"Ou os protetores levam para casa, ou estão morrendo nas ruas". Assim resumiu Anne Moraes, presidente da ADA (Associação Defensora dos Animais), quando perguntada sobre a situação dos animais de rua em Londrina após o fechamento da entidade, em agosto. Segundo ela, nenhum outro grupo faz atualmente o que a ADA fazia com os animais: recolher, tratar, castrar e colocar para doação. "A gente fazia a ressocialização do animal", disse. A entidade ainda conta com cerca de mil animais, entre cães e gatos, e a ativista trabalha com o prazo de mais dez meses para fazer a doação de todos eles e, então, dissolver completamente a ONG. Cenário que fica cada vez mais sombrio para quem atua nesta causa importante.
Os custos ainda são altos mesmo nesta reta final que antecede o fechamento da ADA: R$ 110 mil por mês, divididos entre ração (R$ 30 mil), pagamentos diversos (R$ 25 mil), medicações e cirurgias (R$ 15 mil) e aluguel (R$ 8 mil). Das três chácaras que eram usadas como abrigo aos animais, uma já foi devolvida, justamente porque a ONG não tem mais condições de arcar com tais custos elevados. Anne desabafa. "Eu vejo diversos focos de desespero pela cidade. As protetores estão sobrecarregadas. A gente viu que não vai receber a ajuda que esperava. Eu, sinceramente, não vejo mais nenhuma luz no fim do túnel."
O NOSSODIA foi atrás de protetores independentes que confirmaram que a situação chegou no limite com o fechamento da ADA. "Está todo mundo esgotado psicologicamente, porque não tem mais lugar para eles ficarem", lamentou Alessandra Costa. "Agora não tenho recolhido mais nenhum. Evito sair de casa para não vê-los na rua". Na casa dela são 70 cães: idosos, filhotes e amputados. A sua cama, por exemplo, foi para a sala. O dinheiro vem de rifas, doações e, claro, do próprio bolso da protetora. "Entra prefeito, sai prefeito, prometem coisas e não mudam nada", esbravejou.
Ana Poyer tem 11 cães e 23 gatos em sua casa. A maioria deles possuem algum tipo de deficiência ou cuidado especial, o que fez com que ela abandonasse o seu trabalho fixo para se tornar autônoma e dedicar mais tempo aos bichinhos. "Pela maioria ser especial, fica muito difícil de doá-los", explicou. Com a irmã dona de petshop, as maiores necessidades são atendidas, mas a conta fica salgada. "Acabo gastando mais do que ganho e fico no vermelho."
Além disso, Ana afirma que a falta de conscientização ainda é uma das maiores barreiras. "Muitos querem só cachorro de raça, ou não se orientam da castração para reduzir a quantidade. E ainda jogam nas nossas costas (das protetoras) toda a responsabilidade. Só me ligam para socorrer. Não ajudam em nada. E aí como é que a gente dorme sabendo que o animal está lá, atropelado?" questionou. Com a falta de um órgão de cuidado animal e sem condições de bancar abrigos temporários, o jeito é recolher na própria casa. "É uma coisa que não tem fim. A gente fica enxugando gelo".
Há oito meses em uma chácara na zona leste para dar mais conforto aos seus 80 animais, a protetora Dione Sá diz que a situação não agrada o proprietário do local. "Os donos não veem com bons olhos que os animais fiquem aqui dentro e querem que eu saia", destacou, informando que está à procura de uma nova moradia. "A partir do momento que eu resgato os cães, eles são os meus filhos". Assim como Alessandra, Dione procura não ficar saindo de casa. "Impossível andar na rua. Você vê eles desnutridos, o sofrimento no olhar", confessou.
Na prática, proposta da prefeitura não ajuda
No anúncio de ações de proteção animal, como o Banco de Ração e o projeto de contratação de dez veterinários, o assunto ADA foi novamente pauta para o prefeito Marcelo Belinati. Em entrevista coletiva, Belinati respondeu que a ONG terá apoio e que sugeriu opções para a entidade. "Lá atrás nós tínhamos orientado que eles fizessem um convênio junto ao Proverde, para que eles pudessem receber os recursos da prefeitura e para serem efetivamente ajudados pelo Poder Público. Não houve prazo suficiente, mas agora ainda no começo do ano lançaremos um novo edital. Conversamos com eles, inclusive, para que não houvesse essa perda do prazo". Sobre o terreno, o prefeito disse esperar apoio do empresariado. "Tão logo eles tenham esse retorno, a Prefeitura está disposta à ceder um terreno para que eles possam continuar desenvolvendo o trabalho que fazem na nossa cidade."
Para Anne, o caso não vai se resolver tão facilmente. "Uma voluntária nossa, que é advogada, informou que o nosso tipo de trabalho não se encaixa com a proposta do Proverde, que seria para ações educacionais. De que adianta receber a verba se a gente não vai usar para o que realmente precisa?". Sobre o terreno, seria de uma área muito menor do que a Associação necessita. "Hoje nós estamos em 15 mil m². A área oferecida por eles (Prefeitura) foi de quase 5 mil m², e perto de uma nascente de água. Os próprios técnicos nos avisaram de que não iria passar pela fiscalização da Sema e IAP. Eles nos deram opções, mas opções inviáveis", criticou.
No entanto, a presidente da ADA ressaltou que a papelada foi pedida. "Mesmo sabendo que não encaixa, nós fizemos o pedido, pelo menos para ter a documentação, e para que as pessoas entendam de que a gente está correndo atrás. A gente precisa de uma ajuda que ajude, e não que atrapalhe", finalizou.