Antes da família real da Arábia Saudita, um americano tentou comprar o Newcastle United. No entanto, as negociações com o clube inglês não avançaram. Como alternativa, o empresário Joseph DaGrosa, 57, pode investir no América-MG.
"Não posso dar detalhes porque há cláusula de confidencialidade. Posso dizer que existem conversas e está bem encaminhado", disse o coordenador de futebol e clube-empresa da agremiação mineira, Marcus Salum.
Em contato com a reportagem, DaGrosa afirmou estar impedido de comentar aquisições em andamento porque violaria o segredo da negociação.
Ele se interessou em comprar o Newcastle, então de propriedade do empresário Mike Ashley, em 2019. O clube foi vendido há duas semanas por R$ 2,2 bilhões para o fundo soberano da Arábia Saudita, avaliado em US$ 435 bilhões (R$ 2,4 trilhões). Isso torna o time inglês, na teoria, o mais rico do mundo.
Nascido em Nova York e torcedor do New York Mets, equipe da Major League Baseball que vive à sombra do vizinho de cidade mais rico e bem-sucedido, o New York Yankees, DaGrosa mora em Miami há 25 anos. É de onde comanda a DaGrosa Capital Partners e o Kapital Football Group. Este último seria o responsável pela administração de clubes de futebol.
O investidor teve uma passagem pelo futebol europeu em 2018. Durou pouco e acabou mal.
Como representante do fundo de investimentos GACP (General American Capital Partners), foi dono de 13,8% do Bordeaux, da primeira divisão francesa. A experiência durou até dezembro de 2019, quando o sócio majoritário, King Street (outro fundo de investimento), o retirou do clube adquirido por 100 milhões de euros (R$ 640 milhões pela cotação atual).
Quando a GACP saiu, o déficit era de 35 milhões de euros (R$ 223 milhões pelo valor atual). O resultado vermelho foi causado, entre outros fatores, pelo aumento da folha de pagamentos em 11 milhões de euros (R$ 70,3 milhões). Não apenas por causa do futebol profissional.
A King Street se queixou de executivos contratados com altos salários, passagens aéreas de ida e volta para o exterior e contas pessoais quitadas pela agremiação. Uma delas era de hospedagens no Bordeaux Le Gran, hotel cinco estrelas em que a diária está em cerca de R$ 1,5 mil.
O representante de DaGrosa no Bordeaux era o português Hugo Varela, que logo entrou em conflito com o vice-presidente Frédéric Longuépée.
Durante entrevista ao jornal Le Figaro, o investidor americano disse que seria possível, em um projeto de dez anos, fazer o time estar em nível mundial e ser vencedor.
Em abril deste ano, a King Street abandonou o barco. O fundo comunicou ao mercado que não apoiaria mais o Bordeaux financeiramente. O time está em 16º na liga nacional, a um ponto da zona de rebaixamento.
"O futebol é um amor novo para mim e acho que aprendi muito nos últimos quatro ou cinco anos. Estivemos por pouco tempo no Bordeaux, mas aprendemos sobre administrar o clube", disse DaGrosa em entrevista concedida no mês passado para o podcast "In Visible Capital".
O investidor considerou ter tido sorte porque saiu da administração antes da paralisação do futebol causada pela pandemia do novo coronavírus.
Se a Covid-19 poderia lhe causar prejuízos, também abriu uma janela, ele acredita. A crise que mergulhou equipes tradicionais em prejuízos financeiros representa uma oportunidade para alguém que vê o futebol como "um mercado ineficiente".
Desde então, DaGrosa tem prospectado. Além do Newcastle, foi citado como interessado ou teve contatos para adquirir West Ham, Crystal Palace, Southampton (todos ingleses), Roma e Genoa (Itália).
"Se não quiserem vender para nós, vamos para o próximo. É um mercado muito bom para compradores hoje em dia", acredita.
Embora tenha tido contato com o Newcastle antes da venda para os sauditas e ter concorrido com o PSG na França, o modelo que ele almeja é outro. Parece mais com o do Manchester City. Mas com menos dinheiro, faz questão de deixar claro.
Isso significa que o desejo de DaGrosa, por meio da Kapital Football Group, é ter alguns clubes ao redor do mundo, sendo um principal e os demais secundários. Todos teriam academias para formação de jogadores que pudessem ser intercambiados entre as equipes e vendidos depois para os gigantes europeus. Com lucro, claro.
Montado nos bilhões da família real dos Emirados Árabes, o City Football Group é dono ou tem participação em dez times ao redor do mundo, mas sem a preocupação em fazer dinheiro. O principal deles é o Manchester City.
A primeira negociação da nova empreitada de DaGrosa no futebol seria o América-MG, que ocupa a 12ª colocação da Série A do Campeonato Brasileiro.
"Gostaríamos de ter um portfólio de clubes, mas somos mais centrados nos jogadores. É uma oportunidade para criar centros de desenvolvimento de atletas e identificar talentos. Acreditamos em modelo similar ao do [Manchester] City, mas pensando mais no jogador. Acredito que podemos ser mais eficientes em identificar talentos e monetizá-los", analisou no podcast.
O América tenta aproveitar a sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à lei que possibilita aos clubes de futebol receberem recursos financeiros de pessoas físicas, jurídicas e fundos de investimentos. A lei 14.193 (Lei do Clube-Empresa) abriu a possibilidade de as agremiações se transformarem em sociedades anônimas.