Moradores relatam pouco uso do local, que tem aparência de abandono; administração não comenta sobre estrutura precária; Prefeitura consegue vitória prévia na Justiça e quer retomar o prédio
A sujeira esparramada aparece de tudo quanto é jeito: em forma de garrafas, copos descartáveis, maços de cigarro, pedaços de papelão, até em roupas, chinelos e camisinhas. A pichação ajuda a tornar o histórico prédio do Palácio do Futsal, na Vila Brasil, que já foi palco de incontáveis duelos no futebol de salão, um cenário de abandono.
Com a pulga atrás da orelha, o NOSSODIA ouviu alguns moradores para entender o que se passa por ali. O problema é que até mesmo quem mora no entorno não sabe o que está acontecendo. "Já foi bastante frequentado. Hoje é muito difícil ter jogo. Não tem iluminação e os moradores de rua se abrigam aqui", disse a aposentada Sonia Maria da Silva Barros, que mora há 68 anos no bairro e em uma casa ao lado do ginásio, na rua Colômbia. "No tempo do Edmilson era muito usado, ele cuidava direitinho. Hoje nem sei mais quem toma conta disso", lamentou a moradora, lembrando do antigo dono do Palácio, Edmilson Estigarribia, falecido em 2014.
"Parece uma coisa em vão. Com esse espaço, merecia construir um prédio", criticou Hélio Safra, também morador de longa data da Vila Brasil. "Alugam aí, mas é bem de vez em quando. Atividades uma, duas vezes por semana. Não tem iluminação, já vi roubarem celular de gente. Antes o Edmilson ficava aqui o dia inteiro e cuidava de tudo".
O garçom Pedro Henrique Silva de Souza comentou que antigamente a quadra era alugada de "segunda a domingo". "Hoje, todo domingo tem jogo dos adultos. Terça e quinta é dia da escolinha. Mas antes usavam bem mais. Talvez pelo preço da quadra, que subiu, o pessoal tenha desistido de jogar aqui, porque enche de mendigo e podem ter ficado com medo de serem assaltados", procurou explicar.
"Não temos registro de ocorrências envolvendo roubos naquele local", respondeu o secretário de Defesa Social, Evaristo Kuceki. O local também, segundo ele, não está nos 55 pontos selecionados pela Guarda Municipal como os mais críticos e que vão receber monitoramento através de câmeras.
A reportagem tentou contato com quem administra o prédio, que é a Liga Londrinense de Futebol de Salão. Ao NOSSODIA, o professor Diogo Bembem respondeu ser apenas o responsável pela sua escolinha, em atividade há quase 20 anos, e que não estava autorizado a dar informações relacionadas à manutenção e estrutura do prédio, e que passaria a demanda ao presidente da Liga, Valmir Moro, que não retornou o contato do NOSSODIA até o fechamento da edição. (Edson Neves/NOSSODIA)
O lixo está espalhado pelo entorno do Palácio do Futsal
Vitória na Justiça
Uma ação ordinária que se arrasta desde 2016 na 2ª Vara da Fazenda Pública, a Prefeitura de Londrina quer o prédio do Palácio de Futsal de volta. O imóvel foi doado à Liga em 1979. Em geral, o Município alega que o local está subutilizado e que realiza poucas ações de prática esportiva. Em decisão do dia 14 de novembro, a Juíza Substituta de Direito, Bruna Greggio, indica que "não basta a doação pelo ente público, mas é necessário que este bem mantenha-se como utilizado para fins de interesse público [
] e deixar de haver essa utilização, o bem volta para o patrimônio do doador" que, no caso, é a Prefeitura.
No final do documento, a juíza abre parecer favorável à Prefeitura. "[ ] considerando que, atualmente, o bem doado ao réu não cumpre sua finalidade pública, cabe reversão da propriedade ao município de Londrina". A assessoria da Prefeitura respondeu que não se pronuncia sobre decisões antes do trânsito em julgado, que é a etapa onde não se cabe mais recursos (E.N).