A gastronomia é um dos ícones da cultura italiana, sempre muito ligada à família e ao prazer de reuni-la. A cozinha é um espaço sagrado de quem a comanda introduzindo um toque pessoal às receitas, o 'amor'. Talvez por isso não encontremos nada igual ao Spaghetti preparado por uma legítima 'mamma' ou às pizzas das 'nonnas'.
A deliciosa gastronomia é uma grande motivação para outro marcante aspecto da cultura italiana, 'stare a tavola' ou estar reunidos à mesa na hora das refeições, transformar as refeições em verdadeiras festas de congraçamento, num palco de discussões e de alegria.
É difícil resistir ao charme e aos sabores de uma boa comida italiana. Não há quem não aprecie pelo menos um entre as dezenas de pratos recheados com queijo, molho farto e regados a muito azeite... É raro encontrar alguém que faça cara feia para essa combinação farta de sabor e calorias.
Leia mais:
Londrina recebe o festival gastronômico Brasil Coffee Week
Secretaria da Mulher oferta Curso de Manipulação de Alimentos em Londrina
CCI Oeste promove oficinas de culinária para idosos de Londrina
Inscrições para o curso gratuito de masseiro encerram nesta quarta em Cambé
A culinária italiana que conhecemos hoje não é verdadeiramente italiana, ela é um resultado da evolução de séculos de mudanças sociais e políticas. Suas raízes encontram-se no século IV na Idade Média e mostram a influência dos árabes e normandos, que levaram os primeiros chefs notáveis à região da Itália. Essas influências ajudaram a moldar o que hoje se conhece como culinária italiana, adicionando itens como: batatas, tomates, pimenta e milho.
No século XVIII a maior parte da Itália era governada pela França, Espanha e Áustria. Foi no início deste mesmo século que livros de culinária italiana começaram a ser escritos e distribuídos, para que os chefs espalhados pelas regiões da Itália pudessem mostrar seu orgulho pelo país.
Segundo Cristina Arce, gourmet estudiosa sobre o tema e especialista na gatronomia italiana, sua terra natal, a história mostra que, de maneira absoluta, a culinária italiana nunca existiu. "Divisões políticas bem definidas durante séculos, centenas de regiões, todas com gastronomias e hábitos culinários muitíssimo diferentes, influenciaram e contribuíram para fazer da "Cucina do Bel Paese" provavelmente a mais rica de todas as cozinhas ocidentais", explica a especialista em sua coluna Cozinha Italiana no Correio Gourmand.
História à parte, a cozinha italiana tem várias características específicas, conhecidas mundialmente. No entanto, dentro da própria Itália, a culinária não só é regional, como também sazonal. As regiões têm características próprias que as diferenciam umas das outras. Utilizam diferentes ingredientes, receitas e até modos de preparo.
Cristina Arce conta que apenas um ingrediente está presente nas cozinhas de todo o país, o azeite de oliva. "Sem o azeite de oliva não há cozinha italiana. Pode ser uma cópia, ou como se diz hoje, uma releitura. Mas cozinha italiana verdadeira, só com o azeite de oliva. Ele seria o quarto símbolo da tradicional trilogia dos ícones da Tavola Italiana - Vino, Panne e Sale", esclarece.
Embora exista a equivocada idéia de que, fora de pizza e pasta, não se encontra muito mais, o certo é que a gastronomia italiana oferece uma grande riqueza de sabores e aromas.
Herança italiana no Brasil
Nos primeiras décadas que sucederam o início da imigração italiana no Brasil, que começou por volta de 1870, a vida social das colônias girava em torno da capela. Ao seu lado surgia um campo de bocha, uma bodega (onde se jogava a "mora"). Também se faziam visitas aos colonos mais próximos, à noite, após o trabalho. Nessas ocasiões, os visitantes eram recebidos com vinho, pinhões cozidos ou pipocas.
Mas a grande ocasião de festa estava mesmo associada à capela. Era a "sagra", festa do santo padroeiro da capela, que era anunciada para a vizinhança, por meio de foguetes disparados um dia antes de sua realização. Assim, os moradores das outras "linhas" sabiam que haveria uma grande festa. Para ela, todos contribuíam, cedendo seu vinho, seu trigo, ou preparando os pratos típicos da cozinha italiana.
O ponto alto da festa era a missa solene. Depois da missa, fazia-se a procissão, em honra ao santo padroeiro, seguida de almoço comunitário e, à tarde, de jogos e diversões.
Contrastando com a fartura presente nas safras, a vida do dia-a-dia do colono era frugal. Como a família era a base da produção, as crianças tinham de trabalhar muito cedo - situação que, no interior, se mantém até hoje. O estudo não era valorizado, pois "não ganhava o pão", bastante escasso no dia-a-dia. A alimentação cotidiana era extremamente modesta, baseada na polenta, sopas, salame e pão. Apenas nos dias de festa é que se faziam os "galetos al primo canto, pizzas, nhoques, lasanhas, cappelettis e rondellis", que atualmente são definidos como comida típica italiana.
Rio Grande do Sul
Vários Estados brasileiros incorporaram a cultura e a culinária italianas, entre eles São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde os imigrantes transformaram a serra gaúcha num pedacinho da Itália. A cidade de Antônio Prado tem o maior acervo da arquitetura colonial italiana no Brasil: 48 casas tombadas pelo patrimônio histórico e artístico nacional.
Com a mesma presteza com que construíram suas igrejas, os italianos trataram de plantar seus parreirais e, hoje, muitas das primeiras parreiras plantadas ainda estão de pé, como na linha Leopoldina, em Bento Gonçalves, onde é possível encontrar parreiras que têm mais de 110 anos, e que continuam produzindo.
A hospitalidade da região é outra herança italiana, coroada por uma gastronomia farta. Em vários restaurantes de Caxias do Sul, saboreia-se o tradicional capeletti ou "chapéus", em bom português.
Além das massas, os italianos trouxeram, como acompanhamento principal das refeições, o vinho, que fabricavam nos porões de suas casas, onde também guardavam alimentos perecíveis (salame, banha de porco, vinagre etc.).
Na zona rural de Bento Gonçalves está o roteiro que atrai visitantes de todo o mundo: o caminho das pedras. São 26 paradas ao longo da mesma estrada, num lugar chamado Colônia São Pedro. A pedra que estava no quintal foi a matéria-prima mais barata encontrada pelos italianos para erguer as paredes.
Na serra gaúcha, ainda hoje, muitas famílias vivem da produção da uva. A colheita acontece entre os meses de dezembro e fevereiro. Dentro das cantinas, pode-se provar o vinho da colônia produzido há quatro gerações. (Com informações do Ristorante e Pizzaria Famiglia Reis Magos, Correio Gourmand, Mercado Gastronômico, Portal Itália)
Confira também