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Nossa crônica

07 nov 2018 às 22:26
Somos humanos e, como tal, agimos - ou ao menos deveríamos - agir de forma diferente das demais espécies. Nossos gostos são outros, nossos desejos e necessidades também o são. Assisto todos os dias a um belíssimo espetáculo da natureza, animalesco e doce. Pela manhã, deparo-me, ao longo do percurso que faço, com dois gatos vira-latas estendidos na calçada. Passam a pata um no outro. Lambem-se. Olham-se e num giro movimentam o corpo de modo que os olhares permanecem encaixados e os corpos enlaçados como numa cama de linhas e fios emaranhados. A dança da amizade sensual entre os bichanos me despertou sentimentos vários. Mostrou-me o quanto nós, humanos, temos andado distantes do toque. Penso que nos esvaziamos a cada dia que deixamos de receber um abraço fraterno, um delicioso abraço no qual envolvemos o outro e somos envolvidos. Esvaziamo-nos, porque tem ficado em segundo plano o toque delicado de um carinho, o beijo suave na face, o passar de mão pelo cabelo. A falta desses ingredientes tão basilares ao ser humano tem me despertado inquietação. Não sentir essa humanidade tem me colocado atenta e observadora quanto ao modo como as pessoas têm tratado umas às outras – e claro que me tem feito refletir sobre como eu tenho agido para com aqueles que estão ao meu redor. Concluo que frente a tantos acontecimentos cotidianos o que falta acontecer na vida de todos nós é um reencontro com o sentir. Não carecemos mais de sentimentos duros e pesados. Urge em nós a leveza de passos, a delicadeza do sorriso, a mansidão em palavras, o alento no olhar. Qualquer ato que fuja dessa urgência só irá ainda mais nos desumanizar e subtrair aquilo que nos torna humanos.

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