O aumento da informalidade - trabalho sem registro em carteira - vem crescendo em Londrina. Entre janeiro de 2016 e setembro de 2018, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que os trabalhadores neste perfil passaram de 49,6 mil para 57,4 mil no período, um crescimento significativo de 15,8%.
E foi num período similar – a partir de agosto de 2016 – que um dos principais aplicativos de transporte de passageiros do planeta, a Uber, chegou em Londrina e acabou se tornando uma fonte de renda (entre outros apps que vieram posteriormente) para quem não consegue retornar à formalidade. A empresa internacional prefere não divulgar os números dos motoristas da cidade, mas não é preciso ser nenhum especialista para constatar o aumento significativo deles. A difícil busca por um emprego com carteira assinada, certamente, acaba conectada de certa forma ao incremento dos motoristas. O NOSSODIA conversou com alguns deles e comprova este cenário.
Aos 26 anos, João Victor Corradi é formado em administração de empresas e contou que a dificuldade em arrumar um emprego na área fez com que entrasse na onda do trabalho sem carteira assinada. "Na verdade sempre trabalhei assim, seja em estágio da faculdade ou em empresa da família. Mas ainda quero seguir para a minha área". No entanto, o ramo "saturado e concorrido" faz com que a procura seja menor. "A concorrência é gigante. Fui em uma entrevista onde tinha 350 candidatos disputando uma vaga de auxiliar administrativo. Continuo procurando emprego, mas hoje a Uber e a 99 são meu trabalho diário", completou.
Clóvis Gomes Andrade se desenvolveu na área da construção civil. No início, trabalhava registrado na prefeitura de Rio Branco do Ivaí (190 km de Londrina). Em Londrina, trabalhou por quatro anos como pedreiro autônomo até conseguir um emprego com carteira assinada na antiga Confepar, no cargo de operador de pasteurização, onde ficou por nove anos. "Pedi dispensa e voltei ao mercado informal", disse. De volta à construção civil, os serviços não apareciam sempre. A esposa, manicure, ouviu a sugestão de uma cliente sobre o trabalho como motorista de aplicativo. "A intenção era de ficar apenas até a obra de um prédio fosse liberada, mas quando comecei percebi que ‘tirava’ o mesmo que como pedreiro. Agora só estou nisso aqui."
A propaganda oferecendo a oportunidade de renda extra fez com que João Paulo Vieira saísse de Cascavel, onde era dono de uma loja de roupas femininas, para Londrina. "Logo que abri a loja, foi no auge da crise e as vendas caíram muito. Quando pesquisava na internet jeitos de aumentar a renda, caí na propaganda deles e resolvi tentar, sem conhecer a cidade." Vieira admite que não é "fã" do trabalho formal, mas que sente falta dos benefícios. "A dinâmica de trabalhar sem registro é outra. Na verdade queria a oportunidade de montar outro negócio. Trabalhar com isso compensa, mas você precisa dedicar muito tempo", garantiu.
Já para Andréa Drexler, o trabalho começou como uma renda extra há quase dois anos. Trabalhando meio período em uma faculdade holística no estado de São Paulo, a outra metade servia para o transporte de passageiros. Morando em Londrina desde março, quando veio com toda a família, Andréa diz que consegue faturar com as corridas o mesmo que em seu último emprego formal. "No ramo que tenho experiência, até pela minha idade (46), está difícil arrumar emprego registrado. Mas ainda espero conseguir um, até pelas garantias que você tem. Hoje, a Uber é minha renda principal, mas o objetivo é de voltar a ser um complemento", reforçou.
Possibilidades
O economista Marcos Rambalducci explicou que a atual situação de falta de empregos estimula o indivíduo a administrar o empreendedorismo. "Uma vez, neste ambiente (informal), a pessoa muitas vezes perde o interesse em procurar trabalho registrado". Em contrapartida, Rambalducci rechaçou que a oportunidade de enriquecimento pode até ultrapassar a questão da perda de benefícios. "Ainda não vi isso acontecer com nenhum empregado".