Figueiredo
Não há data para o fim da crise política no Corinthians, com um arrastado processo de impeachment do presidente Augusto Melo. A segunda votação sobre o afastamento do dirigente -a primeira havia sido suspensa por meio de uma decisão liminar- também terminou sem uma conclusão.
Foram quase cinco horas e meia de intensos debates no Parque São Jorge ao longo da segunda-feira (21) até que, por volta das 23h15, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, ex-aliado de Melo e atual opositor, interrompeu a reunião, sob a justificativa de que o avançar da noite fez alguns dos conselheiros, sobretudo os mais velhos, deixarem o local.
Antes, eles fizeram uma votação prévia, sobre a admissibilidade do mérito da questão. O debate provocou um tumulto durante a sessão, com Augusto Melo colocando o dedo em riste na direção de Romeu Tuma. O líder do Conselho optou inicialmente por uma definição por aclamação, o que irritou o presidente do Corinthians. A votação, então, foi feita por meio de cédulas.
Foram 126 votos favoráveis à legitimidade do processo de afastamento e 114 desfavoráveis. A diferença, apesar de apertada, poderia indicar uma possível derrota de Augusto na votação do processo, já que, se o "não" tivesse vencido, o caso estaria encerrado. Mas, ao término da votação, os dois lados procuravam demonstrar otimismo.
Os ânimos voltaram a ficar exaltados na saída da reunião, quando alguns conselheiros foram hostilizados por parte dos torcedores presentes. As organizadas do clube, sobretudo a Gaviões da Fiel, são contrárias ao processo de impeachment, ao menos até a conclusão da investigação da Polícia Civil sobre a suspeita de irregularidades no contrato de patrocínio com a casa de apostas esportivas VaideBet, objeto pelo qual Augusto está sendo julgado pelos conselheiros.
Os autores do processo de afastamento afirmam que, devido à "omissão do dirigente [Augusto Melo], a imagem da instituição foi arremessada em um lamaçal de notícias degradantes".
A denúncia é referente ao pagamento de R$ 25,2 milhões, como comissão de intermediação pelo acordo com o site de apostas, à Rede Social Media Design, que pertence a Alex Fernando André, o Alex Cassundé, que atuou na campanha de Augusto à presidência.
Essa empresa repassou parte da comissão para a Neoway Soluções Integradas em Serviço, registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, uma mulher que mora em residência humilde em Peruíbe e nem sabia da existência da empresa.
Augusto nega qualquer irregularidade em sua atuação e diz que todo o processo passou pelos órgãos de fiscalização do clube. Também reclama que Tuma não lhe deu amplo direito de defesa.
Ao deixar o Parque São Jorge já na madrugada desta terça-feira (21), chamou o presidente do Conselho de "ditador" e pediu sua destituição.
"Um cara completamente parcial que está trabalhando para eles, advogando em causa própria. Um cara que não deixou a gente se defender", reclamou. "O Corinthians está nessa situação porque tem um cara desse presidindo o Conselho."
Tuma se defendeu, afirmando que seguiu os ritos previstos no estatuto do Corinthians. "Lamento profundamente a fala dele. Percebemos, pelo pouco que pude ver aqui, que ele estava emocionado, talvez transtornado com o resultado, que talvez ele não esperasse", afirmou o presidente do Conselho, que relatou ameaças à sua família.
Uma nova votação ainda será marcada, possivelmente no dia 3 de fevereiro ou uma semana depois. Não está claro se os conselheiros que não estiveram presentes na segunda-feira poderão participar ou se o novo encontro será levado como uma continuação do anterior, com a chamada já realizada. O tema será objeto de novo debate entre as partes.
Se Augusto sofrer uma nova derrota, será imediatamente afastado. Tuma, então, terá cinco dias para marcar a assembleia dos sócios, que ocorrerá, a partir da marcação, em um prazo de 30 a 60 dias. A votação dos associados, no sistema de maioria simples, é definitiva.
Caso os sócios rejeitem o impeachment, Augusto voltará ao cargo. Se a destituição for aprovada, o Conselho Deliberativo será convocado para eleger -sem a participação dos sócios- um novo presidente até o que seria o fim do mandato de Melo, em dezembro de 2026.
O processo todo se arrasta desde o segundo semestre do ano passado, quando um grupo formado por 90 conselheiros protocolou o pedido de afastamento. No ritmo atual, a indefinição pode ser arrastada até a metade de abril.
O único ponto em que situação e oposição concordam neste momento é que o Corinthians vai continuar "sangrando", vendo sua imagem desgastada.
Há na torcida preocupação com o efeito da crise política sobre o time, que tem importantes compromissos no horizonte, como sua estreia na fase preliminar da Copa Libertadores, contra a Universidad Central, da Venezuela, em Caracas, no dia 19 de fevereiro. O jogo de volta será no dia 26, em Itaquera.