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Direto de casa

Jornalistas sessentões reinventam entradas ao vivo na TV durante pandemia

Folhapress
02 jun 2020 às 08:53

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- Reprodução / TV Globo
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A rotina de jornalistas com mais de 60 anos, afastados dos estúdios e que passaram a trabalhar de suas casas por causa da pandemia do novo coronavírus, tem sido intensa. O dia a dia está diferente, e eles tiveram de se moldar a um novo jeito de fazer jornalismo. Suas casas viraram estúdios, a estande de livros, a sacada e até a fachada de prédios se tornaram cenário para as entradas ao vivo e a demanda parece ter aumentado durante o isolamento social.

Com 42 anos de profissão, o jornalista Carlos Tramontina, 64, teve que se adaptar a um novo jeito de fazer jornalismo, agora de sua casa, em São Paulo. "Os primeiros dias foram estranhos. Como manter a rotina sem sair do lugar? Como manter tudo como se nada tivesse mudado? Mas tudo já havia mudado. Gradualmente fui me adaptando e logo eu já estava no ritmo."

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Tramontina trabalha de casa garimpando histórias para contar e as sugere à direção do SP2, telejornal exibido às 19h que ele apresentava antes de a pandemia o afastar. A produção, então, fica a cargo de tocar as demandas, marcar as entrevistas online e levantar mais informações. "Agora apareço uma vez por semana, às vezes mais."

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Quanto ao programa Antena Paulista, do qual é editor-chefe, Tramontina afirma que mantém contato com a Redação e faz entrevistas e tours virtuais por museus, áreas públicas e culturais, que agora estão fechadas à visitação.

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O jornalista afirma que o momento é de mudanças e que é preciso se adaptar. "Nosso trabalho sempre envolveu o contato direto com os colegas, a conversa, a troca de informações. Agora, isso não existe mais. A gente se vê virtualmente e fala pelo celular."


NOVOS CENÁRIOS

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Jornalista da Globo e da GloboNews, Miriam Leitão, 67, montou um aparato na biblioteca de sua, no Rio de Janeiro, com tripé e luz especial para se sentir dentro de um estúdio. "Apesar da saudade da Redação, estou curtindo muito esse trabalho de casa. A Globo foi bem cuidadosa e iniciou o protocolo de segurança bem cedo. A ideia foi da empresa. No primeiro momento, fiquei em dúvida se daria certo, mas hoje penso que foi a melhor coisa que eles fizeram. Eu me senti cuidada."


De acordo com a profissional, o home office está frenético. Na Globo, ela faz comentários no Bom Dia Brasil. Já na GloboNews, ela tinha um programa e, como todos foram temporariamente suspensos, se uniu ao time de comentaristas do canal. Ela entra ao vivo em qualquer jornal, a qualquer horário. Miriam também é colunista do jornal O Globo e faz comentários na CBN. "A minha frequência aumentou muito."

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A jornalista e apresentadora Zileide Silva, 61, também trabalha de casa, em Brasília. Para ela, o momento é de aprendizado. "Cada um no seu quadrado, estamos aprendendo a trabalhar de um jeito diferente, a enfrentar um desafio novo. E eu não esqueço o mantra: vai passar."


Zileide coloca seu celular no tripé e ajeita a câmera e o suporte técnico para entrar ao vivo na televisão, nos telejornais diários. A profissional arrumou uma maneira peculiar de fazer as tradicionais passagens, ou seja, os momentos em que o repórter aparece na frente da câmera durante uma reportagem. "Gravo no térreo no prédio em que moro. Na GloboNews, entro do escritório da minha casa."

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"Sinto falta da Redação, do convívio com os colegas, do cafezinho e até de ir às fontes no Congresso, por exemplo. Mas o celular funciona muito bem e, no caso dos parlamentares, muitos não estão em Brasília. Estamos nos adaptando a esse novo mundo. E tentando superar os obstáculos", diz a jornalista, que está há mais de 20 anos na Globo.


VIDA PESSOAL NA QUARENTENA

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Fora o trabalho na TV, os profissionais revelam muitas mudanças na vida pessoal e com suas famílias. Como figuram no grupo de risco, por terem mais de 60 anos, eles sentem a ausência dos parentes, que precisam ficar longe deles na quarentena.


"Olha, dureza mesmo é ficar sem ver meus quatro netos, Mariana, Daniel, Manuela e Isabel. São umas pessoinhas maravilhosas e sinto muita saudade. Mas meus filhos, Vladimir e Matheus, e minhas noras, Giselly e Flávia, me ajudam a matar a saudade com a ajuda da tecnologia", diz Miriam Leitão, que fez aniversário em meio ao isolamento social, em 7 de abril, e ganhou uma festa virtual surpresa que a deixou emocionado.

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Zileide Silva também enumera tudo o que ela mais sente falta neste momento em que ninguém deve sair de casa. "Além de trabalhar, tenho lido muito. Agora estou terminando 'Escravidão - Volume 1', do Laurentino Gomes, volume 1. Mas sinto falta dos amigos, das viagens, da academia, dos encontros e da caminhada com sol."


Apesar das dificuldades, Zileide se mostra esperançosa com relação à criação de uma vacina o quanto antes. Ela lembra que no dia 15 de maio, uma farmacêutica americana anunciou um anticorpo contra o coronavírus, ainda como um estudo preliminar, mas que já repercutiu. "Quem sabe? Uma vacina da Moderna Inc mostrou sinais precoces, mas promissores, de resposta do sistema imunológico. Enfim, a ciência, que determinou o home office, não para. E vai ser determinante para decidir quando encerrá-lo", complementa.


O jornalista Carlos Tramontina diz que mantém a rotina de levantar cedo, pouco depois das 7h. Ele faz ginástica na varanda de quatro a cinco vezes por semana para se manter ativo. "Leio muitos jornais, assisto a vários noticiários para estar em cima dos acontecimentos. Nunca li tantos livros. Já foram seis, alguns enormes. Estou matando a saudade", afirma.

O experiente jornalista acredita que o vírus ainda vai incomodar as pessoas por muito tempo com base nos números e nos acontecimentos. "A TV Globo tem sido extremamente cuidadosa com isso e nos protegido ao máximo. Tenho a certeza que tomará a melhor decisão de quando voltar. Na hora certa. E eu estarei pronto para cumprir."


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