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Crescimento expressivo

Com faturamento de R$ 41 bi, mercado pet já vende mais que linha branca

Daniele Madureira - Folhapress
29 set 2021 às 14:45

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- iStock
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Manuela, de seis anos, ficou muito triste com a suspensão das aulas na escolinha ano passado. Estudante do último ano da Educação Infantil, a menina tinha acabado se ser matriculada em uma nova escola quando a pandemia começou. Filha única, sem o contato com os antigos colegas, e privada da convivência com os novos, começou a ficar nervosa e a chorar com facilidade.


Manu sempre foi apaixonada por cachorros, mas a mãe, Dalila de Souza Bonfim, 42 anos, relutou o quanto pode em trazer um animalzinho para casa. "Eu era complexada com cachorro desde pequena, tinha medo", conta. "Mas achei que seria egoísmo não atender a Manu neste momento tão difícil". A solução foi pagar R$ 2 mil por um cachorro da raça shih tzu, que solta pouco pelo e era o mais indicado para a menina, que tem rinite alérgica.

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Dalila estabeleceu uma série de regras para Floquinho, como não subir no sofá ou deitar na cama. Todas caíram por terra rapidamente. "Hoje nas videochamadas para ver a Manu e o meu marido, quando viajo a trabalho, também quero ver Floquinho, virou membro da família", diz a professora, lembrando que a convivência com o cãozinho ajudou Manu a superar a perda da avó paterna, no início do ano.

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O amor de famílias como a Bonfim por seus bichinhos de estimação ajudou o mercado pet a movimentar R$ 40,8 bilhões no ano passado, segundo o IPB (Instituto Pet Brasil), que acompanha os setores de criação, produtos e serviços para pets. O montante é maior do que fatura o setor de linha branca (fogões, geladeiras, freezers, máquinas de lavar, por exemplo), que movimentou R$ 29 bilhões em 2020, segundo a consultoria Euromonitor.

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"As pessoas queriam uma companhia durante o isolamento, sejam para elas mesmas ou para os filhos, que ficaram sem ir à escola", diz o presidente do conselho consultivo do IPB, Nelo Marraccini. Levantamento do IPB aponta que houve um aumento de 50% no número de animais adotados nas capitais do Sudeste durante a pandemia.


No mesmo período, segundo uma outra pesquisa, da consultoria Bain & Company, 18% dos consumidores brasileiros adotaram um pet. Hoje a população de animais domésticos no Brasil soma 144,3 milhões, entre cães, gatos, peixes e aves ornamentais, répteis e pequenos mamíferos.

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"O segmento dos gatos é o que mais vem crescendo", diz Marraccini. "Possivelmente por ser um animal que se adapta bem a ambientes pequenos e é mais independente em relação ao cão, não precisa sair para passear, por exemplo", diz o executivo.


Ao tratar o pet como membro da família, o consumidor aumenta os gatos: este ano, segundo o IPB, o setor vai faturar R$ 46,5 bilhões, uma alta nominal de 14%, sem descontar a inflação.

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Alimentação e saúde são os investimentos mais relevantes: só em clínicas e hospitais veterinários devem ser gastos R$ 8,3 bilhões este ano, segundo o IPB. E se, no passado, os tutores preparavam a comida para o cão com quirela, junto com as sobras do almoço ou da janta, agora existe uma preocupação com alimentação balanceada. "O dono vegano vai comprar ração vegana para o seu pet, porque acredita que isso é o melhor para ele", diz Marraccini.


A BRF, gigante dos alimentos, dona de Perdigão e Sadia, sabe disso. A empresa entrou no mercado há quatro anos, com a marca Balance. Mas este ano a aposta mais do que dobrou: por meio da subsidiária BRF Pet, o grupo investiu R$ 1,35 bilhão na compra de duas fabricantes de rações, a Mogiana Alimentos e o Grupo Hercosul. As compras fizeram a BRF Pet atingir 10% de participação em volume no mercado de ração, que tem forte presença de multinacionais como Mars (dona das marcas Pedigree, Royal Canin e Whiskas) e Nestlé (Purina).

