Em mais um ano que se inicia é comum as pessoas fazerem as famosas promessas de Ano Novo: seja comprar uma casa ou um carro, perder aqueles quilinhos, trocar de emprego, organizar as contas ou ter filhos. Pensando nisso, o NOSSODIA resolveu falar com um grupo que passa por uma realidade um pouco diferente do que a maioria da população e que possa ter um olhar diferenciado da vida: os moradores de rua em Londrina.
Aos 42 anos, Wilson Ferreira da Conceição conta à reportagem que está sem lar há cerca de um ano. Como profissão, diz que trabalha como mestre de obras, mas que a "marvada pinga" não tem o ajudado. "Arrumaram uma casa para morar. Até ajudei o dono a fazer um muro. Mas aí fui tomar e caí (na bebida) de novo", revela. "Eu espero parar com isso aqui, me cuidar. Está atrapalhando a minha vida", completa Conceição, dizendo que possui família londrinense e também na cidade de Prado Ferreira (Região Metropolitana de Londrina). "Tenho pouco contato com minha filha, ela não quer me ver assim".
Junto com Wilson, nas escadarias da Praça da Bandeira está José Soriani. Contando as moedas e cuidando de uma mochila, ele admite que se tornou morador de rua por opção. "Não me dou bem com a filha da minha esposa há muito tempo. Então para evitar problemas, vim parar aqui (na rua). Ficando com meus amigos me sinto liberto", conta. Para 2019, Soriani, que tem 55 anos, comenta que um emprego está engatilhado. "Devo começar na quinta-feira. Quem sabe também não arrumo outro lugar para morar", comemora. "Também quero dar uma ‘brecada’ com isso aqui", observa, indicando a garrafa de pinga. A expectativa também é de rever o seu filho, que é jogador de futebol em Portugal.
Quando a reportagem conversava com os moradores de rua, uma terceira pessoa chega. É Edilson Chaves Leite, que dá uma resposta interessante sobre o caso. "Tenho quase a mesma condição de rua deles", aponta o homem, que aos 62 anos diz morar de favor no apartamento de uma cunhada. "Convivo no meio deles. Me igualo na sua situação para dar uma palavra de ajuda, utilizando o Evangelho", justifica ele, assegurando que já chegou a abrigar quatro moradores de rua e que sempre quando pode os leva para a Igreja.
A ação, segundo ele, já rendeu frutos. "Teve gente que saiu da rua e hoje tem seu próprio emprego e lugar para morar. A gente dá um auxílio. Sei de tudo o que eles passam. Um é muito caprichoso como pedreiro e o outro conheço desde quando jogava bola", se referindo a Conceição e Soriani, respectivamente. (Edson Neves/NOSSODIA)