Um artigo publicado nesta segunda (10) observou uma alta taxa de interações homossexuais entre macacos rhesus, uma espécie de primatas. Entre aqueles que mantinham esse tipo de relação, foi encontrada uma maior capacidade de parceria, algo que pode ser visto como positivo no convívio dos animais e na reprodução da espécie.
Veiculado na revista Nature Ecology & Evolution, o estudo foi organizado por cientistas do Imperial College London, no Reino Unido. Eles acompanharam os macacos rhesus da ilha de Cayo Santiago, em Porto Rico, por três anos para registrar o comportamento dos bichos. Dos cerca de 1.700 animais que vivem na região, 236 machos foram rastreados pelos cientistas.
As interações sexuais, chamadas montas, foram registradas no decorrer da pesquisa. De forma geral, os contatos entre o mesmo sexo foram observados 1.017 vezes. Já as montas realizadas com animais de sexo distinto foi de 722.
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Os cientistas também realizaram estimativas para os 236 machos identificados durante o estudo. Segundo os autores, cerca de 72% desses animais acompanhados tiveram algum contato sexual com outros machos. Enquanto isso, o percentual foi de 46% para uma interação com fêmeas.
Irene Delval, pesquisadora de pós-doutorado no Departamento de Psicologia Experimental da USP na área de desenvolvimento sexual, afirma que investigações como essas estão aumentando nos últimos tempos. "As interações sexuais com indivíduos do mesmo sexo são relativamente pouco estudadas, embora esteja crescendo o interesse", diz Delval, que não participou do estudo da Nature.
A própria pesquisadora assinou um artigo que registrou, de forma inédita, um ritual de acasalamento entre macacos pregos na Bahia. Durante as observações feitas por Delval e outros cientistas, as montas também foram registradas entre os macacos pregos.
Já observado em diversas espécies de seres vivos, o comportamento homossexual entre animais vem sendo objeto de uma série de hipóteses. Uma delas é a de dominância, em que um indivíduo tentaria impor um domínio sobre outro.
Essa tese, no entanto, não fez sentido para o estudo do Imperial College. Os cientistas afirmam no artigo que em 42% das relações aqueles que montavam sobre o outro eram de categorias hierárquicas mais baixas.
Outro fator, a hereditariedade, parece ser uma explicação mais plausível, segundo o estudo. Os autores fizeram cálculos e concluíram que o contato sexual entre machos com machos era 6,4% relacionado à herança genética. Segundo o artigo, é a primeira vez que esse tipo de evidência é encontrado para explicar o comportamento em não humanos.
Delval aponta que "o sexo não reprodutivo é um jeito de comunicação muito forte e pode ter várias funções". Essas interações, continua a pesquisadora, pode até ser benéfica em algumas circunstâncias por estabelecer melhor os vínculos entre os animais.
Isso também foi encontrado no estudo. Ao comparar os registros das montas, os cientistas concluíram que "os machos que montavam uns aos outros também eram mais propensos a apoiar entre si durante os conflitos com outros indivíduos". Outros estudos já observaram que a formação de aliança entre primatas melhora a reprodução dos bichos. Ou seja, as relações entre o mesmo sexo, de forma indireta, pode colaborar com o desenvolvimento da espécie.
Esse achado exprime um benefício do contato homossexual entre os macacos e pode ser uma explicação parcial de por que, diante da evolução dos primatas, esse comportamento se manteve.
Além disso, os cientistas acreditam que a conclusão do estudo coloca em xeque a ideia de que as relações entre indivíduos do mesmo sexo seriam uma raridade nas mais diversas espécies de animais.