso à internet pode melhorar a saúde mental de pessoas acima de 50 anos, diz estudo
Hormonologia, sem reconhecimento de entidades médicas, se espalha nas redes e tem até congresso
58 milhões de vacinas da Covid vencem no estoque federal; perda nos municípios é maior
Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil é neste sábado
“Cuidar de um idoso, de um doente, vai exigir uma série de habilidades que ele não tem e que vai ter que desenvolver”, aponta.
Ela detalha que essas novas “atribuições” sobrecarregam esse familiar tanto na questão da força de trabalho, já que muitos doentes usam fraldas e não conseguem tomar banho sozinhos, quanto de forma subjetiva.
Segundo ela, as preocupações com a evolução da doença e os sentimentos de raiva, de culpa e de tristeza são pontos que, muitas vezes, não são tratados da forma correta por esses familiares.
De acordo com dados do Renade (Relatório Nacional Sobre Demências no Brasil), 83,6% dos cuidadores de pessoas que vivem com algum tipo de demência são familiares, sendo que, dentre esse grupo, 86% são mulheres. Mezzaroba pontua que o tipo de relação prévia dessa mulher com o doente é muito importante.
“Se ela teve uma relação saudável, amistosa, isso ocorre de forma mais tranquila. Entretanto, pode ser um marido autoritário, um marido violento, um pai abusador ou violento também”, detalha.
Essas questões, segundo ela, "pegam" bastante e vão além da atividade de cuidado, podendo comprometer a saúde física e psicológica dessa cuidadora. “Ela se vê revoltada por não ter laços afetivos fortalecidos na vida pregressa e, agora, ela se vê no cuidado dessa pessoa que, no passado, não foi muito legal com ela”, aponta.
Nesse caso, a professora reforça que é fundamental a busca de auxílio através de terapias, já que a mistura de sentimentos e a “obrigação” de ter que cumprir esse trabalho de cuidado pode levar a casos de depressão ou ansiedade.
O número alto de cuidadores familiares tem como principal razão as condições financeiras da família. “O trabalho de um cuidador profissional exige um poder aquisitivo que consiga custear [as despesas]”, explica, apontando ainda que, na maioria das vezes, a renda também precisa ser revertida para a compra de remédios.
“Dependendo da doença, como o Alzheimer, não há estimativa de por quantos anos isso vai ser prolongado”, ressalta.
Leia a reportagem completa na FOLHA DE LONDRINA: