A pouco mais de cinco meses da data prevista para a cerimônia de abertura da Olimpíada de Tóquio, em 23 de julho, seus organizadores começaram a divulgar diretrizes sobre como realizar os Jogos durante a pandemia de Covid-19.
Até então, o comitê de organização local e o COI (Comitê Olímpico Internacional) sustentavam que o megaevento, adiado de 2020 para 2021, acontecerá na nova data marcada, sem no entanto falar abertamente sobre protocolos sanitários, orientações e regras que os milhares de participantes precisarão cumprir no Japão.
Os chamados playbooks, guias divulgados nas últimas semanas com informações voltadas para atletas, oficiais de delegação e imprensa, são apenas o primeiro esboço. Apesar de os documentos ainda deixarem muitas dúvidas em aberto, o lançamento deles foi comemorado por comitês nacionais.
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"Permite seguir em frente, finalizar contratações, orientar equipes para os planos de treinamento no Japão. Todos sabem que [os guias] vão sofrer adequações. Temos em mente que até abril teremos o grosso das informações elaboradas. A partir daí vai ter um apuro fino conforme as regras do Japão avançarem até a data dos Jogos", diz o diretor de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Jorge Bichara.
O dirigente prega paciência, serenidade e flexibilidade para encarar a edição olímpica mais desafiadora da história, com regras que poderão mudar a todo tempo. Basta ver o exemplo do torneio de tênis Australian Open, que na semana passada precisou mandar o público para casa em meio à rodada após a decretação de um lockdown pelo governo de Victoria, onde fica Melbourne.
Os guias divulgados têm algumas orientações mais gerais e conhecidas, relacionadas a higiene, uso de máscaras, distanciamento social e testagem. Um dos pontos que exigirá muita atenção dos envolvidos no evento será a circulação restrita no país, com pouca margem para deixar o circuito entre hospedagem e locais de competição. Visitas a pontos turísticos, restaurantes e lojas serão vetados.
"Tem uma série de situações do dia a dia que ainda permitem diversas interpretações. Você está proibido de sair da vila ou é recomendado? Existe punição, de qual tipo? A gente tem responsabilidade com a equipe brasileira, mas vai conviver com nações que podem ser mais rígidas ou menos rígidas. Como será esse trato?", questiona Bichara.
Para ter controle sobre uma delegação de 250 a 300 atletas, além de centenas de outros integrantes, o COB também criará seus próprios protocolos.
As preocupações vão desde orientar o preenchimento correto de um aplicativo de uso obrigatório para visitantes no Japão até montar um histórico detalhado sobre a saúde de cada atleta. Não só saber quem já teve Covid-19, mas quando e qual foi a resposta imunológica daquela pessoa ao vírus.
O diretor entende que um dos pontos que precisará ser detalhado e discutido entre os comitês é como tratar a possibilidade de alguém receber diagnóstico da doença por causa de fragmentos de coronavírus referentes a infecções antigas. Os guias não abordam essa questão e preveem isolamento de 14 dias em caso de testes positivos.
"Precisamos ter argumentos e base científica para entrar nessas discussões. Queremos ter mais segurança na argumentação para poder pedir, por exemplo, a liberação de um atleta que tem restos virais e não apresenta risco de transmiti-lo", afirma Bichara.
Para lidar com todos esses assuntos, o COB já trabalha com infectologistas em sua equipe e planeja ter no Japão uma equipe médica dedicada apenas aos temas relacionados à Covid-19, separada do corpo de profissionais habituais especializados em outras áreas.
O comitê também discute revisões no planejamento para as nove bases com quem firmou contrato há anos para períodos de aclimatação, hospedagem e treinamento no Japão: Chiba, Enoshima, Hamamatsu, Sagamihara, Miyagase, Saitama, Ota, Koto e Chuo.
"O que nos preocupa é a interação com a população local. Os contratos foram negociados com visitas de escolas aos centros de treinamentos das equipes, por exemplo. Os prestadores de serviços locais estarão circulando pela cidade, no transporte público. Vamos negociar com as cidades protocolos específicos para atender às expectativas deles e nossas", diz o diretor.
O Mundial masculino de handebol, realizado em janeiro no Egito, foi a primeira competição coletiva desse porte desde o início da pandemia.
O Brasil, que se preparava em Portugal para o torneio com suporte do COB, registrou testes positivos de três atletas e cinco membros da comissão técnica antes do embarque para o país africano. Outras três seleções tiveram que abandonar o campeonato, uma delas já em meio à disputa.
São situações que assustam se transportadas para as dimensões de uma preparação olímpica e reforçam o alerta de Bichara. "Não buscamos ter planejamento fechado. Ele é dinâmico e precisa ser, em virtude de todas as mudanças. Ter os atletas no máximo do seu desempenho esportivo diante de tantas incertezas e restrições fazem esse final de ciclo olímpico o mais desafiador da história."