Em muitas empresas os chefes são conhecidos por aqueles que lideram como os "homi". E o que você pode fazer para descobrir se faz parte deste time de gestores? Passe pela produção num horário não convencional e fique atento aos inevitáveis sussurros. Se surgir algo do tipo "Lá vem o homi!" – bingo! –, também é um deles! E uma dica: se o silêncio sepulcral imperar enquanto estiver por ali... Bingo de novo!
Contudo, se você atualmente não é um líder formal, mas já presenciou ou até mesmo protagonizou este tipo de diálogo pode ser que faça parte do grupo que é visto pelo pessoal de cima como os "cara". Aqueles que tendem a levar a culpa por tudo de errado que acontece na organização, sentem-se subjugados pelos superiores e adoram se fazer de vítimas.
Não é difícil constatar que os "homi" e os "cara" realmente se veem como habitantes de planetas diferentes e tampouco compreender porque eles julgam ter a certeza de que seu mundo seria muito melhor se os infelizes extraterrestres que trabalham há alguns metros dali simplesmente fossem abduzidos por alguma outra criatura espacial benevolente – para nunca mais voltar.
É que na visão dos "homi", os funcionários da área operacional só fazem um trabalho razoável mediante recompensas de curto prazo e por isto se sentem usurpados por estes sempre que um esforço complementar é necessário. Em contrapartida, para os colaboradores em questão, tudo aquilo que vem dos "homi" parece ser arquitetado para ferrar com eles.
Pode-se esperar um certo distanciamento entre líderes e liderados, afinal há sensíveis distinções entre os papéis e responsabilidades de cada nível hierárquico organizacional e quem insiste em não enxergá-las corrobora ainda mais para que a desconfiança impere em sua companhia. Ou seja, aquele velho discurso de "aqui somos todos iguais", além de soar como hipocrisia barata na imensa maioria das empresas, reforça a descrença geral em tempos melhores.
Semanas atrás, uma pessoa que assumiu o primeiro cargo de liderança em sua carreira, veio conversar comigo lamentando: "Depois que me tornei chefe as pessoas dizem que não sou mais o mesmo, pois parei de caçoar das coisas erradas que acontecem na firma e me transformei em alguém muito mais sério". Sinceramente, só consegui dizer: "Parabéns, você está conseguindo agir como um líder! Continue neste caminho". E pensei com meus botões: "Ainda bem que ele não é mais o mesmo..."
Os "homi" e os "cara" não são reflexo da hierarquia formal existente e sim dos sinais que o topo transmite à base no dia a dia. Assim, se você mantém a porta da sua sala sempre trancada, faz visitas à fábrica somente quando acontece algum tipo de erro e se sente um peixe fora d’água na confraternização de fim de ano do pessoal da produção, tudo leva a crer que seja visto como "homi" e os trate como os "cara".
Nos ambientes em que as pessoas são estimuladas a expressar suas ideias e opiniões abertamente, com respeito e sem o temor de represálias é difícil escutarmos este tipo de expressão, pois ali os indivíduos se conhecem e compreendem melhor uns aos outros. E com o perdão da redundância: somente se comunicando, compreendendo e se respeitando é que os membros de uma equipe de trabalho constroem relações de confiança.
Isto me faz lembrar uma passagem interessante. Segundo consta, certa vez Abraham Lincoln conversou com um soldado de baixa patente durante alguns minutos e o capitão daquela tropa percebeu que algo havia desagradado o presidente americano. Aproximando-se dele, indagou: "Senhor presidente, aquele soldado o insultou ou o incomodou de algum modo?" E Lincoln respondeu: "É a segunda vez que encontro este homem e não consigo gostar dele".
Solícito, o capitão perguntou a seguir: "O que o senhor quer que eu faça com ele?" E Lincoln concluiu serenamente: "Nada. Eu só preciso conhecê-lo melhor. Certamente há algo de bom neste homem e eu ainda não consegui descobrir".
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