A cultura no Brasil ainda é um luxo para poucos. Levantamento divulgado nesta quinta-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que a grande maioria dos municípios do País não tem cinemas, museus ou teatros. O grande bem cultural do brasileiro segue sendo a televisão, presente em praticamente todos os lares, sem distinção de raça, gênero e classe social - e agora também em versão de tela plana.
As razões são diversas, como demonstra o Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2018, que faz um cruzamento de dados de diversas pesquisas do IBGE. As verbas públicas destinadas à área perderam importância ao longo dos anos e o número de empresas privadas do setor diminuiu. Em tempos de crise econômica, a cultura também está longe de ser uma prioridade na destinação do orçamento familiar.
"A crise dos anos recentes levou a uma queda generalizada na capilaridade geográfica dos equipamentos culturais e meios de comunicação entre as medições de 2014 e 2018", aponta a pesquisa
Leia mais:
Band abre inscrições para as temporadas do “MasterChef Brasil” em 2024
Ana Hickmann vai apresentar especial de fim de ano na Record; saiba como será
Luis Miranda e Marcos Veras vão comandar quadros no reality BBB 2024
Angelina Jolie diz não conseguir viver livremente após se separar de Brad Pitt
Os cinemas, por exemplo, estão presentes em apenas 10% dos municípios. Os museus aparecem em 25,9% das cidades e os teatros em 20%. As livrarias tiveram uma queda acentuada desde 2001, quando podiam ser encontradas em quase metade dos municípios (42,7%), e 2018 (17,7%). Uma nota dissonante são as bibliotecas públicas. Presentes em 87% das cidades.
"Houve políticas públicas específicas durante muitos anos para aumentar a capilaridade das bibliotecas, o que explica a discrepância", explicou o coordenador do setor de População e Indicadores Sociais do IBGE, Leonardo Athias.
A evolução tecnológica e as mudanças nas formas de consumo de cultura, claro, também influenciam essas estatísticas. Videolocadoras, lojas de disco e lan houses, que já tiveram presença significativa nos municípios, praticamente desapareceram em 2018.
O provedor de internet, por sua vez, já alcança 58% dos municípios brasileiros, cobrindo praticamente 85% da população do País. O telefone celular também está bastante difundido no Brasil. Segundo o levantamento, 78,2% das pessoas com mais de dez anos de idade têm um telefone móvel para uso pessoal.
O eletrodoméstico mais presente na casa dos brasileiros é a televisão, que está em nada menos que 97,2% dos lares. Diferentemente de qualquer outro bem de consumo, "a posse da televisão não apresenta diferenças significativas em relação à cor ou raça, grupos de idade, nível de instrução e gênero", sendo, de longe, o aparelho mais democrático do País. A TV de tela plana, por sua vez, já está em 74% das casas.
Os gastos com cultura, como era de se esperar, aparecem em quarto lugar no orçamento das famílias, abaixo de alimentação, habitação e transporte. O gasto médio mensal é de R$ 282,86 e representa 7,5% do consumo total.
Esse porcentual varia um pouco de acordo com as classes sociais. Mas nem tanto assim. Entre os mais pobres, é de 5,9%; entre os mais ricos, chega a 8%. E como não poderia deixar de ser, a maior parte desse orçamento é destinado à aquisição de eletrodomésticos, telefonia, TV e internet.
Verbas públicas
Os gastos públicos em cultura aumentaram de uma maneira geral entre 2011 e 2018, passando de R$ 7,1 bilhões para R$ 9,1 bilhões. No entanto, a verba cultural perdeu importância quando comparada ao total de gastos (de 0,28% para 0,21%).
O número de empresas e organizações voltadas para a cultura também caiu. De 353,2 mil (8% do total), em 2001, para 325,7 mil (6,5% do total), em 2017. O número de pessoas ocupadas neste setor também caiu, passando de 4,2% para 3,7% no mesmo período.
O setor segue o padrão de desigualdade geral do País. Em 2017, a região Sudeste concentrava 58,5% dos assalariados nas atividades culturais. O setor tem mais ocupados da cor branca do que pretos e pardos, mas o porcentual de negros está aumentando: de 42,3%, em 2014, para 45,7, em 2018. Entre 2014 e 2018 a participação feminina no setor cresceu de 43,7% para 50,5%.