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Adapte-se na crise

Vivendo uma nova realidade profissional

Flávio Moura
05 dez 2016 às 10:11

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Em meados do século XVI, um cirurgião francês que atuava no exército, chamado Ambroise Paré, tinha como parte do seu trabalho realizar cirurgias para amputação de braços e pernas de soldados feridos no campo de batalha.

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Durante o tratamento pós-cirúrgico, alguns soldados relataram que, meses depois de terem seus membros removidos, ainda sentiam uma grande dor no local, como se ele permanecesse ali. Tempos depois, outros cirurgiões também receberam as mesmas queixas. Uma parte do corpo podia não estar mais lá, mas as dores pareciam reais.

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Por bastante tempo acreditou-se que as causas disso eram psicológicas, contudo, atualmente, já se sabe que o problema é fisiológico, conhecido como "dor fantasma". Diante da perda de um órgão, o cérebro tenta se reorganizar e a região que representa o membro amputado começa a responder a estímulos de áreas próximas, causando então essa sensação.

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O que me fez pensar sobre o assunto foi que, durante treinamentos que tenho ministrado em empresas que passam por processos de redução do quadro funcional, ouço muitos colaboradores afirmarem que suas equipes continuam a entregar o mesmo volume de trabalho de antes, já que as tarefas estão ali para serem feitas por alguém.


O que me intriga é que normalmente eles complementam, dizendo: "Esperamos que essa crise passe logo e tudo volte ao normal". De certa forma, eles olham para o seu ambiente de trabalho e acreditam que ali continuam a existir vagas abertas que logo serão preenchidas.

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Normalmente é neste momento que dou a má notícia, dizendo que o "normal" passou a ser a nova realidade que os acompanha. Se hoje, com uma estrutura reduzida e custos menores é possível entregar os mesmos resultados de antes, por que trazer mais gente? É claro que não sou a favor de sobrecarregar trabalhadores, mas a não ser que as vendas cresçam bastante ou que o parque produtivo passe por uma ampliação, é bem provável que você e seus colegas tenham de se readaptar ao contexto atual.


Infelizmente, na maioria das vezes, essa notícia parece ser algo que eles não estavam preparados para receber, ou pelo menos, não gostariam que fosse verdade. Ainda bem que, por outro lado, alguns já parecem ter entendido que a sua permanência na empresa se justifica exatamente quando se mostram muito produtivos e engajados.


O momento pede que você ocupe os espaços vazios, desenvolva novas habilidades, e acima de tudo, esqueça a "dor fantasma". Elimine todo tipo de retrabalho e desperdício, invista sua energia naquilo que é prioritário e procure formas de realizar as tarefas de modo mais rápido e melhor. E é claro, ajude seu gestor a equilibrar as demandas entre o time para que o trabalho extra não pese exageradamente para ninguém.

No caso dos pacientes que mencionei anteriormente, muitos passam por uma dessensibilização para minimizar as dores. No mundo do trabalho, um choque de realidade é primordial para aqueles mais resistentes, sobretudo quando seguido de um processo que permita sua conscientização e adaptação à nova realidade. Aliás, sem isso, a transição poderá ser muito dolorosa e, pior ainda, inútil.


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