Nos últimos três anos, o Londrina ficou perto do acesso para a Série A. Se a torcida lamenta que o Tubarão tenha batido na trave em 2016, 2017 e 2018, a lamentação é muito maior quando volta à memória um jogo que aconteceu há 20 anos e que até hoje nutre muitas dúvidas e desconfianças no imaginário do torcedor alviceleste.
No dia 20 de dezembro de 1998, o Londrina perdia para o Gama por 3 a 0 em um estádio Mané Garrincha lotado e desperdiçava a oportunidade mais clara de retornar a elite do futebol nacional desde que jogou a Série A pela última vez em 1982.
A Série B naquele ano tinha um formato diferente da atual. A competição era decidida em um quadrangular final com os dois primeiros subindo para a elite. Em 1998, Gama, Londrina, Botafogo de Ribeirão Preto e Desportiva (ES) chegaram a última rodada com chances de acesso. Em quarto lugar, com cinco pontos, o LEC precisava de uma simples vitória sobre o time brasiliense, que era o líder, com sete, para subir. Botafogo e Desportiva somavam seis pontos.
Em campo, o LEC foi facilmente dominado pelo Gama, que contou com o apoio de 44 mil torcedores – até então o maior público de uma equipe do Distrito Federal – que comemorou o título e a vaga na Série A.
"Naquele dia deu tudo certo para eles e para nós não funcionou. Tomamos um gol logo no começo e tivemos que sair. Nos contra golpes tomamos os outros gols. Infelizmente não teve jeito", lembra o técnico Varlei de Carvalho.
O Gama fez 1 a 0 logo aos sete minutos, gol de cabeça do atacante Renato Martins. Chegou ao segundo através do veloz William, aos 29, e fechou o placar no segundo tempo com gol de Nei Bala, em falha do goleiro Renato.
O Londrina foi para Brasília com alguns desfalques importantes naquele jogo – o lateral-esquerdo Arnaldo, por exemplo, estava machucado, outro que não jogou foi o experiente volante China – e Varlei de Carvalho improvisou escalando três zagueiros e o zagueiro Carlos Alberto na lateral. "Estávamos sem quatro titulares e alguns que entraram não corresponderam. Pela campanha que fizemos tínhamos tudo para subir", afirmou o ex-treinador, que mora em Bauru (SP), e que trabalhou pela última vez em 2016 no Comercial de Ribeirão Preto.
Coordenador de futebol naquele Brasileiro, Célio Guergoletto relatou que o time foi montado em um único dia, através de telefonemas. "Eram todos jogadores que estavam na Série A2 do Paulista. A nossa folha de pagamento era de R$ 80 mil. Era um time de alguns jogadores rebeldes, mas que em campo resolvia", apontou.
Entre os destaques daquele time, estavam o goleiro Renato, o zagueiro Ivanildo, o lateral Marquinhos Capixaba e os atacantes Mauro, artilheiro da equipe, com 11 gols, e Alaor.
"Por ser um jogador formado no clube, foi muito mais dolorido para mim. Chorei muito no vestiário após aquela derrota", relembra o centroavante Alaor, autor de quatro gols naquele Nacional.
Atualmente morando em Jaraguá do Sul (SC), o atacante contou que logo depois de sofrer o primeiro gol, ele teve a chance do empate ao cabecear uma bola na trave. "Podia até ter mudado o rumo do jogo. Mas depois que tomamos o gol logo no início, nos perdemos. E não seria exagero dizer que eles poderiam de ganho de quatro ou cinco". Lucio Flávio Cruz/Grupo Folha)