A pressão externa do Ministério Público (MP) e a cobrança interna de dirigentes e oposição fazem o São Paulo "pensar" em romper a relação com as torcidas organizadas. A confusão causada por membros da Independente do lado de fora do estádio do Morumbi após o jogo da última quarta-feira pela Copa Libertadores pode ter sido o estopim para uma mudança de vínculo.
O jornal O Estado de S.Paulo apurou que o presidente do clube, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, já não está mais resistente à ideia de manter a proximidade com as facções. No começo deste ano, o dirigente afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que ajudava as organizadas com ingressos e dinheiro para financiar o carnaval.
A reflexão veio após um tumulto na saída do estádio terminar com três torcedores atendidos no ambulatório do Morumbi com ferimentos, 16 policiais machucados e 10 pessoas detidas. O São Paulo disse acompanhar os relatos sobre o incidente e lamenta o ocorrido. "Uma das coisas que ajudariam muito no combate às torcidas organizadas é os clubes pararem de dar ingressos. Isso acaba ajudando a financiar essa torcidas. Algumas fazem o que fazem porque não se põe limites nelas", disse nesta quinta-feira o promotor do Juizado do Torcedor do MP, Paulo Castilho.
Segundo a Polícia Militar e testemunhas, o tumulto começou pela presença do lado de fora do estádio de membros da torcida organizada, que estavam sem ingresso. Irritados com a derrota para o Atlético Nacional por 2 a 0 e a saída de torcedores antes do apito final, eles começaram a atacar ambulantes e a roubar são-paulinos.
A Independente disse nesta quinta-feira em comunicado não ser a única responsável pelo incidente e reiterou as críticas aos que deixaram o estádio antes do fim do jogo. "Milhares de torcedores não conseguiram ingresso e aqueles que só sabem apoiar na vitória, começaram a ir embora", afirmou.
O clima hostil teve conflito entre torcedores e policiais. De um lado, pedras e garrafas de vidro. A resposta veio com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. A confusão durou pouco mais de 30 minutos. "Uma série de falhas permitiram que ambulantes nas ruas do entorno, vendendo garrafas de vidro. Era impressionante o número de cacos de vidro depois da partida. A Guarda Civil deveria ter coibido essas barracas irregulares", disse Paulo Castilho.
Parte dessas falhas, segundo o promotor, se explica pela partida da semifinal da Copa Libertadores ter coincidido com a operação Game Over, no interior paulista. O Morumbi, então, ficou "desfalcado" dos núcleos de trabalho mais acostumados a jogos de alta periculosidade.
O promotor disse já ter tomado providências para punir os envolvidos. "Já instauramos inquéritos, e alguns (arruaceiros) foram identificados. Vamos pedir o afastamento dos envolvidos por três anos dos estádios, se não cumprir, pediremos a prisão preventiva".