A Olimpíada de Tóquio tem como uma de suas principais bandeiras a sustentabilidade. O novo Estádio Olímpico, por exemplo, foi projetado para aproveitar o ar exterior como forma de resfriar o seu interior. Já as medalhas foram confeccionadas com material reciclável, e as camas da vila dos atletas têm base de papelão.
Essa preocupação está presente também no piso sintético do hóquei sobre a grama, que é renovável, feito a partir de um plástico brasileiro.
Segundo a empresa Braskem, fornecedora da matéria-prima para a alemã Polytan (que é quem elabora o produto final e tem contrato com o Comitê Olímpico Internacional), o produto nacional tem como base a cana-de-açúcar, em vez de petróleo, e possui pegada de carbono neutra.
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O plástico reciclável corresponde a 60% de todos os materiais usados no gramado (que também tem enchimentos e camadas de amortecimento), inclusive nas folhas da grama, que são azuis.
"Em cada etapa da cadeia, se mede o quanto é emitido [de poluentes] e o quanto é absorvido. A fotossíntese da cana-de-açúcar absorve CO2. Então, apesar de ter emissão [durante o processo], há mais captura", explica Martin Clemesha, gerente de economia circular na Europa e Ásia da Braskem.
A cadeia de produção do "plástico verde" é similar à do plástico feito do petróleo. A diferença está na fonte, a cana.
O processo começa em plantações no Sudeste do Brasil, onde a planta é colhida e dela é extraído o etanol, que contém o etileno, com o qual é feito o polietileno. Depois, na região Sul, este é transformado num granulado plástico.
O granulado é exportado em sacos para a Europa, onde é feita a grama que será usada nos Jogos.
Enquanto a produção de uma tonelada de polietileno a partir da fonte fóssil libera, em toda sua cadeia, 1,9 tonelada de CO2 -de acordo com a Plastics Europe (associação de produtores de plástico)-, a mesma quantidade de polietileno, quando feito da cana-de-açúcar, absorve 2,7 toneladas de CO2, por meio da fotossíntese da planta.
No Brasil, atualmente, há cerca de 330 milhões de hectares de terras aráveis. Por volta de 1% deles é usado na plantação de cana-de-açúcar (a enorme maioria, na região centro-sul), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Para a Olimpíada de 2020, o comitê organizador assinou um compromisso com a ONU (Organização das Nações Unidas), no qual atesta a intenção de seguir a Agenda 2030, uma série de diretrizes criadas pelo órgão internacional, com metas para ajudar, dentre outras coisas, no combate ao aquecimento global e na preservação do meio ambiente.
O ramo esportivo ainda está longe de ser o principal para o uso dos derivados da cana-de-açúcar. Mesmo assim, a bola da Copa do Mundo de 2018 teve o elastano, material produzido também a partir do etanol, oriundo de fonte renovável da empresa brasileira.
Já o granulado de polietileno usado para o gramado de hóquei também pode ser transformado em embalagens, utensílios domésticos e rolhas sintéticas, por exemplo.
Segundo a Polytan, não foi só a sustentabilidade que convenceu o COI a escolher a empresa.
A grama do hóquei também retém menos o calor, algo importante se consideradas as altas temperaturas do verão japonês, que no ano passado contribuíram para a morte de pelo menos 116 pessoas. O tapete também seria mais durável, segundo os fabricantes.
Estádios de futebol de Canadá, Finlândia, Itália, Suíça e Chile também têm a grama fornecida pela empresa alemã, porém não partir da matéria-prima brasileira, presente, por enquanto, em apenas duas arenas alemãs.
A empresa também trabalha com outras modalidades, como rúgbi e tênis, além de produzir pistas de corrida e pisos para prática recreativa de esportes.