Desde que a F-1 entrou na era dos motores híbridos em 2014, a Mercedes construiu uma hegemonia quase inabalável. Foram sete títulos de pilotos - seis de Lewis Hamilton e um de Nico Rosberg –, além de oito de construtores, em uma série que fez a equipe superar um recorde histórico da Ferrari, campeã seis vezes de forma consecutiva entre 1999 e 2004.
Pela primeira vez, no entanto, esse domínio pode estar com os dias contados. A equipe alemã apresentou nesta sexta-feira (18) o W-13, modelo concebido já sob o novo regulamento da F-1, que prevê uma série de mudanças nos carros, as mais pro fundas desde o início da fase de ouro da escuderia.
A principal delas é a volta do "efeito solo", responsável por acelerar o ar que passa por baixo do carro para que haja mais aderência e velocidade. O chassi foi bastante modificado, como o formato do bico e da asa traseira, com desenhos projetados para reduzir a turbulência entre veículos, de forma a facilitar uma maior aproximação entre eles nas pistas. As novas rodas, de 18 polegadas, também chamam a atenção.
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Antes da Mercedes, outras sete equipes apresentaram seus veículos, incluindo a Red Bull, com o modelo RB18, com o qual Max Verstappen vai defender seu título - Haas, Aston Martin, McLaren, Williams, Ferrari e Alpha Tauri são os times que já revelaram seus carros. Faltam Alpine e Alfa Romeo fazerem o mesmo.
A escuderia do holandês, porém, optou por não revelar muitos detalhes, em uma apresentação realizada num cenário escuro, escondendo aspectos importantes do carro. O próprio chefe da escuderia, Christian Horner, admitiu que a versão "é um protótipo, que deverá ser bem diferente do que será levado à pista."
O mistério faz sentido em um esporte em que a disputa esportiva tem enorme dependência da evolução tecnológica. Daí o fato de que uma transformação como a prevista no regulamento a partir deste ano põe em dúvida o domínio da Mercedes.
"Eu imagino, dado que os carros serão tão novos e diferentes, que um ou dois carros do grid vão acabar sendo bem ruins e terão um ano terrivelmente doloroso", disse o diretor técnico da equipe alemã, James Alisson. "Imagino que todos nós, em certa medida, deixamos coisas passarem porque nós simplesmente não prevíamos", acrescentou.
Segundo James, o novo livro do regulamento tem o dobro de páginas da versão anterior e existe uma série de possibilidades que as equipes podem explorar. "Mas também, claro, existe perigo", alerta sobre o risco de uma interpretação equivocada do texto levar uma equipe a um erro na projeção do carro.
A dose de cautela dos profissionais faz sentido num esporte que movimenta bilhões de dólares ao longo de cada temporada. Mas não é de se esperar que, mesmo com as mudanças profundas, uma equipe do porte da Mercedes passe a andar no meio do grid. Além do histórico recente, o volume de investimento em relação aos rivais não indica isso.
Os alemães investiram pesado nos últimos anos para se manter na ponta, levando a F-1 a criar um teto de gastos justamente para diminuir o abismo entre as dez escuderias do grid. Neste ano, o limite é de U$ 142 milhões (R$ 734 milhões). Em 2021, esse valor foi de US$ 145 milhões (R$ 749 milhões).
Para Toto Wolff, chefe da Mercedes, a imposição do teto, além da redução no valor, trará um equilíbrio para a F1. Ele acredita que cinco ou seis equipes vão brigar por vitórias. "Não haverá mais uma equipe andando um segundo à frente das outras."
Desde 2014, a escuderia que ele comanda andou bem mais do que um segundo à frente dos adversários. E os números mostram isso. Nos últimos oito anos, o time alemão venceu 111 das 160 provas disputadas, além dos títulos de pilotos e construtores que conquistou.
Ao todo, a Mercedes já conquistou 124 vitórias ao longo de sua história na categoria, sendo a terceira que mais vezes teve um piloto cruzando a linha de chegada na frente, atrás apenas de Ferrari (238) e McLaren (183).
Mesmo na temporada passada, em que Max Verstappen venceu a disputa com Lewis Hamilton, a equipe do heptacampeão venceu o Mundial de Construtores e só não levou também o de pilotos novamente por causa do decisivo e polêmico GP de Abu Dhabi, em que o britânico acabou ultrapassado pelo holandês na volta final.
Ao anunciar o novo regulamento da F1, a categoria informou que as mudanças tinham como objetivo dar um equilíbrio maior às corridas. Depois de uma disputa tão acirrada como no último ano, é isso que todos os torcedores esperam, sobretudos aqueles das equipes acostumadas a vencer.