A 63ª edição da ExpoLondrina chega ao fim neste domingo (13) e mais uma vez reforçou o posto de maior feira agropecuária da América Latina. Mas de onde vem todo esse sucesso? O Portal Bonde conheceu, nesta sexta-feira (11), as pessoas que trabalharam por décadas para ajudar o evento a alcançar o reconhecimento internacional que tem hoje.
Entre elas está Dilso Salomão, 71, o popular “Xuxa”, dono de uma padaria itinerante que participa da ExpoLondrina há 47 anos. Para ele, é um orgulho trabalhar na feira, pois o auge do evento e o de sua padaria foram construídos em coparticipação. Nascido na Vila Casoni, no Centro de Londrina, ele chegou à feira em 1978, quando tudo ainda era improvisado e sem a estrutura atual.
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“Londrina era tudo mato. Aqui só funcionava daquela arquibancada para lá [aponta]. Eu trabalhava com uma Kombi. Tinha uma padaria na cidade, pegava o pão e trazia. Não dava conta de ir lá e voltar. Ficava todo mundo sem pão”, relembra.
As dificuldades no início foram combustível para uma ideia que revolucionou o seu negócio, o que foi bem visto pela administração da ExpoLondrina. “Eu tive a ideia de fazer uma panificadora dentro da festa e, graças a Deus, está aqui até hoje”, diz, enquanto mostra a estrutura montada em frente à arena de shows, com fornos, cilindros e confeitaria funcionando a todo vapor.
No início, a concorrência era acirrada, mas a sua ideia inovadora fez com que o espaço para outros negócios do ramo ficasse pequeno. “Havia várias padarias. Era uma loucura. Kombi subindo, Kombi descendo. A gente chegava na padaria e não podia entrar. Foi difícil no começo, não foi fácil chegar onde estou hoje. Graças ao conhecimento que eu conquistei ao longo do tempo, hoje não tenho concorrentes.”
A produção, que já foi feita com a ajuda dos filhos, atualmente é tocada com uma equipe enxuta: seis padeiros, uma confeiteira, uma chapeira e mais seis atendentes. “Quando eu comecei era só eu e meus filhos. Eles viraram padeiros, mas seguiram suas vidas. Hoje só tem minha filha comigo, que fica no balcão.”
E a demanda é intensa: são cerca de 10 mil pães por dia, com picos maiores dependendo dos shows. Para atender clientes e outras barracas de lanche, ele e os padeiros trabalham quase em tempo integral para não deixar ninguém sem o famoso pão do Xuxa.
“Todo mundo pega pão daqui. Por exemplo, uma lanchonete pede mil pães e eu entrego de manhã para ela. Por volta das 22h, elas correm aqui de novo e o pão sai na hora. Se não tivesse a padaria, fechariam a barraca e iriam embora”, afirma, destacando que ele e os padeiros dormem no local e ficam por lá durante os 10 dias de feira.
Uma vida inteira de dedicação
A aposentada Leice Teixeira, 84, é uma das figuras mais longevas da ExpoLondrina. São 53 anos de participação no evento, sendo 43 deles dedicados ao setor administrativo da SRP (Sociedade Rural do Paraná), onde ela chegou a criar a logomarca da entidade.
“Passei os melhores anos da minha vida aqui. O corpo está fraco, mas a minha mente está muito boa. Esse trabalho não é para qualquer um, por isso agradeço a Deus pela saúde que tenho hoje. E eu amo o que eu faço, gosto de fazer bem feito. Quando você gosta do que faz é assim”, destaca.
Sem formação superior, Teixeira começou como secretária da diretoria por 8 anos, até ser convidada a atuar diretamente na administração da feira, em 1983. Desde então, acompanhou transformações profundas na estrutura e na gestão do evento. “Muita coisa mudou nesse período. A gente teve que se adaptar. Quando chegou a tecnologia, foi muito bom, porque antigamente a gente contava ingressos de papel e era muito difícil”, lembra.
Mesmo aposentada, ela continua trabalhando por amor ao que faz. Teixeira também atuou em outras grandes feiras, como a ExpoIngá e em outros municípios, sempre reconhecida por sua competência e dedicação. “Muitos passaram, foram embora e chegaram novos. Fui aprendendo e evoluindo junto com o trabalho.”
Pipoca na mão, sorriso no rosto
Maria Luiza Guedes, 69, moradora do Jardim Santo Amaro em Cambé (Região Metropolitana de Londrina), trabalha há cerca de 15 anos na ExpoLondrina. Já passou por diversos setores do parque, começou como monitora de brinquedos e depois atuou na bilheteria, vendendo ingressos. Neste ano, pela primeira vez, assumiu a barraca de pipocas, mesmo após ter feito uma cirurgia recente no braço.
“Eu gosto porque me distraio vendo o pessoal andando. Eu sou viúva e se eu fico muito em casa, fico muito triste de ficar sozinha. É uma distração ver o povo andando e passeando com os filhos”, conta.
Ela assumiu a venda de pipocas a convite de uma amiga que, por muitos anos, trabalhou no parque, mas que não pôde continuar por conta da idade. Desde então, Guedes se mantém ativa e querida pelos colegas. “A dona gosta muito de mim, porque o pessoal mais novo não tem responsabilidade. E para mim está sendo uma experiência nova, porque não sabia fazer pipoca doce e aprendi.”
Mesmo com os desafios físicos e tecnológicos, ela não pretende parar. O plano é voltar à bilheteria e, se necessário, aprender a usar as novas ferramentas. “Pretendo continuar até quando Deus quiser”, almeja.
Trabalho de gerações
Com 64 anos de idade, Geraldo Crespo de Freitas participa da ExpoLondrina desde 1984, quando ainda tinha a companhia do seu pai, o criador da Stamger Selas, tradicional loja de Santo Antônio da Platina, fundada em 1961 e especializada em artigos rurais como selas, botas e chapéus.
“Espero o ano todo pela Expo. Ajuda bastante a nossa loja, porque o movimento está muito bom, por mais que lá seja o nosso ponto fixo. Trouxe tudo com a ajuda do meu filho”, afirma.
A barraca já passou por diferentes áreas do parque. Em três décadas, Freitas viu a feira agropecuária evoluir. “A estrutura era bem diferente no começo. Era só terra, não tinha asfalto, tudo muito rústico”, relembra.
Além dos clientes do setor agropecuário, muitos dos compradores estão em busca de se vestir no estilo country para curtir o evento. “É um negócio de família, a loja tem 64 anos. Inclusive, a nossa loja já fez 260 selas para a cavalaria do Paraná. É um trabalho que tenho muito orgulho, porque mantenho o legado do meu pai. Ele faleceu em 1999.”
Geraldo pretende seguir participando da ExpoLondrina pelos próximos anos e espera que o filho continue tocando o negócio. “Quero que ele siga esse caminho para que o negócio continue vivo.”