Notícias

Ex-empreendedor - De volta ao mercado de trabalho

11 nov 2018 às 21:32

Os dados sobre a taxa de sobrevivência de empresas no Brasil, principalmente as pequenas, mostram que empreender pode ser um negócio de curto prazo. Seja porque o negócio não deu certo ou porque o empreendedor não se deu bem com a vida de empresário, o retorno ao mercado de trabalho às vezes é a melhor saída. Mas essa volta pode não ser tão simples, de acordo com especialistas.
De acordo com Aristides Girardi, mentor de empresários e executivos, o ex-empreendedor em busca de recolocação encontrará recrutadores com visões diferentes sobre a questão. Para alguns, um eventual fracasso no negócio será visto negativamente. "Ele terá um selinho na testa escrito ‘fracasso’", brinca. Outros, como o próprio Girardi, verão como algo positivo. "Uma pessoa com uma experiência como essa aprende e desenvolve muita coisa. Muitos vão olhar isso como vantagem competitiva, uma experiência de vida que vai levar mais segurança ao desempenho do profissional na empresa", defende.
A coach e psicóloga Daniella Forster concorda. "O mercado sempre trabalha com preconceitos", diz. "A depender do cargo, esta autonomia [demonstrada pelo profissional que saiu do mercado para empreender] pode deixar o empregador na dúvida. ‘Será que ele vai conseguir trabalhar subordinado a alguém?’ Isso pode vir como um problema na hora da entrevista se o profissional não souber se posicionar", diz.
Daniella explica que o profissional deve entender o que deu certo e o que deu errado na sua experiência como empreendedor para contar bem sua história. Ela concorda que profissionais que já empreenderam têm diferenciais, como a experiência com o relacionamento direto com clientes e conhecimentos mais amplos de mercado. "Tem um nível de informação que vem de fora e acaba influenciando a vida profissional", diz.

Quando voltar?
Aristides Girardi diz que há várias razões recorrentes para se deixar um negócio para voltar a trabalhar em uma empresa. Uma delas é a falta de "cultura de correr riscos".
"Nós, brasileiros, não aprendemos isso. Somos criados para cumprir expediente e receber o salário ao fim do mês", conta.
Um segundo motivo, é quando o empreendedor quebra. O mentor já viu profissionais perderem rescisões polpudas que investiram em negócios próprios após uma demissão e voltarem endividados ao mercado. "[A maioria] dos que empreendem não está preparada", lembra. "É preciso ter estratégia de marketing, um plano de negócios, encontrar fornecedores, definir estratégias, desenvolver produtos. São coisas que empregados não estão acostumados a fazer."
Girardi diz que nem todo revés é motivo para desistir do empreendimento. "Percebendo que se tem nas mãos um negócio que vale a pena, uma das saídas é arrumar um sócio, buscar um investidor-anjo ou desmobilizar patrimônio para investir", diz.
Às vezes, no entanto, a vida de empresário não é mesmo o que o profissional deseja. Neste caso, um retorno é recomendável.
"Há muitos que deram certo e, mesmo assim, querem voltar pela comodidade do salário no fim do mês", conta. "Mas, tanto para quem quebrou quanto para quem vendeu o negócio com lucro, esse profissional traz uma bagagem de vida que não tinha antes. E isso, com certeza, agrega."
A coach Daniella Forster diz que há muitos outros fatores além de talento e vontade envolvidos no sucesso de um empreendimento. "Às vezes, são pessoas que não sabem obter reconhecimento financeiro pelo que fazem; que trabalham bem, mas não têm controle financeiro; ou que entregam bem, mas não têm disciplina para gerar resultados", explica. "Aí, realmente faz sentido voltar." (R.C.)


Continue lendo