Em homenagem às mulheres, o Portal Bonde selecionou mulheres que se destacam em suas atividades para a série Mulheres Reais. Ao longo de março, a equipe do Bonde apresenta as histórias incríveis dessas batalhadoras que atuam em diversos segmentos da sociedade e fazem a diferença.
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Para quem pensa que esporte radical é coisa de homem está muito enganado. As mulheres têm ocupado espaços nos esportes radicais e o BMX não ficou fora dessa. O esporte, que surgiu graças à admiração de jovens norte-americanos pelo motocross, também é conhecido como bicicross. As bicicletas usadas pelos competidores de BMX possuem rodas com aro 20", marcha e freio. Os atletas precisam passar por curvas e rampas em alta velocidade até cruzar a linha de chegada. A modalidade fez sua primeira aparição olímpica nos Jogos de Pequim-2008, com disputas tanto no masculino quanto no feminino.
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Acompanhe a história de quatro atletas de BMX:
Júlia Alves dos Santos
A primeira vitória da londrinense Júlia Alves dos Santos, 23, no BMX, veio quando ela tinha sete anos, apenas uma semana depois dela conhecer e praticar o esporte. O gosto por bicicletas é de família. Seu avô tinha uma bicicletaria e seu pai também trabalhava com bikes. O apoio do pai sempre esteve presente, seja no primeiro contato com o esporte e na melhora nos equipamentos para a prática. Um ano após conhecer o BMX, Júlia ficou em 6° lugar em um campeonato mundial.
O que começou como uma simples brincadeira com o pai se tornou a profissão de Júlia. "O BMX é o esporte que eu amo, eu vivo para isso" contou a atleta. Hoje, ela ocupa o 3° lugar no ranking brasileiro e as conquistas vieram com muito suor. Além da academia, Júlia treina com a bike duas vezes por dia, de segunda à sábado, com a ajuda de seu treinador, que atualmente está na França. Cada treino leva em média três horas e é intercalado entre a pista de BMX e rua.
Depois de 14 anos no esporte, Júlia compete profissionalmente na categoria elite woman, na modalidade BMX racing. O racing consiste em uma corrida por largada dividida em baterias, cada uma com oito atletas. Quem completar as voltas em menor tempo ganha. A atleta já viajou para vários países para competir. A participação mais significativa aconteceu no Azerbaijão em 2018. Apesar de ter se machucado, Júlia foi a 14ª colocada no mundial. Este ano, Julia está de olho em uma vaga para as Olimpíadas. "Vou tentar participar de todas as competições para conseguir pontos".
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Apesar das conquistas, seguir no BMX ainda é um caminho difícil. "O patrocínio é bem complicado, por ser individual e não ter tanta visibilidade". Segundo Júlia, outro problema dentro do esporte é o preconceito. "Mulher sofre mais por praticar um esporte tido como 'masculino', sempre tem uma discriminação, mas dentro do esporte a galera gosta de ver menina andando, tem um incentivo" contou Júlia.
Stéfany Aparecida Brazão
Toda pista de BMX possui uma rampa de largada com oito metros de altura, chamada de supercross. Stéfany Aparecida Brazão, de apenas 11 anos, impressiona ao descer uma rampa deste porte em cima de uma bicicleta. Para ela, no entanto, a altura não é problema. "Pessoal pergunta se eu tenho medo e eu digo não, não tenho". A jovem esportista começou no BMX quando tinha somente dois anos. O interesse surgiu ao observar o pai, que dava aulas de BMX em uma pista de Londrina. Desde pequena, Stéfany teve o incentivo e ajuda do pai no esporte. "No começo a bicicleta dela tinha rodinhas, eu corria atrás dela a pista toda" contou o pai, rindo.
Mesmo sendo difícil conseguir patrocínios grandes, o pai de Stéfany apoia a filha no esporte. Ele construiu uma pista de BMX no quintal de sua chácara em Londrina para que a filha possa praticar todos os dias. De acordo com ele, a pista foi construída para aprimorar técnicas do esporte. Durante a semana, ela treina em casa e, aos fins de semana, treina na pista do autódromo.
O BMX possibilitou que a atleta descobrisse outros lugares e culturas. "Conheci praticamente o Brasil todo. Em 2016 e 2018 eu fui para a Colômbia" contou. Na ocasião, Stéfany ficou em 11° lugar no mundial. Mesmo tendo se machucado na competição, ela chegou até às semifinais. Stéfany já foi oito vezes campeã paranaense no BMX, duas vezes vice-campeã paranaense no downhill e duas no ciclismo de estrada.
