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SOLIDARIEDADE - Moradores de rua têm café da manhã na Catedral

18 nov 2018 às 19:53

No domingo (18), foi celebrado o 2º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco, em 2016. Para marcar a data, a Toca de Assis e a Arquidiocese de Londrina promoveram um café da manhã para moradores de ruas, na Catedral Metropolitana de Londrina. Os organizadores estimam que mais de 120 pessoas participaram do café, que contou com animação musical e sorteio de brindes.
Este é o segundo ano que a iniciativa é realizada. "O intuito não é tanto o alimento. O alimento é um meio, um pretexto para ofertarmos um pouco de companhia a essas pessoas. É através do alimento que promovemos a escuta para que eles possam se sentir amados", afirmou Irmão Samaritano Maria, da Toca de Assis.
"Das coisas visíveis, palpáveis, levamos o alimento que não se vê", completou Maria. A Toca de Assis faz um trabalho semanal junto aos moradores de ruas da cidade. De acordo com o irmão, faltam oportunidades para que esses homens e mulheres saíam da situação de rua.
Maria afirmou que Londrina é um local de passagem para os moradores de rua, por isso, muitos dormem nos arredores da rodoviária. "São pessoas com vícios em drogas, com desestrutura familiar e sem oportunidades de emprego", disse.
Pessoas como Edson Luiz de Souza, 57, de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), que está na rua há 15 anos. Viveu anos em Curitiba e há três veio para Londrina. Ele consegue dinheiro como flanelinha nas ruas da região Central. Souza afirmou que durante a semana não há grandes dificuldades para conseguir comida, o problema está aos domingos. "O comércio está fechado e só resta bater nas casas e ouvir muitos, mas muitos nãos mesmo. A gente tem que matar um leão e dois elefantes por dia".
Nestes 15 anos nas ruas, ele contou que nunca sofreu violência física, mas que sofre diariamente com uma violência muito mais dolorida e que deixa marcas profundas na alma: a violência do abandono, da invisibilidade, do preconceito. "É como se fossemos invisíveis", afirmou com lágrimas nos olhos.
Pedro Queiroz Júnior, 37, chegou há poucos dias de Belo Horizonte (MG), em busca de uma segunda chance na vida. Segundo ele, o estigma de ex-viciado prejudicava as relações familiares e profissionais em sua cidade. Há três anos ele largou o vício em álcool. "Hoje só fumo cigarro", disse. "Só preciso de uma chance de mostrar que posso trabalhar bem". Conta que já trabalhou de vendedor, cobrador, motorista, auxiliar de serviços gerais. Ele está ficando em uma casa de acolhimento, mas terá que deixar a casa em poucos dias. "Quero conseguir um emprego essa semana e daí alugar um quarto para morar", revelou.
Diego Augusto Mendes, 27, tem uma história parecida. Natural de Itu, interior de São Paulo, está nas ruas há dez anos e há um em Londrina. As dificuldades de relacionamento com a mãe o padrasto e a ex-mulher o levou para a rua. E a rua, o levou às drogas e ao crime. "Tenho ficha na polícia", contou, sem entrar em detalhe sobre o delito. Ele também está na casa de acolhimento e espera conseguir emprego logo para também reconstruir a vida.
Urgência
O Dia Mundial dos Pobres tem a finalidade de combater a pobreza e ajudar as pessoas carentes a conquistarem dignas condições de vida. O tema deste ano foi extraído do Salmo 34: "Este pobre grita e o Senhor o escuta".
Em sua homilia da missa de domingo (18), o Papa Francisco disse que "O grito dos pobres torna-se mais forte a cada dia, e a cada dia é menos ouvido, porque é abafado pelo barulho de poucos ricos, que são sempre menos e sempre mais ricos."
O padre José Rafael Solano Duran, pároco da Catedral Metropolitana de Londrina, afirmou que é preciso tomar consciência de três coisas. Primeiro, a situação dos pobres é uma urgência e não se pode silenciar diante dessa urgência. Segundo, ter o discernimento que todos podem ajudar de alguma forma. "Temos hoje aqui pessoas que vieram ajudar na limpeza, na organização, na acolhida. Todos temos como ajudar", afirmou o padre.
E a terceira é assumir uma postura de comprometimento com reino de Deus e colocar-se a serviço como Jesus fez. "Esse é um apelo urgente", disse o pároco. Segundo ele, o desejo das paróquias da região central é recriar um refeitório popular para atender os moradores de rua. (Aline Machado Parodi/Grupo FOLHA)


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