Precisamos falar mais sobre protagonismo nas empresas e na sociedade como um todo. Vou além: boa parte das incertezas que permeiam a macroeconomia atualmente decorre da inoperância das lideranças que realmente poderiam tirar o país do atoleiro.
Quando pergunto às pessoas qual o primeiro contexto no qual essa palavra vem às suas cabeças, é comum responderem que se recordam do cinema. Destacam que a credibilidade do protagonista é central para que o público se dirija às salas de exibição, comentam sobre como deve ser bom receber o carinho dos fãs, ter seu rosto impresso em capas de revistas e receber cachês milionários quando o filme se torna um blockbuster.
É nessas horas que costumo lembrá-los de que todo astro de cinema paga um alto preço para tamanho bônus. Precisa se afastar da família durante os meses de gravação, pode ter a carreira arranhada se o último filme for um fiasco de bilheteria, viaja pelo mundo todo para divulgar o filme em intermináveis entrevistas com a imprensa (atendendo de 40 a 50 jornalistas por dia – e individualmente) e é perseguido pelos paparazzi naquelas horas em que o que mais desejava era não ser reconhecido por ninguém.
Resumindo: muita gente quer ser protagonista porque os bônus são visíveis, mas fica espantado quando descobre os ônus. Até recordo de uma historinha bastante didática a este respeito. Após assistir o concerto de um famoso pianista, um garoto ficou maravilhado com o desempenho do músico e foi até seu camarim para elogiá-lo: "O senhor apresentou-se de forma majestosa. Eu daria a minha vida para tocar como o senhor". E o músico respondeu: "Pois bem, eu dei a minha vida para tocar assim".
Muitas vezes ficamos admirados com os frutos de quem exerce o protagonismo em qualquer seara da vida, mas esquecemos do preço que esta pessoa pagou para chegar lá. O mundo pode parecer estar aos pés dela naquele momento, mas não esqueça que geralmente existe uma história de perseverança por detrás daqueles holofotes.
Especificamente no mundo do trabalho, os desafios deste ano exigem, mais do que tudo, que sejamos protagonistas em nossas empresas. O que isto quer dizer? Não podemos esperar que o governo faça alguma coisa ou o mercado melhore por si mesmo. Precisamos realizar tudo aquilo que está ao nosso alcance – inclusive as coisas que você não acredita que estejam ao seu alcance, mas logo precisa descobrir que estão sim.
Para muitas pessoas, o ano passado se resumiu ao seguinte: no primeiro trimestre elas sentiram que o ano seria difícil e pensaram que a partir de abril tudo ia melhorar. Quando tal expectativa não se realizou, apegaram-se à frase: "O mês de julho vai começar bombando porque o governo não pode deixar o país parar". Daí, na virada do semestre começaram a dizer: "Se a economia não aquecer até setembro o governo cai; eles farão alguma coisa". E no fim de ano, é claro, graças à postura de espera, perceberam que 2015 passou e não fizeram nada de diferente.
Protagonismo tem a ver, portanto, com o ato de se colocar à frente das coisas. Fazer aquilo que precisa ser feito. Buscar soluções para os problemas existentes sem se acomodar. Ou seja, não tem a ver com posição (onde você está) e sim com atitude (onde quer chegar).
Contudo, lembre-se de que os protagonistas da vida real têm bom senso e maturidade emocional. No afã de resolverem suas pendências, muitos líderes acabam colocando os pés pelas mãos porque são afobados. Outros, com perfil perfeccionista, só querem agir quando estiverem certos de que o caminho escolhido é realmente o melhor e permanecem paralisados em demasia.
Não é difícil ser considerado um bom protagonista em tempos de bonança, pois ainda que você cometa muitos erros, no final tudo acaba dando certo. Por outro lado, em crises, qualquer erro é fatal e todo peso recai sobre quem está na liderança.
Por isso, se você é líder de equipe aproxime-se das pessoas. Ninguém exerce o protagonismo de verdade numa área ou projeto se não tiver coadjuvantes à altura. Aquela velha história de ser estrela-solo já passou, tanto no cinema quanto no dia a dia das empresas.
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