A recente divulgação dos resultados do monitoramento de agrotóxicos em alimentos feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chamou a atenção da população. Segundo os dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), o tomate, o morango e a alface foram os alimentos que apresentaram em 2007 os maiores números de amostras com irregularidades: teores de resíduos acima do permitido e o uso de agrotóxicos não autorizados para estas culturas.
Entre os produtos monitorados pelo programa da Anvisa, o tomate chamou mais a atenção. Das 123 amostras analisadas, 55 apresentaram resultados insatisfatórios devido à presença da substância de alta toxicidade monocrotofós, que tem seu uso proibido no Brasil desde 2006. Embora os teores de resíduos encontrados não ultrapassem os limites aceitáveis para a alimentação diária, foi detectado o metamidofós - agrotóxico autorizado apenas para a cultura de tomate industrial - no tomate de mesa, no morango e no alface, sendo que nestes dois últimos sua aplicação é proibida.
Paraná
Leia mais:
Londrina recebe o festival gastronômico Brasil Coffee Week
Secretaria da Mulher oferta Curso de Manipulação de Alimentos em Londrina
CCI Oeste promove oficinas de culinária para idosos de Londrina
Inscrições para o curso gratuito de masseiro encerram nesta quarta em Cambé
A diretora do Departamento de Vigilância Sanitária, Suely Vidigal, diz que o Paraná está entre os 16 Estados que desenvolvem o Para, programa criado em 2001 pela Anvisa para manter a segurança alimentar do consumidor e a saúde do trabalhador rural. Segundo ela, análises realizadas nos últimos dois anos em produtos coletados pela Vigilância Sanitária também identificaram resíduos de agrotóxicos não autorizados ou acima dos limites estabelecidos pela legislação em alimentos.
O quadro preocupa a Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual da Saúde devido à possibilidade de exposição da população aos alimentos contaminados e serve de alerta principalmente aos produtores rurais, já que a tecnologia de produção agrícola de alimentos dependentes de agrotóxicos e outros insumos químicos que podem gerar problemas de saúde pública.
A responsável administrativa do Parano Estado, Elaine Castro Neves, explica que desde a criação do programa, técnicos da Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba coletam para análises amostras à venda em supermercados da Capital, de alface, banana, batata, cenoura, laranja, maçã, mamão, morango e tomate da produção estadual e de outros Estados brasileiros.
Análises e irregularidades
O Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Paraná está entre os dois únicos Laboratórios do Brasil a realizar análises de resíduos de agrotóxicos para o Pprograma, que coleta amostras em 16 Estados.
Segundo Elaine, no ano passado, os resultados das análises feitas entre maio e dezembro em amostras coletadas em Curitiba, demonstraram que apenas as bananas e as maçãs não estavam em desacordo com a legislação vigente, e que 57,1% dos morangos apresentaram até cinco substâncias agrotóxicas não autorizadas para a cultura – clorotalonil, clorpirifós, tetradifona, procloraz e folpete – ou acima dos limites máximos permitidos – iprodiona. Além disso, 71,4% dos tomates analisados continham metamidofós e/ou clorpirofós – substâncias não autorizadas para essa cultura – e 60% dos alfaces apresentaram acefato e/ou clorpirofós – ambos não autorizados – e ditiocarbamatos em maior quantidade que a permitida pela ANVISA/MS.
Não autorizados ou impróprios
Em 2006 os ditiocarbamatos foram detectados na maioria dos alimentos analisados – em 20 amostras – e em 2007 apenas no alface. A etilenotiuréia - metabólito dos ditiocarbamatos - tem sido associada ao bloqueio do funcionamento da tireóide, o que requer estudos mais aprofundados desta substância.
Em 2007 foram detectados resíduos de endossulfan em batata. "Essa presença é considerada grave, já que no Brasil seu uso é permitido apenas para as culturas do algodão, cacau, café, cana-de-açúcar e soja, mais preocupante ainda é seu uso no morango, que é uma cultura de ciclo curto e de colheita contínua", alerta a técnica. "O morango continua sendo uma cultura crítica, devido ao uso de agrotóxicos não autorizados, a presença de resíduos acima dos limites máximos de resíduos estabelecidos e a maior concentração de diferentes princípios ativos numa mesma amostra".
Apesar do trabalho desenvolvido no país e no Estado do Paraná, entre a ANVISA/MS, SESA e os demais órgãos envolvidos, os princípios ativos não autorizados continuam sendo utilizados na produção agrícola, gerando resíduos nos alimentos.
"É necessário que a Vigilância Sanitária aponte o problema para que o mesmo tenha possibilidades de ser compreendido e trabalhado por todos os setores da cadeia produtiva. Temos o direito de comer sem riscos para a saúde", fala a diretora do Departamento de Vigilância Sanitária, indicando a necessidade de conscientização dos agricultores para evitar o uso de substâncias proibidas e a redução das aplicações de agrotóxicos nas lavouras.