Entrar no trabalho às 8h da manhã e sair de lá às 18h, com uma breve pausa para o almoço. Esta é a rotina de milhões de brasileiros que os empregadores sabem de cor. Contudo, a maior parte deles não tem ideia da vida que seu pessoal leva assim que cumpre a jornada laboral e alguns, inclusive, fazem questão de ignorar.
Patrícia, por exemplo, é uma jovem de 29 anos que tem um filho de dois, é casada e mora em São Paulo. Todos os dias ela acorda às seis da manhã, prepara o café e arruma seu garoto para levá-lo à escolinha. Logo depois segue para o trabalho e costuma aproveitar o intervalo de almoço comprando algumas coisas que faltam para a casa, pagando contas ou fazendo os trabalhos da faculdade.
Quando o relógio marca o fim do expediente Patrícia sai correndo do trabalho, pega seu filhinho na escola e retorna pra casa. Lá, coloca a roupa pra lavar, faz o jantar, limpa a cozinha e assim que seu marido chega da faculdade um pouco antes das 23hs é ela que vai estudar. Isso mesmo! Patrícia faz um curso superior de madrugada.
As aulas acabam todos os dias por volta de 1h45 da manhã e como ela pega carona com uma outra estudante, quinze minutos depois já está de volta à sua residência. "Não nada é fácil ir pra faculdade depois de um dia repleto de afazeres, mas ainda bem que tenho esta opção de estudar de madrugada", costuma explicar sempre que alguém a questiona sobre o assunto.
Com exceção de uma colega de trabalho íntima, ninguém na empresa tem ideia da rotina que a Patrícia cumpre dia após a dia e ela faz questão de se manter em silêncio com o temor de ser incompreendida. "Podem achar que estou me fazendo de vítima e isto eu não quero de jeito nenhum", justifica.
Enquanto isto, seu chefe – sem ter a mínima noção desta história toda – demonstra bastante insatisfação. "Percebo que a Patrícia é esforçada, mas não tem conseguido dar conta de tudo aquilo que passo pra ela e, sinceramente, não acredito que isto vá mudar".
Porém, quando foi apresentado às mil faces da sua colaboradora ele praticamente caiu sentado. "Realmente não sabia de nada disto. Aliás, só agora consigo compreender porque uma pessoa tão dedicada não entrega o que esperamos dela: a Patrícia está muito sobrecarregada".
É claro que as empresas não devem ficar bisbilhotando aquilo que seus colaboradores fazem nos horários em que estão fora do trabalho, mas é inegável que "a vida lá fora" afeta o desempenho individual - para o bem e para o mal.
E antes que você comece a pensar que estou sugerindo que as companhias implantem um sistema de vigilância integral nos moldes do Big Brother descrito por George Orwell, ao escrever sobre este assunto apenas pretendo lembrar que as organizações realmente precisam se importar com as pessoas que nela trabalham. Terem interesse genuíno pela vida que sua gente leva quando não está ocupando cargos.
Você já deve ter ouvido alguém dizer por aí: "CNPJ não tem coração". Ok, concordo, mas é bom que seus dirigentes portem um sistema cardiovascular em perfeito funcionamento, afinal empresas que levam este tipo de lema à risca estimulam os funcionários a fazerem apenas aquilo que são obrigados – e nada mais.
Já temos ótimos exemplos de companhias que se importam de verdade, seja construindo creches para que os filhos dos seus funcionários estejam por perto, promovendo campanhas de combate às drogas, orientando aqueles que passam por dificuldades financeiras ou contratando assistentes sociais que apoiem os colaboradores que clamam por todo tipo de amparo.
As empresas não têm de se transformar em casas de caridade, mas é inegável que aquelas que se humanizaram são mais lucrativas e reconhecidas como ótimos lugares para se trabalhar. No caso da Patrícia, da história acima, fez uma diferença enorme em sua vida escutar o chefe dizer: "Você é uma guerreira e a partir de agora conte comigo em tudo o que precisar. Tenho certeza de que você chegará muito longe!".
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