A F1 olhou no retrovisor e buscou nas décadas de 70 e 80 a inspiração para os carros da categoria a partir da temporada 2022. O campeonato mais extenso da história do Mundial, com 23 corridas, terá início no dia 20 de março, no GP do Bahrein, e será concluído em 20 de novembro, em Abu Dhabi.
O novo regulamento –previsto inicialmente para 2021, mas adiado por causa da pandemia– traz de volta o conceito do "carro asa". Projetado no formato de asas de avião invertidas, ele usa elementos do "efeito solo", responsável por acelerar o ar que passa por baixo do carro para que haja mais aderência e velocidade.
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A ideia é uma evolução da tecnologia utilizada pelos veículos da categoria até 1982, quando o "efeito solo" foi banido por questões de segurança. A preocupação se tornou menor com o passar das décadas justamente pela evolução dos itens de proteção aos pilotos, como o halo.
Não à toa, quando o carro conceito foi apresentado, o que mais chamou a atenção dos especialistas foi o assoalho, desenhado para criar mais "downforce" –a pressão aerodinâmica que mantém os carros presos à pista. Nos modelos utilizados até 2021, os carros perdiam "downforce" quando vinham atrás de um rival.
De acordo com estudos da própria F1, a perda era de 35% a uma distância de 20 metros entre os veículos, chegando a 46% a 10 metros. Com os novos carros, a perda de sustentação aerodinâmica para quem vem atrás é de 4% a 20 metros e 18% a 10 metros, facilitando a disputa por posições.
"Desenvolveram esse novo carro para podermos acompanhar os carros com mais proximidade. Eu espero que seja o melhor carro que a F1 já viu", disse o heptacampeão Lewis Hamilton, da Mercedes.
"O carro parece muito diferente do que estamos acostumados. O mais importante é que as corridas sejam melhores. Nós temos que conseguir acompanhar melhor o carro que está à nossa frente. Se conseguirmos fazer isso, ficarei encantado", afirmou o atual campeão, Max Verstappen, da Red Bull.
Para o público geral, o que mais chama a atenção são as novas linhas dos monopostos que serão guiados por Hamilton, Verstappen e os demais pilotos do grid. A superfície é visivelmente mais simples e possui menos apêndices aerodinâmicos, o que gera menos turbulência para quem busca ultrapassagens.
Além disso, a categoria terá rodas de 18 polegadas em vez das de 13, utilizadas no campeonato nas últimas décadas. A Pirelli, fornecedora oficial da categoria, afirma que a mudança busca uma abordagem mais moderna. Além da questão estética, o modelo tem uma "proximidade tecnológica do produto de carro de passeio".
De acordo com a fabricante, a principal mudança ocorreu nas paredes laterais dos pneus de perfil baixo –nomenclatura que indica a relação entre a altura e a largura, medidas em milímetros. Com o perfil baixo, o pneu terá menos flexão, diminuindo o impacto aerodinâmico.
As rodas terão, também, tampas para ajudar no desvio de fluxo de ar, o que aumenta a força descendente e contribui para a parte de aerodinâmica, além de diminuir a turbulência.
Diminuir o ar turbulento foi o principal objetivo, ainda, da mudança feita no desenho da asa dianteira, que é bem mais simples do que os modelos usados até 2021. A ideia do novo nariz do carro é gerar "downforce" mais consistente quando um veículo está logo atrás de outro, facilitando uma perseguição mais próxima.
O mesmo conceito está presente nas asas traseiras, projetadas para evitar que o carro de trás pegue o ar sujo. Graças a uma rampa difusora mais íngreme, logo abaixo da asa, o ar que sai do veículo que está à frente é mais limpo, causando menos turbulência para o seguinte.
Para Zak Brown, executivo da McLaren, será uma grande surpresa se todas essas mudanças não promoverem uma temporada com mais pilotos brigando por vitórias. "Eu ficarei surpreso se houver dominância", disse. Para ele, o pelotão de trás será mais homogêneo e ficará mais próximo das Mercedes e das Red Bulls.
O DRS, sistema que diminui o arrasto para aumentar chances de ultrapassagens, permanece nos carros mesmo com essas mudanças, embora o desejo da F1 seja eliminá-lo no futuro. Os motores serão os mesmos também, mantendo a unidade turbo-híbrida de 1,6 litro. Já o combustível terá um aumento na proporção de biocombustível, com 10% de etanol –o regulamento até 2021 previa 5,75% de etanol.
Como medida de segurança, o chassi dos carros foi desenvolvido para absorver mais energia nos impactos dianteiros (48%) e traseiros (15%). É uma maneira de aumentar a proteção aos pilotos em caso de batida.
De acordo com a categoria, essa preocupação aumentou desde o acidente com Romain Grosjean no GP do Bahrein de 2020, quando o francês bateu fortemente e escapou do carro em chamas.
O regulamento de 2022 traz ainda uma novidade sobre o teto de gastos das equipes, menor em relação ao ano passado. Agora, as escuderias poderão gastar, no máximo, US$ 142 milhões (R$ 783 milhões) na temporada. Em 2021, esse valor foi de US$ 145 milhões (R$ 799 milhões).