Cascavel (Oeste) sediou, entre os dias 16 e 20 de novembro, a 11ª edição do Campeonato Pan-Americano de Kickboxing, que reuniu atletas de 19 países, competindo em diversas modalidades do esporte. Três lutadores de Londrina foram destaque na competição. David Silveira, Ângelo Cantizani e Matheus Rodrigues subiram ao primeiro lugar do pódio sem nenhum patrocínio de órgãos públicos.
Paulo Zorello, presidente da CBKB e Wako Panam (Confederação Pan Americana de Kickboxing) e vice-presidente da Wako (World Association of Kickboxing Organizations - Associação Mundial de Organizações de Kickboxing) destacou que esse foi o maior Pan-Americano da história. De acordo com Zorello, todos os recordes de inscrições foram batidos. Foram mais de mil. Além da participação de 19 países pela primeira vez em um campeonato Pan-Americano.
Sendo a primeira vez que ganhou o título (modalidade Low Kicks até 60 kg), Ângelo Cantizani explica que o resultado não foi por acaso e muito menos por sorte. "Este foi o ano em que tornei as competições a minha prioridade e sinto que evoluí muito ao longo dos meses, treinando duas ou três vezes por dia, de segunda a sábado, entre preparação física e técnicas voltadas para o kickboxing, e seguindo uma dieta com muita disciplina. Os esforços se compensaram em ótimos resultados nas maiores competições do ano, me consagrando campeão das copas Paraná e Brasil e, agora, do Campeonato Pan-Americano, o maior que já participei", conta.
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Ele ainda deixa claro que a sua medalha só foi conquistada por meio do seu esforço próprio e de amigos empresários, que se juntaram para conseguir o dinheiro que supriu os gastos da viagem do atleta. "A nossa principal dificuldade é, sem dúvidas, a falta de apoio financeiro por patrocinadores ou por bolsa atleta de kickboxing, que, atualmente, em Londrina só tem vaga para um atleta da modalidade. Sendo assim, foi fundamental a mobilização de pequenos auxílios pelos profissionais liberais e pequenos empresários que me ajudaram com o que puderam para reduzir em alguma proporção os custos da minha preparação e viagem, entre equipamentos, suplementação, estrutura e instrução para treinar, hospedagem, inscrição no evento e alimentação na viagem. Os custos acabam se elevando e, muitas vezes, nos colocando em posição de incerteza sobre a participação nas próximas competições", lamenta.
Cantizani ainda relembra que a luta não foi fácil, já que enfrentou um competidor mais experiente. "Fiz uma luta dura contra um brasileiro mais experiente e resistente na final da minha categoria, mas graças à minha preparação, e ao meu treinador David Silveira, consegui executar a estratégia que elaboramos e sair com a vitória!", encerra, agradecendo o dono da academia Fábrica de Campeões, onde treina e trabalha.
Vindo do taekwondo, Matheus Rodrigues pratica kickboxing há apenas seis meses e, mesmo assim, desempenhou uma boa performance no campeonato, acumulando em seu currículo outras conquistas, tais como as copas do Paraná e do Brasil. O atleta ressalta que os treinos foram intensos até a chegada do Pan-Americano. "Comecei a preparação com as copas. Desde então, vinha treinando firme. As lutas foram todas difíceis. Encontrei adversários com bastante técnica. Quero deixar o agradecimento à Academia Pé Vermelho, do Carlos, por acreditar e incentivar", diz, demonstrando gratidão ao local que lhe presta apoio nos treinamentos. Matheus levou o ouro no Pan na modalidade Point Fighting até 79kg.
O proprietário da academia onde Rodrigues treina acredita que o atleta terá ainda mais destaque futuramente. "O Matheus tem um talento nato pelo biotipo dele. Destaque nas modalidades de luta em pé, em especial aquelas que trabalham em longa distância como o próprio Point Fighting que ele já é campeão. A gente vai trabalhar com ele visando isso, trabalhar fortalecimento, para a gente focar em eventos maiores, para surpreender ainda mais adversários", projeta Carlos Roberto Júnior.
