O ano era 2000 e a família de Lionel Messi estava agitada, cada vez mais nervosa. Viviam em um apartamento alugado de forma temporária e não conseguiam uma definição do Barcelona se o garoto, então com 12 anos, ficaria no clube ou não.
Alguns treinadores da base questionavam se valia a pena investir em alguém tão pequeno e franzino, apesar de talentoso.
"Eles tinham deixado tudo para trás em Rosário e nada acontecia. Tentei pedir paciência, mas não tinha mais argumentos", disse ao jornal Folha de S.Paulo em 2014 Josep María Minguella, empresário de futebol e conselheiro do Barcelona, responsável por levá-lo da Argentina para a Espanha com o financiamento de um tratamento de crescimento que custava cerca de US$ 1 mil por mês (cerca de R$ 5 mil na cotação atual).
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A solução encontrada pelo agente entrou para a história do futebol. Ele e Carlos Rexach, dirigente do Barcelona, levaram Jorge Messi, pai de Lionel, ao Club Tenis Pompeia, na cidade cat. Mingella pegou um papel em branco, rabiscou um compromisso de que a equipe faria um contrato com salário para o menino. O documento não tinha valor legal nenhum, mas foi assinado por todos os que estavam à mesa.
"Era um contrato para uma criança, na verdade. Mas foi a maneira que encontramos para mostrá-lo que daríamos um jeito para o filho dele vestir a camisa do Barcelona", completou Minguella.
Daquele dia (mesmo que informalmente) até 30 de junho de 2021, Lionel Messi foi jogador do Barcelona. A partir desta quinta (1º), pela primeira vez em 21 anos, ele não tem qualquer compromisso com a equipe catalã. Seu contrato terminou nesta quarta (30).
O fim do vínculo não significa que ele deixará o Barcelona. Messi está no Brasil para a disputa da Copa América e deve resolver o assunto ao final do torneio.
"Fiquem tranquilos", disse o presidente Joan Laporta, ao chegar à sede da agremiação nesta quarta.
A agitação é considerável porque no ano passado, frustrado com os rumos da equipe dentro e fora de campo, o atacante pediu para ser negociado. Foi uma comoção na Catalunha, com protestos contra a diretoria e pedidos pela continuidade do camisa 10. Havia um acordo alinhavado com o Manchester City (ING), onde ele se reuniria uma vez mais com o técnico Pep Guardiola, com quem conquistou seus principais títulos.
A irritação do jogador era com o então presidente Josep Maria Bartomeu, que renunciou alguns meses depois. Messi duvidava da qualidade do elenco, reclamava de promessas não cumpridas e viu a liberação de seu amigo Luis Suárez para o Atlético de Madrid como uma tentativa de atingi-lo.
Para vendê-lo ao futebol inglês, o Barcelona exigiu pagamento da multa rescisória de 700 milhões de euros (R$ 4,1 bilhões em valores atuais).
"Esse mundo do futebol é muito difícil e tem muita gente falsa. Doeu muito quando duvidaram do meu amor por este clube. Por mais que eu vá embora ou que fique, meu amor pelo Barcelona não vai mudar nunca", ele disse no ano passado, em entrevista ao site Goal.
A eleição de Laporta para a presidência (ele já havia ocupado entre 2003 e 2010), dirigente com quem o argentino tem boa relação, aumentou as chances de permanência.
Se ainda desejar sair, Messi não terá muitas opções de equipes capazes de lhe pagar os 75 milhões de euros anuais (R$ 445 milhões em valores atuais, entre valores fixos e metas variáveis) do seu acordo recém-encerrado com o Barcelona. As opções mais óbvias são Manchester City e Paris Saint-Germain, dois times que não pertencem simplesmente a uma empresa, mas a conglomerados controlados por famílias reais: Emirados Árabes (City) e Qatar (PSG).
O argentino afirmou que quando contou aos filhos sobre a possibilidade de deixar o Barcelona, o mais velho, Thiago, 7, chorou e reclamou que não queria mudar de cidade. Ele, Mateo (5) e Ciro (2) nasceram na Espanha. Thiago e Mateo falam catalão.
Messi chegou a ser provocado quanto a isso por Cristiano Ronaldo. Ao trocar o Real Madrid (ESP) pela Juventus (ITA), o português sugeriu ao rival fazer o mesmo, deixar a Espanha e buscar novos ares.
Ronaldo foi revelado pelo Sporting (POR) e jogou no Manchester United (ING) antes de ir para o Real. Tudo o que Messi conheceu na carreira foi o Barcelona, pelo qual foi três vezes campeão europeu (2009, 2011 e 2015), venceu dez troféus da liga espanhola e ganhou seis prêmios de melhor do mundo.
"Aquele contrato [escrito no papel] tranquilizou a família para mantê-lo em Barcelona", recorda-se Minguella.
Agora Laporta tenta ganhar mais tempo ainda para repetir a dose e fazer Messi continuar no clube.