Em 1945, eleitores do brigadeiro Eduardo Gomes promoviam festas para fortalecer a candidatura do militar às eleições para presidente da República. Entre as guloseimas que as moças preparavam para Gomes, que fazia o tipo bonitão, estava um doce em forma de bolinha e preparado com chocolate. O militar perdeu o pleito. Mas o doce em sua homenagem ficou conhecido pelo nome de sua patente: brigadeiro. Hoje, 65 anos depois, essa delícia brasileira ganhou roupagem e condimentos novos. A doceira Juliana Motter, de 33 anos, não é política, mas defende a causa do brigadeiro com fervor. Em "O Livro do Brigadeiro", que chega esta semana às livrarias, ela une argumentos nacionalistas e receitas incrementadas numa ode de fazer babar até os menos chocólatras e conta como passou a viver, literalmente, de brigadeiro.
Foi o hábito de preparar os doces nas festas dos amigos que levou Juliana a ver sua especialidade como forma de ganhar dinheiro. Na manhã seguinte a um desses encontros, a moça, que é formada em jornalismo, recebeu, surpresa, o primeiro pedido para uma encomenda. "Uma mulher me ligou, pedindo mil brigadeiros. Eu nunca tinha pensado em vender. Mas acabei aceitando. Saí cedo do trabalho e passei a madrugada cozinhando", lembra. A coisa pegou e Juliana passou os dois meses seguintes numa jornada dupla de trabalho: na redação de dia e no fogão à noite. Resultado: largou o jornalismo após dez anos de carreira. Hoje comanda uma equipe de 12 doceiros que dão conta, em quatro fogões, dos 3 mil brigadeiros vendidos diariamente em seu recém-inaugurado ateliê, o Maria Brigadeiro, em Pinheiros, São Paulo. Ali, os clientes podem acompanhar o preparo do doce.
A partir do conceito de ''brigadeiro gourmet'', a guloseima ganhou chocolates finos, com porcentagens altas de cacau - no mínimo, 32% -, além de manteigas extras (com mais leite) e importadas. Tudo pelo sabor. As inovações se estendem ao cardápio, com mais de 40 variações. Limão siciliano, damasco, pistache e avelã são alguns dos sabores que a mistura tradicional de leite condensado, chocolate e manteiga ganhou.
Juliana viaja duas vezes ao ano para feiras de chocolateiros pelo mundo, de onde traz amostras para o doce, além de manteigas de diferentes países. "Brigadeiro precisa de ponto. Cada variação de ingrediente interfere muito", explica ela, que já conquistou clientes famosos, como as atrizes Deborah Secco e Flávia Alessandra.
A moça, que antes levava seus doces, de graça, para festinhas de amigos, já foi contratada para preparar os brigadeiros para um evento na Daslu. "Aqui no Brasil, a gente dá muita atenção para trufa, creme brulée, e outras coisas da patisserie francesa. Mas o brigadeiro também pode ser sofisticado", afirma.