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Moradores de rua comemoram Natal antecipado em Londrina

09 dez 2018 às 20:45


Café da manhã, roupas limpas, banho quente, corte de cabelo, manicure, almoço e atividades culturais. Esse foi o Natal antecipado de dezenas de moradores de rua de Londrina que participaram neste domingo (9) do evento organizado pela comunidade religiosa Toca de Assis. Logo nas primeiras horas da manhã, um ônibus percorreu a cidade para transportar os moradores de rua até o Colégio Estadual José de Anchieta, no Jardim Higienópolis, região central. Everson Silva, 47, foi o primeiro a ser atendido pela equipe de voluntários. Ele caminhou por algumas horas até a escola e dormiu em frente ao portão ainda na noite de sábado.
Silva vive nas ruas há um ano. O envolvimento com as drogas o afastou dos filhos que chegaram a oferecer ajuda, mas a internação em uma clínica de tratamento não foi suficiente para o manter longe do vício iniciado em 2001. "Não quero mais que eles fiquem magoados comigo. Prefiro ficar longe. Vou ter que sair dessa sozinho", sentenciou enquanto aproveitava os serviços oferecidos no evento.
Em cada espaço do colégio, dezenas de realidades invisíveis aos olhos da maioria. Emeleide de Campos, 31, estava na fila para cortar o cabelo. Depois de pintar as unhas e dar um trato no visual, a participante não conteve a alegria. "Isso aqui tá maravilhoso", comemorou. Os três filhos dela vivem com a avó desde que passou a morar sozinha nas ruas há 12 anos. "Foi uma desilusão amorosa", justificou como ponto de partida para o vício em crack. "Não é nada fácil. Estou cansada dessa vida. Já tentei tratamento, mas não consegui ficar", confessou. "Hoje vou aproveitar tudo isso aqui", desconversou para retomar o sorriso no rosto.
Nas quadras de esporte da escola, mesas estavam disponíveis para que todos pudessem fazer as refeições. Larissa Catarino, 21, mora em um abrigo da cidade com as duas filhas. Elas aproveitaram juntas o café da manhã e aguardavam ansiosas pelo almoço. "É muito legal participar de tudo isso. Nunca tinha vindo para cá", comentou. Mãe e filhas deixaram a casa em que moravam após desentendimentos familiares.
Ao longo do dia, os corredores da escola se transformaram em uma grande festa. Além dos serviços, os mais de 50 voluntários doaram sorrisos, abraços e tempo para conversar com cada participante. Em troca receberam amor, gratidão e reflexões sobre a fragilidade da vida.
Ao ouvir o primeiro ‘cliente’, o barbeiro Luciano Pereira se deparou com um velho conhecido da adolescência. Surpreso, ele demorou a reconhecer o rapaz, hoje viciado em drogas. "Ele estava bem diferente. Conforme fomos conversando, percebi que era ele e perguntei sobre alguns conhecidos em comum. Foi bem triste, mas consegui dar meu apoio e dizer a ele que nunca é tarde para recomeçar. Deus nos faz vencedores", contou.


Os moradores de rua tiveram um dia
de beleza e renovaram a autoestima

Distribuição de amor e afeto
O chamado "Natal dos Pobres" é realizado há mais de 15 anos pelos integrantes da Toca de Assis. Mais de 200 participantes eram esperados ao longo do dia. A coordenadora da Pastoral de Rua e uma das organizadoras do evento, Sandra Ribeiro, se emocionou ao falar da confraternização. "Mudou o meu olhar para cada um deles e para a minha própria vida. A gente reclama de coisas que, quando olha para isso tudo... O que enche o meu coração de alegria é quando a gente chega e eles nos chamam de amigos", relatou. Nas noites de terça-feira, o grupo da pastoral percorre a cidade para oferecer roupas e alimentos aos moradores de rua. A técnica de enfermagem Márcia Wielganczuk atua há 4 anos como voluntária na Toca de Assis e não esconde a alegria em acolher cada participante. "Quando você pergunta para cada um deles: ‘O que você gostaria de ganhar de Natal?’. Nenhum pede dinheiro. Nenhum pede presente. Eles pedem o afeto que eles perderam, a família, um sorriso, um abraço. Às vezes, eles chegam com medo. Medo de serem rejeitados novamente, de serem julgados mais uma vez. Quem vive na Toca de Assis aprende a não julgar e a acolher todos os irmãos", frisou. Para o integrante da Toca de Assis, Irmão Samaritano, é preciso resgatar o verdadeiro sentido do Natal e trocar o consumismo desenfreado pelo amor ao próximo. "Eu me considero uma pessoa muito privilegiada. O sentimento que nos move é o de gratidão. Fisicamente, saímos de cada evento exaustos, mas a alegria é muito grande. Fico triste por não poder ajudar mais. É uma gota no oceano, mas sem essa gota, o oceano seria menor", resumiu. (V.C.)


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