Mesmo com tão pouca idade, a pequena esportista já enfrenta o preconceito por ser mulher. Apesar de ter tido várias conquistas, de acordo com o pai, ela passou por situações de discriminação dentro e fora do esporte. "Ela é bem perseguida pelos meninos desde que ela começou a andar. Já aconteceu dela ser derrubada, muitas vezes falam que ela não é capaz de ganhar ou acertar algo porque ela é menina". Isso acontece pois, muitas vezes, Stéfany precisa competir junto com meninos por falta de outras atletas meninas de sua idade. Entretanto, Stéfany não desanima. "O trabalho que a gente faz é para ela competir, mas acima de tudo se divertir", declarou o pai.
Thaynara Morosini Chaves
"Lugar de mulher não é aqui, se não aguenta tomar 'braçada' corre só com as meninas''. Isso foi o que Thaynara Morosini Chaves, 25, ouviu de um menino em uma competição de BMX racing que participou quando tinha 15 anos. Por não ter muitas atletas mulheres, ela competia junto com os meninos e com o preconceito. Thaynara fez da discriminação uma motivação para seguir carreira como atleta. "Quando isso acontecia me dava mais vontade de treinar e competir com eles para mostrar que não era assim que funcionava. Não é só porque ele é homem e tem mais força que ele pode fazer o que quiser" contou Thaynara.
A atleta conseguiu ser a 4ª colocada no mundial em 2011 na Dinamarca, campeã sul-americana e latino americana, participou do evento teste das Olimpíadas de Londres e no Rio de Janeiro e chegou à semifinal na junior woman. Essas foram algumas das conquistas dela competindo no BMX racing.
Moradora de Patrocínio (MG), Thaynara não mediu esforços para as vitórias. Desde que começou no esporte, aos seis anos, ela descansava dos treinos em apenas um dia da semana. A atleta da categoria elite woman costumava treinar cerca de sete horas por dia alternando entre rua, pista, academia e funcional. "O atleta de alto rendimento tem que ter um condicionamento físico muito bom. No caso do BMX, tem que ser forte, tem que ter explosão" afirmou Thaynara.
Apesar de ainda ser muito difícil para muitos atletas, Thaynara conseguiu bons patrocínios quando levava o esporte profissionalmente. Ela já teve apoio de uma empresa, entrou para a seleção, além do incentivo de academias e clínicas de alta performance. "Embora eu tenha tido esses patrocínios, infelizmente é muito difícil um atleta de alto nível conseguir um patrocínio no Brasil, tem que correr muito atrás".
Hoje em dia, o BMX não é mais a profissão de Thaynara. Depois de ter sofrido um acidente de bike em 2014, a atleta escolheu trabalhar e cursar agronomia. Apesar de não ser o foco de Thaynara, o BMX não saiu completamente de sua vida. "Vou competindo por bolsa atleta e para continuar fazendo o que eu gosto, porque o BMX é o meu estilo de vida" contou a mineira.
Maite Naves Barreto
Maite Naves Barreto, 20, começou no BMX aos cinco anos. A moradora de Paulínia (SP) conheceu e passou a praticar o esporte por influência de seu irmão mais velho depois de acompanhar ele nos treinos e nas corridas. "Ele me levou em um treino e me apaixonei. Estou há 15 anos andando de bike".
Atleta da categoria elite woman na modalidade BMX racing, Maite normalmente participa de campeonatos regionais, paulista, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Jogos Pan-Americanos, Latino Americano e mundiais. No BMX racing, o atleta que somar menos pontos vence, ou seja, o primeiro lugar somo um ponto, segundo soma dois, terceiro três e assim vai.
Maite conta que sempre teve muito apoio dentro do esporte. "Por ser mulher, no meu caso, eu nunca tive problemas, todos meus amigos e família sempre me apoiaram e sempre acharam legal e diferente uma mulher no esporte".
Os intensos treinos de bike e academia prepararam Maite para diversas conquistas dentro do esporte. Ela foi campeã mundial em 2012, vice campeã mundial em 2011 e 2013, alcançou nove premiações como campeã brasileira, 14 vezes campeã paulista e regional. Além disso, soma oito vitórias nos Latino e Pan-Americanos.
*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.