Mestre dos campeões
Tanto Cantizani quanto Rodrigues concordam que a inspiração e a preparação para as vitórias vieram do mestre David Silveira, que é lutador de kickboxing há mais de 20 anos. Os jovens atletas são treinados na academia de Silveira, Fábrica de Campeões. Mesmo sendo dez vezes campeão brasileiro, 12 vezes paranaense, 3 vezes sul-americano e, agora, três vezes pan-americano, o atleta ainda encontra dificuldades em conseguir apoio na busca pelo único título que lhe falta, o mundial.
"Eu tenho o mundial ano que vem que eu tô classificado. Este ano eu já estava classificado, mas eu não fui porque eu não tinha dinheiro e incentivo do Estado. Nós vamos contratar uma empresa do nosso bolso para tentar entrar com essa bolsa atleta. Se a gente conseguir essa ajuda do governo federal, aí nós vamos conseguir muito mais medalhas para Londrina. Eu já vou começar a vender pizza, vou começar a vender camiseta, começar a vender rifa, pois é o único título que eu não tenho", conta.
Silveira ainda destaca as dificuldades para conseguir alcançar mais um resultado sem contar com o apoio de órgãos públicos e reforça a importância de pessoas próximas que investem na sua habilidade e de sua equipe.
"Eu e o Ângelo Cantizani, até este ano, não tivemos o apoio de ninguém. Nossos patrocinadores são o nosso trabalho, os nossos pais e mães, os nossos alunos comprando rifa, um equipamento aqui e ali que a gente vende... Graças a Deus a gente tem amigos que acreditam no nosso trabalho, como o doutor Frederico Viana Reis, o Fred do Jiu-Jitsu, que pagou sozinho a minha inscrição, R$ 960,00. Com certeza sem o Fred eu não iria para esse campeonato. O Bruno Henrique, dono da Worship do shopping, deu dois pares de tênis para o Ângelo para ele vender ou rifar para pagar a inscrição dele. O Fábio Calado Bueno que sempre nos ajuda. A médica Mariani Garcia que sempre nos dá muita força na equipe. São pessoas que nos ajudam muito", diz.
As dificuldades se estenderam também à viagem. Com pouco dinheiro, os atletas tiveram que se adequar às poucas alternativas que tinham e economizar o que tinham. "A
gente teve que fazer tudo isso para ir viajar. Fomos de ônibus. Sete
horas para ir, sete horas para voltar e lá a gente andou de Uber ou a pé
para economizar dinheiro até para comer, porque infelizmente a nossa
prefeitura, nossos supostos vereadores em prol do esporte olham só para
atletas e alunos da modalidade deles. Vamos tentar mudar isso", relembra David Silveira.
Preparação e novos desafios
Como já dito, Silveira - assim como Rodrigues e Cantizani - já tem vaga garantida no mundial de kickboxing. Além de uma nova batalha para conseguir recursos, o atleta já sabe como se preparar para trazer a Londrina o único título que lhe falta. No entanto, ele analisa que as coisas não vão ser fáceis, devido às responsabilidades que só aumentaram com o tempo, experiência já sentida nas preparações para o pan-americano.
"Minha preparação foi bem intensa, porque, ao contrário dos dois últimos pan-americanos que eu era bem mais jovem, eu tinha menos problemas e coisas para resolver. Eu tive que conciliar toda a minha rotina diária com a minha preparação, tanto na musculação, quanto na parte da luta. Eu já tenho experiência, então eu já sabia o que tinha que fazer e fiz", conta.
Sobre como vão ser os treinos em sua academia com o novo desafio que se aproxima, ele dá um recado: "A preparação de todos os atletas vai ser igual. Não interessa se ele vai para o paranaense ou para o mundial, a preparação vai ser igual, porque a gente vai para ganhar títulos. O treino vai ser em conjunto. Todo sábado o treino vai ser em conjunto. Todo o pessoal das academias parceiras. Não importa se o treino será na matriz, se será no Carlos ou em Florestópolis. Preparem-se, pois juntos nós conseguimos evoluir", encerra.