O semáforo fechou. Não avancei com o carro, que seria o primeiro a seguir tão logo o sinal abrisse. Estava na Rio de Janeiro; à esquerda, a catedral e mais à frente, a praça. Mal tive tempo de olhar à direita, meus olhos se detiveram no lambe-lambe que oferecia o serviço a uma senhora que passava com duas crianças. Fixei-me naquele aparato arcaico, mas que, para mim, soava muito interessante. O cavalinho de madeira revestido de camurça preta continuava lá. Minha mente me conduziu há pelo menos 32 anos. Vi-me menina diante da máquina de fotografar. Pulava a menina de vestido diante do fotógrafo, pedindo à mãe que autorizasse a foto. Quanta magia saía de dentro daquela caixinha. Bastavam alguns instantes para que aquele profissional, hoje quase extinto ou em vias de extinção, entregasse o papel com meu rosto impresso, revelando o sorriso de criança feliz diante da leveza da vida. Amo a fotografia contemporânea, mas verdade seja dita, as facilidades tecnológicas que tanto agregam à fotografia minimizaram a espontaneidade, a capacidade de improvisação e a sensibilidade presentes nas fotos dos lambe-lambes.