O Londrina vai adotar um escalonamento de investimentos na temporada de 2026 e iniciará o Campeonato Paranaense sem o elenco totalmente preparado para a disputa da Série B do Campeonato Brasileiro. O Estadual começa em 7 de janeiro, com o confronto contra o Operário, às 19h, no estádio do Café. Já a Série B tem início marcado para 21 de março, de acordo com o calendário antecipado pela CBF.
Segundo o empresário Guilherme Bellintani, dono da Squadra Sports, empresa responsável pela SAF do clube, o planejamento prevê uma evolução gradual da folha salarial. O time começará o Paranaense com um teto próximo de R$ 650 mil, valor que deve chegar a R$ 800 mil ainda durante o Estadual. Para a Série B, a folha saltará para R$ 1 milhão, com novos ajustes ao longo da competição. Na última janela de transferências de 2026, o Londrina terá margem para mais contratações, alcançando a projeção de R$ 1,2 milhão anunciada recentemente.
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Bellintani reconhece que o clube irá competir com equipes que gastam o dobro ou até o triplo, mas aponta que a diferença está na sustentabilidade. “Sim, vamos enfrentar times com folha de R$ 2,5 milhões ou R$ 3 milhões, mas que acumulam dívidas, não pagam salário e seguem contraindo débitos antigos e novos. Não devemos nos basear nos outros, e sim no que podemos fazer”, afirmou.
Segundo ele, o objetivo é construir uma evolução consistente. “Projetamos três anos de Série B, sem sustos. Quando o Londrina vai dar outro salto? Estamos fazendo investimentos agressivos em pagamento de dívidas, no centro de treinamento e no VGD. Quando essas frentes estiverem resolvidas, teremos mais caixa para investir no elenco. Prefiro construir um sonho gradualmente do que alimentar a ideia de uma SAF milionária e, daqui dois anos, ouvir: ‘Quem é esse Bellintani que veio aqui enganar todo mundo?’”, disse.
Elenco da Série B
A montagem do elenco para 2026 também chamou a atenção do empresário, que repete no Londrina o modelo aplicado no Bahia em 2022, ano em que montou o grupo que conquistou o acesso à Série A. Para ele, o mercado brasileiro vive uma inflação sem precedentes. “Entrou muito dinheiro de casas de apostas, de SAFs, de vendas de jogadores. Alguns clubes da Liga Forte União receberam antecipações e inflaram suas próprias folhas. Jogadores que ganhavam R$ 80 mil passaram a pedir R$ 200 mil; atletas de R$ 50 mil agora custam R$ 110 mil ou R$ 120 mil. É a realidade”, apontou.
Bellintani fez uma comparação direta com sua experiência passada. “Eu fui presidente do Bahia na Série B de 2022. Agora, montando o elenco para 2026, vejo jogadores que já estavam no mercado naquela época, alguns até mais velhos, custando quatro vezes mais. Precisamos de criatividade. Não adianta pagar R$ 150 mil ou R$ 200 mil. São atletas que podem até resolver em campo, mas que chegam em agosto e setembro e o clube não tem dinheiro para pagar a folha, como vimos na Série C. Houve times ao nosso lado com quatro meses de salários atrasados, e a conta sempre chega”, destacou, sem citar nomes.
A estratégia do Londrina, segundo ele, é fugir da disputa por valores inflacionados e focar em atletas compatíveis com a realidade financeira. “Estamos procurando um goleiro experiente para liderar tecnicamente, mas dentro do nosso teto. Não vamos contratar ‘o goleiro dos sonhos’ se custar R$ 10 mil a mais. Vamos buscar outro que se encaixe no perfil. Temos uma equipe de análise para isso. O importante é trazer jogadores que se adaptem ao que queremos, mesmo que sejam menos badalados. O resultado é o que importa.”
Foco nos exemplos
O empresário também reforçou que o torcedor precisa olhar para modelos sustentáveis no futebol brasileiro. Ele cita equipes que, mesmo sem grandes nomes, mantêm competitividade. “Peço ao torcedor que busque referências reais. Se forem projetos baseados apenas em grandes nomes, não são referências. Olhem para a Chapecoense deste ano: quem eram os jogadores? Não tinha, mas entregaram desempenho. O mesmo vale para o Novorizontino e para o Mirassol, já em um patamar mais alto. O futebol brasileiro mostra que grife não ganha jogo. Jogador bom ganha, mas grife não.”
Para Bellintani, muitos clubes da Série B de 2025 deixam lições importantes. “Fora Coritiba e Athletico, vários clubes que ‘iam subir’ ficaram no meio da tabela, mesmo pagando R$ 250 mil ou R$ 300 mil para jogadores. Pode funcionar no curto prazo, mas não se sustenta. Há atletas que aceitam receber R$ 10 mil ou R$ 20 mil a menos porque o clube paga em dia e é organizado. Não é nosso modelo trazer atletas badalados. Não acreditamos nisso e não temos dinheiro para isso.”
O dirigente ainda destacou como outros investimentos paralelos, essenciais para o futuro do clube, reduzem a margem disponível para contratações. “Nosso dinheiro, no curto prazo, é para o CT, para a reforma do estádio e para pagar dívidas. Quem deixou essa dívida? Por que o Londrina tem R$ 20 milhões em dívidas? Porque um dia contrataram jogadores sem ter condição de pagar. Não vamos repetir isso. Nossa prioridade é não criar novas dívidas e quitar as antigas.”
Bellintani garantiu que o clube seguirá apostando na análise de mercado e na eficiência. “Digo sempre ao nosso time de análise: vocês estão aqui para montar um time mais competitivo com menos dinheiro. Esse é o objetivo.”
Paranaense no Café
Outra revelação do dono da SAF foi que o Londrina irá começar o Campeonato Paranaense no estádio do Café para viabilizar a troca completa do gramado do Vitorino Gonçalves Dias (VGD), que será a casa alviceleste na Série B do Campeonato Brasileiro. O investimento previsto é de R$ 600 mil.
“Mudamos de ideia após conversas com o departamento técnico, com o Dado Cavalcanti e também com o nosso treinador. Identificamos a necessidade de trocar completamente o gramado do VGD. A decisão já está tomada, com recursos garantidos e tudo definido para iniciar a obra”, afirmou Bellintani.
Segundo ele, o início dos trabalhos depende de um período sem chuvas, condição necessária para a remoção do gramado atual. “Com chuva, o serviço se torna inviável e atrasa alguns dias. Precisamos de uma janela específica de tempo seco para avançar. De qualquer forma, vamos trocar o gramado inteiro. Isso deve impactar parte do Campeonato Paranaense, que começaremos no Café, mas esperamos retornar ao VGD na reta final”, completou.
A expectativa do clube é voltar ao VGD assim que o novo gramado estiver concluído. O prazo estimado para a obra é de 60 dias, mas a diretoria pretende acelerá-la ao máximo. Durante a reforma, o Londrina também utilizará o estádio do Café para treinos, embora outros locais não estejam descartados, como o CT do City London, na zona leste da cidade.