Cinquenta e dois taxistas não fizeram o recadastramento para continuar operando com o serviço em Londrina. No total, são 382 motoristas autorizados, mas apenas 330 deles foram até à CMTU para se garantir no táxi em 2019. O NOSSODIA conversou então com alguns taxistas para buscar uma resposta: por que a falta de procura? O primeiro taxista que conversou com a reportagem não quis se identificar. Ele trabalha no ramo há 19 anos. Um dos motivos, segundo ele, pode ser o desânimo devido à concorrência dos últimos anos, com a chegada dos aplicativos de corrida.
"É bom ter concorrência, nunca fui contra, mas desde que seja justo. Hoje, sem regulamentação, não tem como competir de igual para igual. É uma maneira que acho desleal e está destruindo a categoria", afirmou. "Revolta e desânimo por verem outros trabalharem sem regulamentação", completou.
Com uma demanda que reduziu de 30% a 40%, onde a quantidade de viagens por dia caiu de 20 para cerca de 12, o taxista fala em uma inversão de valores. "Hoje o motorista de aplicativo tem mais prestígio do que a nossa categoria, que está regulamentado e trabalha na legalidade", desabafou.
Renato Neto é taxista há apenas três anos, mas acompanhou a fase que classifica como "pré-Uber". "Ainda era uma fase boa. Aqui do nosso ponto (avenida São Paulo esquina com a rua Goiás), todos se recadastraram. Mas é uma coisa que atrapalha, principalmente para nós ‘paqueiros’ (motoristas auxiliares). O motorista titular trabalha de dia e o auxiliar à noite, por exemplo. Mas nesse período caiu muito a quantidade de corridas. Se o titular não fizer o cadastro e a gente não tiver condições financeiras de assumir o táxi, acaba", comentou. "Muitos já são de idade, com anos e anos de táxi, aí pegam essa situação da concorrência ou a burocracia com a documentação. Chega uma hora que cansam", explicou.
A bordo de um carro de táxi há 18 anos, Izael Oliveira Moretti resume a situação como "péssima". "Se passou da data de recadastro, você já é multado. E para esses outros (motoristas de aplicativo)?", questionou. Ele acredita que o prazo de um mês foi mais do que necessário para os quase 400 taxistas renovarem a sua licença. "Muitos desses 52 aí são pessoas desistentes. É a concorrência mais desleal que existe. Pra mim, só não se recadastrou porque não quis. Você só iria gastar meio dia de serviço para conseguir arrumar a documentação", respondeu.
Para o presidente do Sindicato dos Taxistas de Londrina, Carlos Fernandes, mesmo as dificuldades do dia a dia não são motivos para deixar de se recadastrar. "Seja a crise, a concorrência, não justifica. Se alegaram isso, estão equivocados. Vai de cada um a responsabilidade de estar em um trabalho regulamentado", pontuou, esquivando de uma possível migração de taxistas para as outras plataformas como um dos motivos.
Ainda existe clientela
Os taxistas que conversaram com a reportagem garantiram que ainda existe os clientes fiéis. "Temos clientes de princípios e que preferem usar o serviço de quem está dentro da lei", disse o motorista que não quis se identificar. Renato Neto comentou sobre a segurança. "Alguns até tentaram mudar para os outros, mas não sentiram segurança, porque não sabem com quem eles vão andar. Aqui eles sabem quem é o motorista, qual o carro, nos conhecem de verdade", reforçou.
Análise de documentações
O coordenador de transportes comerciais da CMTU, José Carlos da Silva, informou que independente do motivo, o motorista deve justificar o não recadastramento. "Além do pagamento da multa de R$ 1.057,00, deve ser preenchido um formulário de justificativa em um prazo de sete dias úteis do recebimento do ofício", alertou. Caso isso não seja feito, o motorista pode sofrer outras penalidades, como a perda da sua licença. Silva destacou que a CMTU não planeja inserir novas vagas. "A última licitação aconteceu em 2012 e até o momento não temos previsão de aumentar. Por enquanto, o número de 382 vagas deve se manter", finalizou.