"Se fosse no ‘postinho’, ficaria na fila sem saber quando seria atendido", disse o aposentado Braz José da Silva, de 64 anos, enquanto aguardava em uma clínica popular, localizada no centro de Londrina, para agendar um exame para tratar a colesterolose. Ele é um dos cerca de 200 pacientes que circulam diariamente no local, uma alternativa para quem não possui plano de saúde e que prefere ficar bem distante das longas filas do SUS.
O vigilante, Cilso Silva, estava na clínica para agendar um exame de próstata. Para ele, além do lado financeiro e da agilidade, a sua saúde pedia socorro. "Fiz um primeiro exame há uns três meses. O médico falou que não foi apontado nada de errado e pediu para retornar daqui um ano. Mas sinto que preciso ouvir outros médicos", revelou. "Pelo SUS, demoraria de três a quatro meses. Aqui eu liguei na quinta e serei atendido hoje (sábado). É muito mais rápido". Até pessoas de outras cidades também escolheram fugir do sistema público de saúde e buscam as clínicas populares. O auxiliar administrativo Lucas Felipe da Silva, de 24 anos, veio de Bela Vista do Paraíso (45 km de Londrina) para receber atendimento psiquiátrico. "Lá, além de ser pelo SUS, o atendimento é mais caro e feito em grupo. Vale a pena gastar duas horas de viagem, ida e volta, para ser atendido".
A costureira Edileuza de Sá veio com a filha pequena e o marido para ser atendida por um médico otorrino. De Sertanópolis (50 km de Londrina), ela conta que não havia especialista e que o diagnóstico pelo clínico geral não estava preciso. "Só me passavam remédio para garganta inflamada, mas não resolvia". Em menos de vinte minutos, entre a espera e a consulta, Edileuza recebeu a notícia de que teria que retirar as amígdalas. "Aí você vê a diferença de ser atendida por um especialista", justificou. "Já tenho marcada outra consulta para o dia 20 e depois já vou marcar a cirurgia", completou.
Uma das sócias da clínica de saúde Acesso Mais, Gisiane Escritori, afirmou que o segmento ainda é novo na cidade. "Estamos no mercado há seis anos. Somos praticamente os pioneiros aqui". Com 40 profissionais, os serviços variam entre exames de raio-x, ultrassom e ressonância magnética, passando por atendimento de especialistas nas áreas de cardiologia, ginecologia, pediatria e neurologia. Gisiane reforçou que 80% da demanda dos pacientes são realizados na própria clínica. "Quando o paciente necessita de exames de maior complexidade, aí fazemos o encaminhamento para outros locais."
Para ela, o diferencial da clínica se baseia na rapidez no atendimento e preço mais acessível. "No início a gente atendia mais o público das classes C e D. Hoje, recebemos até pessoas que têm planos de saúde, porque o preço de uma consulta aqui custa de 50% a 60% do que o convencional. É possível realizá-las no mesmo dia ou na mesma semana", garantiu, referindo-se também que o termo "clínicas populares" foi mudando para "sistema de clínica médica particular sem mensalidade".
Gisiane disse ainda que com o crescimento da concorrência – em seus números, já são entre cinco a seis clínicas do ramo em Londrina – o foco é trabalhar para manter o bom atendimento. "(A concorrência) não nos preocupa, estamos sempre acompanhando o mercado. Não é um segmento fácil, já que a tomada de decisões é crucial para o andamento do serviço e todos os sócios estão sempre de prontidão para realizar o melhor para o paciente.