Quase 30 anos se passaram até que a novela "Sonho Meu" ganhasse uma segunda exibição na TV. A trama de Marcílio Moraes, que passou originalmente em 1993 na faixa das 18h da Globo, voltou ao ar na segunda-feira (12) em reprise do canal pago Viva.
A trama é protagonizada pela pequena Maria Carolina, a Lalesca, uma menina que é abandonada em um orfanato pela família, mas que enfrenta os problemas da vida de forma lúdica. O papel foi a estreia na televisão de Carolina Pavanelli, que tinha 6 anos na época e foi imediatamente alçada ao estrelato.
Hoje com 34 anos, a carioca leva uma vida discreta e longe do mundo artístico. Ao site F5, ela conta que atualmente trabalha com educação, como diretora pedagógica e professora de redação do ensino médio em uma escola particular do Rio de Janeiro.
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"Eu lidero a parte de elaboração de currículo escolar, de qualidade do material didático, formação de professores, dou palestras e formações, enfim... Todo o meu ofício é muito direcionado à educação", diz. "É um caminho em que eu obtive êxito, sucesso na minha carreira, então fico bastante satisfeita também."
Sem planos para voltar a atuar na frente das câmeras, embora "não feche as portas para nada", ela afirma que não foi uma decisão consciente deixar a profissão de atriz. "A vida foi acontecendo", afirma. "Eu ainda fiz algumas outras novelas e programas na Globo até uns 12 para 13 anos. Depois, fui ganhando outros interesses na vida."
"Fiz faculdade de cinema, com interesse de fazer roteiro, mas na mesma época comecei a dar monitoria, em uma espécie de estágio em uma escola, ensinando redação, e aí comecei a gostar mais disso e a entender a educação como realmente meu propósito e como o que eu queria fazer de fato", explica.
Pavanelli diz que não consegue avaliar se a transição de carreira dos atores mirins para papéis mais adultos é complexa, porque diferentemente de outros nomes que estouraram muito cedo, como Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa, ela não continuou na profissão. "Minha experiência acaba sendo muito no plano infantil mesmo", compara.
Mesmo assim, deixou marcas que podem ser sentidas até a atualidade, como o nome marcado na cabeça das pessoas. "Hoje em dia as pessoas reconhecem menos pela fisionomia, porque tem muito tempo", revela. "Hoje eu tenho 34 anos, não tenho 7, então com certeza mudei bastante."
"Porém, as pessoas ainda reconhecem muito o nome", conta. "As pessoas olham meu nome e acham que conhecem de algum lugar, falam que esse nome não lhes é estranho. Aí depois associam diretamente à novela."
A educadora está ansiosa para acompanhar fielmente toda a trama. "Na verdade, não é nem uma possibilidade de rever o trabalho, para mim é uma possibilidade de ver pela primeira vez", diz. "Quando eu era criança e fazia a novela eu não conseguia assistir efetivamente. Eu só vi partes, alguns trechos muito curtos na época."
Sobre sua personagem, ela diz que tinha características semelhantes a Lalesca na época. "Eu era menos levada do que ela", ri. "Ela era uma criança muito levada, eu era mais na minha. Mas eu era muito falante também, muito comunicativa que nem ela. Acho que isso a gente tinha em comum."
Mas também houve desafios ao longo da trama, como o período em que a personagem recebe diagnóstico de leucemia. "Na época da novela, eu não tinha noção do que era isso", confessa. "Eu era muito criança e, é claro que me explicaram que é uma doença grave, mas eu não tinha noção da dimensão."
Por outro lado, atualmente ela se orgulha de ter podido ajudar na conscientização sobre a doença. "Depois de um tempo, eu pude olhar para trás e ver que bom foi a gente já estar tratando de um assunto tão importante lá em 1993", avalia. "Hoje eu vejo que teve um impacto muito grande, especialmente se você considerar que na época que não existiam redes sociais e não havia a disseminação de informações que a gente tem hoje."
A ex-atriz mirim conta que o processo de escalação durou algum tempo, mas que ela fazia tudo de bom grado. "Eu fiz vários testes, com centenas de meninas", afirma. "Cada teste ia diminuindo a quantidade de meninas presentes. Até que no final foram cinco finalistas, eu e mais quatro, e acabou que fui escolhida."
Na época, ela havia insistido para que a família encontrasse meios para introduzi-la no meio artístico. "Eu pedia muito para a minha mãe para fazer TV, era uma coisa que eu queria", lembra. "Minha mãe deixou as minhas fotos no departamento de recursos artísticos da Globo e em alguns outros lugares, como agências."
E, na avaliação dela, valeu à pena. As lembranças da época são as melhores possíveis. "Lembro de me divertir muito nas gravações, especialmente porque tinham outras crianças no elenco", conta. "Eu lembro da gente brincar muito. Lembro das gravações nos estúdios do Jardim Botânico, da cidade cenográfica no Projac [atualmente, Estúdios Globo]."
O único perrengue era conciliar as gravações com os estudos. "Era uma super correria", diz. "Na época, eu estava alfabetizando, né? Eu tinha 6 anos e fiz 7 durante a novela. Era difícil conciliar, mas a escola em que eu estudava fazia um horário especial para mim. No fim, eu não perdi nenhum conteúdo, mas foi uma parceria com a escola para poder adaptar esses horários."
Pavanelli conta que não tem mais contato direto com ninguém do elenco. Porém, ela costuma trocar mensagens por meio das redes sociais com Patrícia França, que interpretou a mãe dela na trama, e com os também ex-atores mirins Luiza Curvo, 36, e Eduardo Caldas, 36, que viviam os personagens Aninha e Chico, respectivamente.
Ela também disse que foi um momento muito triste para ela a morte de Elias Gleizer (1934-2015), que viveu o bonachão Tio Zé na novela. O senhor virava amigo de Lalesca e, junto com o cãozinho Tofe, eles encantaram toda uma geração de brasileiros.
"Foi quase como se um pedaço da minha infância tivesse apagado também", afirmou. "Apesar de a novela ter sido um período curto e específico da minha vida, a presença dele foi muito significativa na minha infância. Com certeza foi uma perda muito grande."
Ela diz que não o via há bastante tempo, mas que a mãe dela o encontrava frequentemente no calçadão da Barra da Tijuca, próximo de onde ambos moravam. "Ele sempre foi muito amado, muito simpático e muito receptivo", lembra.