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A Nestlé Purina, por sinal, acaba de anunciar investimentos de R$ 1 bilhão em um novo parque industrial em Santa Catarina. Além de abastecer o mercado local, a nova planta vai exportar ração para Europa, Estados Unidos e outros países da América Latina. Em maio, a empresa já tinha anunciado um investimento de R$ 120 milhões para expandir em 30% a produção em Ribeirão Preto (SP).


"O mercado pet é uma das grandes oportunidades de crescimento da companhia para os próximos dez anos", diz Marcel Sacco, vice-presidente de novos negócios da BRF. As rações são o maior segmento do mercado pet, respondendo sozinhas por vendas de R$ 24,5 bilhões este ano, segundo o IPB.

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Para a BRF, a produção de ração é vantajosa porque explora a verticalização da sua cadeira. A empresa conta com a BRF Ingredients, uma unidade de negócios que tem como principal cliente a própria companhia. Há um reaproveitamento dos resíduos industriais (coprodutos) de 32 fábricas, que são utilizados como matéria-prima em novos itens, como farinhas, gorduras animais e proteínas hidrolisadas para nutrição animal. "É uma maneira de alavancarmos a economia circular", diz Sacco.


Com as duas aquisições, a BRF passa a trabalhar desde marcas de alto valor agregado até as básicas. Estão no seu portfólio nomes como Guabi Natural, Gran Plus, Faro, Herói e Cat Meal.

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"Agora vamos consolidar as marcas e deixá-las menos regionais, com maior atuação nacional", afirma o executivo. A Mogiana, por exemplo, tem presença mais forte no Sudeste e Centro-Oeste do país, enquanto a Hercosul é mais forte no Sul. A BRF Pet hoje tem cinco fábricas - duas em São Paulo, uma no Paraná, uma no Rio Grande do Sul e um no Paraguai. "Também pretendemos acelerar as exportações, aproveitando a presença da BRF em 140 países".


O foco da BRF Pet é a alimentação de cães e gatos. "A venda de rações para gatos cresce mais rapidamente que a de cães", diz Sacco, que destaca para ambas as raças a oferta de alimentos úmidos, os patês. "São produtos de alto valor agregado, que representam uma atenção a mais dos tutores para com os pets", afirma.


A marca premium Royal Canin, da rival Mars, por exemplo, acaba de apresentar dois novos alimentos úmidos para gatos com "sensibilidades específicas". O preço sugerido do sachê de 85 gramas no varejo gira em torno de R$ 12.


O mercado pet também chamou a atenção da Coala, fabricante de produtos de limpeza. A companhia anunciou em julho uma nova linha de xampus, condicionador, colônias e educador sanitário para animais de estimação, que começa a ser vendida em todo o país em outubro. "Esperamos chegar a 30% das nossas vendas totais dentro de quatro meses", diz Suzana Meneghetti, diretora executiva da Coala.


Nas duas maiores varejistas do setor -Petz e Cobasi-, a ordem tem sido ganhar escala no mundo digital, onde a Petlove é a maior rival de ambas. O petshop online recebeu no ano passado um novo sócio, o fundo japonês Softbank para a América Latina, que injetou R$ 250 milhões no negócio.


Para avançar ainda mais no mercado, Petz e Cobasi tem feito aquisições. No mês passado, a Petz anunciou a compra de 100% da plataforma Zee.Dog, de acessórios para pets, por R$ 715 milhões. Antes, em julho, havia fechado a aquisição de uma plataforma menor, a Cansei de Ser Gato. A empresa completa este mês um ano de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), quando levantou mais de R$ 3 bilhões, e continua analisando novas oportunidades de compra.


Em maio, a Cobasi adquiriu a Pet Anjo, uma plataforma que intermedia serviços como dog walker, pet sitter, hospedagem e daycare. A compra ocorreu após o investimento R$ 300 milhões feito pela Kinea Private Equity, gestora do grupo Itaú Unibanco, na varejista. É dinheiro para cachorro. Também.

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