Jogador, político, cartola, não necessariamente nessa ordem. José Maria Marin, morto neste domingo (20), chegou a ocupar até o posto de governador do estado mais rico da Federação, porém sua imagem ficou mais atrelada à sua carreira esportiva, que quase sempre foi política.
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Tido como um dos pioneiros do boxe no país, Marin deu os primeiros passos no futebol com a camisa do São Paulo, clube de seu coração com o qual manteve boas relações durante toda a vida.
Disputou apenas 20 jogos pela equipe tricolor entre 1950 e 1952 e, mesmo não sendo mais do que um regular ponta-direita que amargou a reserva por muito tempo, marcou cinco gols pelo time. Segundo o "Almanaque do São Paulo", ele obteve 12 vitórias, quatro empates e quatro derrotas pelo clube.
Seguindo até os conselhos do experiente Vicente Feola, treinador campeão com a seleção brasileira na Copa de 1958, Marin conciliou os estudos com as atividades futebolísticas. Era uma forma de garantir seu futuro fora do futebol, uma vez que ele não dispunha de talento suficiente para jogar nem mesmo em equipes de menor expressão.
Cursou a tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e virou advogado ainda em 1955, o que se tornou um importante passo para o seu início na carreira política.
Tendo como reduto eleitoral o bairro paulistano de Santo Amaro, ele foi lançado como candidato a vereador com a ajuda de alguns amigos, notadamente Armando da Silva Prado Netto, proprietário da Gazeta de Santo Amaro e que ajudou a financiar a campanha de Marin.
Eleito vereador em 1963, o então ex-jogador conseguiu a presidência da Câmara Municipal de São Paulo em 1969, quando a ditadura militar se impunha no país. Viraria deputado estadual pela Arena (Aliança Renovadora Nacional) nos anos 70 e ganharia um certo destaque com discursos vorazes contra a esquerda. Teve ligação com a ala mais radical do governo militar e conexões com órgãos de vigilância e de repressão.
A morte do jornalista e comunista Vladimir Herzog, preso e assassinado pelo DOI-Codi apenas 16 dias depois de dois discursos ácidos de Marin contra a TV Cultura em outubro de 1975, virou uma grande marca na trajetória política do dirigente, que dizia que os programas da TV Cultura causavam "intranquilidade" nos lares de São Paulo.
Ainda em meio à ditadura militar, Marin assumiu a presidência da Federação Paulista em 1982, ficando no posto até 1988. Foi por causa dessa posição que ele chegou a atuar como chefe da delegação que representou o Brasil na Copa de 1986, no México.
Se na política Marin se aproveitou da condição de vice de Paulo Maluf no governo paulista para chegar ao poder (ficou dez meses à frente do estado de São Paulo), na Confederação Brasileira de Futebol o cartola lucrou ao ser o vice mais velho de Ricardo Teixeira. Faltavam menos de dois meses para ele completar 80 anos quando tomou o controle do futebol nacional.
E ele assumiu em 2012 não só a CBF, mas como também o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. Deixava assim o ostracismo de muitos anos para ocupar de novo um posto de destaque no esporte e na política nacional.
Fez uma protocolar passagem de bastão entre seus aliados Teixeira e Marco Polo Del Nero, que, na condição de presidente da Federação Paulista de Futebol e cartola bem relacionado na Fifa e na Conmebol, deu total sustentação a Marin.
Na sua gestão à frente da máxima entidade do futebol brasileiro, o cartola paulista reconduziu Luiz Felipe Scolari ao cargo de treinador da seleção. Também apostou em Carlos Alberto Parreira como coordenador da comissão técnica que teria a responsabilidade de comandar o time nacional em casa na Copa de 2014.
Contrariando as opiniões e as evidências de que os técnicos do tetra e do penta estavam ultrapassados, Marin apostou na experiência deles e no discurso nacionalista para o Mundial, refutando experiências e inovações, como a contratação de um treinador estrangeiro (pesquisas apontavam que o consagrado técnico espanhol Josep Guardiola, disponível e ávido pelo emprego na seleção brasileira, era o preferido da população).
O título da Copa das Confederações em 2013 deu um ano de certa tranquilidade para a cúpula do futebol brasileiro, mas o vexame da seleção na Copa, em especial por conta da maior goleada já sofrida pela equipe em todos os tempos [7 a 1 para a Alemanha], escancarou o atraso do futebol nacional em vários aspectos.
Na mesma assembleia que apontou Del Nero como sucessor de Marin na CBF, por exemplo, ficou definido que a nova sede da máxima entidade do futebol brasileiro no Rio de Janeiro levaria justamente o nome de José Maria Marin.
O cartola assumiu a CBF em março de 2012, menos de dois meses depois de tomar posse de uma medalha do jogador Mateus, do Corinthians, campeão da Copa São Paulo júnior. A polêmica cena, flagrada na televisão, foi a aparição mais célebre de Marin em muito tempo.
Quando Teixeira (em meio à investigação da Fifa de que houve pagamento de propinas por parte da ISL ao dirigente) renunciou ao comando da CBF alegando problemas de saúde, Marin ascendeu na entidade sem que houvesse uma nova eleição.
Seu passado atrelado à ditadura foi reavivado então pela mídia, ainda mais porque seu discurso nacionalista e conservador se fez de novo presente.
Após o fim da ditadura, Marin perdeu muito espaço político, fracassando de forma estrondosa em eleições para a Prefeitura de São Paulo e para o Senado. Seu único sucesso político nesse período foi quando ajudou na coordenação da campanha vitoriosa de Jânio Quadros à prefeitura paulistana em 1985.
Marin esteve filiado a vários partidos de direita e soube se manter no poder ou perto dele tanto na política quanto no esporte. Com um aguçado oportunismo, conseguiu ser um jogador bem-sucedido fora de campo.
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