Desde o dia 17 de março, a conversa leve e descontraída de Fátima Bernardes com artistas e convidados do programa Encontro deixou a grade matinal da Globo para dar espaço ao jornalismo de serviço. Comandado por Márcio Gomes, 49, o Combate ao Coronavírus tem duas horas de duração (das 10h às 12h) e é voltado a reportagens didáticas e conversas com médicos que esclarecem dúvidas dos telespectadores sobre a doença.
A aposta da emissora em investir no assunto tem obtido resultado na audiência. No PNT (Painel Nacional de Televisão), a atração registrou média de 11 pontos em suas duas primeiras semanas (de 17 a 27 de março) -cada ponto do Kantar Ibope equivale a 260.558 domicílios.
Segundo a Globo, o índice é 38% acima da média da faixa em todas as semanas anteriores do ano. Até então, a média no horário era de 8 pontos. Em São Paulo, o programa Combate ao Coronavírus atinge o mesmo índice, 11 (cada ponto na região equivale a 74.987 casas). No Rio, a audiência média registrada foi superior, de 14 pontos (cada ponto vale a 47.454 domicílios).
Além disso, o programa é responsável, sozinho, por mais da metade (55%) das ligações que chegam à Central de Atendimento ao Telespectador da Globo no período da manhã. "Em apenas três semanas, a CAT já recebeu mais de 6.000 mensagens com dúvidas e pedidos de informação sobre a pandemia. O mesmo volume de mensagens que os programas diários matinais costumam receber ao longo de um ano inteiro", informa a emissora, em nota.
Para Márcio Gomes, que está na Globo desde 1995, foi correspondente no Japão por cinco anos (de 2013 a 2018) e já participou de grandes coberturas jornalísticas, como a passagem do tufão Haiyan que devastou as Filipinas em 2013, reportar o que acontece hoje no Brasil e no mundo com a pandemia do novo coronavírus é a experiência profissional mais difícil da sua vida.
"Essa é uma cobertura muito desafiadora pela dimensão que ela tem e por ser uma novidade, porque nenhum de nós viveu uma pandemia como essa. A última que a gente teve foi a de 1918, a gripe espanhola, que há poucas pessoas vivas para falar o que aconteceu naquela época", afirma Gomes, ao reforça que a própria doença em si é nova e ainda está sendo estudada.
Às pessoas que criticam a Globo por dedicar grande parte da sua programação a abordar o coronavírus, o jornalista responde que não se trata de querer assustar ou explorar o medo da população. "Pelo contrário, eu acho que transmitir informação sobre esse assunto nesse momento é transmitir segurança, porque as pessoas vão entender melhor o assunto, e vão saber como se proteger, vão saber o que evitar, vão saber o que que fazer, vão saber como fazer para deixar o vírus longe da casa."
Na visão do apresentador, o jornalismo profissional ganha ainda mais importância em momentos como o atual, em que há muita fake news e dúvidas sobre o que está acontecendo.
QUARENTENA
O Combate ao Coronavírus não é um telejornal. É um programa jornalístico, mas em formato diferente do tradicional noticiário. Como se trata, principalmente, de uma conversa com médicos que estão ao vivo no estúdio, é uma atração que demanda muito improviso do apresentador para saber costurar os diferentes temas conduzidos.
Por essa razão, Márcio Gomes afirma que tem que estar muito preparado. "Fico o dia inteiro lendo sobre o assunto, assistindo entrevistas de outros profissionais e de TVs estrangeiras."
O jornalista afirma que o fato de ter feito colunas no passado sobre ciência e tecnologia o ajudam agora a entender o que os médicos e especialistas falam e que, muitas vezes, não é numa linguagem acessível ao público, e a traduzir isso ao telespectador.
"Ciência é muito complicada e assusta muita gente por causa do linguajar, dos termos técnicos. Quando você tem uma pessoa que ajuda a traduzir -e não sou só eu que faço isso, toda a equipe do programa- isso ajuda muito a levar uma tranquilidade para as pessoas e mostrar que: Gente, estamos no mesmo barco, estamos enfrentando da mesma forma a pandemia", afirma o jornalista.
Para ele, esse trabalho didático e de serviço é fundamental. "Sem exagero, é uma missão mesmo que eu tenho." Quando não está trabalhando, Gomes afirma que tem levado muito a sério o isolamento social. Deixou de correr os seus 5 km por dia, mas ele diz que tem feito exercícios em casa. Aproveita também para ficar com a mulher e os filhos, de 16 e 12 anos.
"É um momento importante para eles [os filhos] também, fazerem eles entenderem isso, como chegamos até aqui, o que fazer para evitar, a importância da ciência, a importância de respeitar a pesquisa científica, de ouvir os cientistas, pesquisadores e médicos. Eu tento valorizar isso", conclui.