Thelma Assis, 35, é a grande vencedora do Big Brother Brasil 20. Com 44,10% dos votos, a médica venceu a disputa, na noite desta segunda-feira (27) contra Rafa Kalimann e Manu Gavassi, e levou para a casa o prêmio de R$ 1,5 milhão.
A médica era a única sobrevivente do jogo entre aqueles que se inscreveram para participar do BBB -Rafa e Manu entraram como convidadas.
Mesmo não sendo famosa antes do programa, Thelminha, como é chamada pelos amigos, ganhou a torcida de várias celebridades, como o humorista Paulo Gustavo, os atores Taís Araujo e Bruno Gagliasso, as cantoras Preta Gil, Anitta e Ludmilla e os ex-integrantes do próprio reality Babu, Guilherme e Mari.
"Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela'. Sempre bom lembrar Angela Davis #ThelmaCampeã", escreveu Taís Araujo no Twitter. A mensagem foi retuitada pela atriz Viola Davis.
O fato de ser a única mulher negra nesta edição do programa a aproximou de Babu, também negro, desde o início da competição. "A nossa cútis sempre nos aproxima", disse certa vez a Babu, em tom amigável e prometendo que jamais votaria nele. Em um dos seus momentos mais difíceis dentro da casa, quando teve de decidir se votaria no ator ou em uma de suas melhores amigas na casa, Rafa, Thelma acabou escolhendo Babu, mas ficou muito mal com a decisão. A situação, porém, não chegou a afetar a amizade entre eles.
Embora tenha tido uma participação mais tímida no início da competição, a médica sempre se mostrou firme em suas atitudes. Brigou feio com Lucas por ele não ter dado estalecas para a compra da comida para a casa. O fisioterapeuta acabou eliminado do jogo na sequência.
Após receber o Castigo do Monstro de Daniel e Ivy, Thelma se distanciou de Marcela e Gizelly, suas amigas em princípio, e se aproximou de Manu e Rafa, que a apoiaram durante a realização da dinâmica.
Thelma também foi protagonista da conquista da liderança mais difícil da temporada, em uma prova de resistência que durou mais de 26 horas.
MÉDICA E QUARENTENA
Ao sair do BBB, Thelma vai encontrar um mundo em quarentena por causa da pandemia do novo coronavírus. Antes de entrar no programa, ela trabalhava em quatro hospitais, entre eles o Hospital do M'Boi Mirim e o do Servidor Público Municipal, em São Paulo, quando decidiu dar um tempo nos plantões de até 24 horas que fazia como médica anestesiologista para ingressar no reality.
Criada no bairro do Limão (zona norte de São Paulo) apenas pela mãe, Thelma fez cursinho por três anos após se formar no ensino médio até conseguir passar na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Sorocaba, onde estudou sem ter que pagar mensalidade.
"Tudo na vida da Thelma foi conquistado graças a bolsas de estudo, [foi assim] até na companhia de balé onde ela se formou e dançou por oito anos", conta o fotógrafo Denis Santos, 35, marido de Thelma.
Durante o período em que se dedicou à faculdade de medicina, Thelma morou em uma pensão e ralava para pagar as contas, chegando a entregar panfletos na rua. Em um vídeo que mostra sua rotina antes de entrar no reality, ela se diz orgulhosa de ser quem é, mas frisa que nada foi fácil. "Eu me sinto muito empoderada. Tudo que eu tenho eu consegui com muito esforço e muita luta", diz.
Médico anestesiologista, Gustavo Imbiriba, 29, trabalhou com Thelma por três anos quando atuou como residente do Hospital das Clínicas de São Bernardo (SP). Para ele, é possível que a médica continue a exercer a profissão mesmo que vença a competição -ela é apontada como forte candidata ao prêmio de R$ 1,5 milhão. "Thelma gosta muito do que faz, e é difícil se afastar de vez".
Quando Thelma chegou na final, Denis divulgou um vídeo com a reação da mãe dela, Dona Yara. "Meu Deus, é minha filha. Sempre confiei em ti, Thelminha", repetia a mãe segurando um terço nas mãos e chorando de emoção. O marido de Thelma deixou registrado o apoio ao aliado dela no reality com um grito de "Valeu, Babu!"
RACISMO ESTRUTURAL
Apesar do engajamento de Thelma com a questão racial, telespectadores apontam, em comentários nas redes sociais, que tanto ela como Babu têm sido alvos de preconceito dentro do programa, sendo até excluídos por outros jogadores.
"Há, sim, um racismo não explícito. Não estou chamando ninguém de racista. É um racismo estrutural. A pessoa não percebe as bobagens que fala", avalia o fotógrafo Denis Santos, marido de Thelma.
O racismo estrutural é definido pelo entendimento de que o preconceito racial não é uma anormalidade da sociedade, mas parte da formação das estruturas políticas, econômicas, jurídicas e sociais. Professora de História e pesquisadora de questão racial, Suzane Jardim acompanha o programa e concorda que exista racismo dentro da casa. Ela explica, contudo, que o racismo estrutural não pode ser desculpa para alguém continuar a ter atitudes problemáticas e deve ser um convite à mudança.
"Os comentários e ações individuais não são o 'racismo estrutural' em si e há exemplos melhores na própria estrutura do programa: ninguém acha estranho o fato de toda edição ter dois negros em meio a dez brancos ou mais, é o comum. Se convidassem mais negros falariam que é forçado ou estranho".
Nesta terça (31), a família de Thelma se posicionou e disse que vai processar o empresário Rodrigo Branco pelos comentários racistas dele em uma live. O empresário disse que Thelma só tem torcida por ser "negra coitada".