"Eu acho que ele nem sabe o que é Kardashian. Você sabe quem são as Kardashians?", pergunta Wanessa Camargo, 38, ao pai, Zezé Di Camargo, 59. "Eu sei de nome", responde o cantor. "Mas nunca assisti a nem um capítulo."
O diálogo ocorre em meio ao bate-papo com o jornal Folha de S.Paulo a respeito de "É o Amor: Família Camargo", que estreia nesta quinta-feira (9) na Netflix. A série documental acompanha a intimidade da família nos moldes do programa que consagrou o clã de socialites americanas.
Porém, Zezé conta que foi outra produção que o incentivou a aparecer de forma tão transparente na telinha. "Eu estava meio resistente, inseguro de mostrar tudo", afirma. "Aí eu fui ver a série do Luis Miguel", diz, referindo-se ao cantor mexicano.
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"Confesso que a série dele ajudou a me convencer de que teria que ser como foi, teria que ser daquele jeito que a gente está mostrando", disse. "Perdi o medo. Achei que não era nada de alarmante mostrar a realidade, como somos, uma família normal que tem as suas adversidades."
Isso porque, de fato, mesmo muitas vezes no olho do furacão midiático, nunca se viu Zezé e Wanessa falando tão abertamente sobre assuntos delicados. A traição dele à primeira mulher, Zilu Godoi, é abordada com depoimentos da própria. Já Graciele Lacerda, pivô da separação, conta seu lado da história e fala do período que penou até ser aceita pelos filhos do casal.
Pelo lado de Wanessa, são lembrados temas como a suposta rivalidade com Sandy e também a eterna cobrança por ser filha de quem é. Ela também fala abertamente sobre um aborto espontâneo que sofreu e que quase a levou a óbito, além de sobre as crises de síndrome do pânico –uma delas acompanhada pela equipe de filmagens.
"Acho que a gente nunca esteve tão no front quanto agora", admite Zezé. "Essa é a proposta", concorda Wanessa. "Quando eu topei, uma das coisas que mais me preocupei era isso: será que eu vou conseguir ser sincera, me desnudar aqui e ser real? Porque para mim não tinha sentido criar uma historinha. As redes sociais já estão aí para fazer isso."
Ambos afirmam que, eventualmente, perderam a noção de que estavam sendo acompanhados por câmeras durante as gravações. "Nos dois primeiros dias eu fiquei assustado", diz o cantor. "Quando liga a câmera, a gente começa a ficar num modo artista", explica a filha. "Nos primeiros dois dias, ligava a câmera eu fazia pose, sabe? Mas passa uns dois dias você esquece."
"Chegou ao ponto de eu ir ao banheiro umas duas vezes com o microfone ligado", ri Zezé. Isso também porque a equipe de filmagens fazia de tudo para deixá-los o mais à vontade possível. "A turma que estava filmando não entregava quando estavam gravando a gente", conta.
"Eu estava na sala assim e quando olhava tinha um cara com a câmera escondido detrás da porta me filmando", lembra. "Muitas vezes a gente pensou realmente que não estávamos sendo filmados. Mas eu também já estava bem relaxado. Chegou um momento em que eu entreguei para Deus."
A ideia da série documental surgiu de um projeto antigo de pai e filha trabalharem juntos. Em 2007, os dois fizeram uma turnê chamada "Pai e Filha", que deixou gostinho de quero mais. Queriam transformá-la em álbum ou DVD.
"Quando veio a pandemia, que nos propiciou esse tempo [livre], deu uma parada na agenda de todo mundo, a gente pensou em fazer o álbum, eu fui provocado, no bom sentido", diz Zezé. Outro fator que ajudou foi o fato de o irmão dele, Luciano, estar focado em outro projeto pessoal.
"Ele começou um projeto dele de música gospel", lembra. "A gente estava no ano de comemoração dos 30 anos de Zezé Di Camargo e Luciano, então tudo o que a gente ia fazer era voltado para essas comemorações. Nós tínhamos programado um DVD, um cruzeiro comemorativo... Isso tudo foi interrompido ou pelo menos jogado para a frente."
Luciano, que não aparece nos episódios ao qual a reportagem teve acesso, também é um dos assuntos comentados na série. Zezé se queixa de sempre saírem notícias de que os dois estariam se separando, o que ele diz não ser verdade.
O projeto alternativo foi, inclusive, pensando em dar esse tempo para o irmão. "Quando eu vi que o Luciano ia lançar o projeto dele ainda dentro da pandemia, falei: 'Poxa se eu fizer qualquer coisa de Zezé Di Camargo e Luciano eu vou confrontar com o que o Luciano está fazendo'. Ia ficar muito dividido. Aí eu achei que estava na hora de dar seguimento ao projeto com a minha filha."
Wanessa também comenta que os dois ficaram mais próximos na pandemia. "Estávamos na fazenda, aí a gente começou a cantar juntos", diz. "Eu estava fazendo 20 anos de carreira, não tinha como fazer comemoração nenhuma, então a gente falou vamos fazer o álbum."
Além da série, o álbum com as gravações que os dois fizeram nesse período será lançado nesta sexta-feira (10). A produtora Ventre, chamada para registrar o processo, foi quem vendeu o projeto para a Netflix, que se interessou imediatamente.
"Era muito difícil a gente contar uma história além dos '2 Filhos de Francisco', para mim era um desafio", diz Zezé sobre o filme de Breno Silveira sobre a história da dupla e que foi sucesso de crítica e bilheteria em 2005.
"Peraí, mas sobrou o quê?", verbaliza o cantor. "Zezé Di Camargo e Luciano novamente não. Seria uma coisa do Zezé Di Camargo com a família, como pai, como filho, como pai de uma cantora, como avô. Então a gente achou interessante contar esse outro lado da vida que as pessoas só sabem entre aspas."
Zezé confessa que chorou "um punhado de vezes" assistindo aos episódios finalizados. "Acho que a série pode servir para as pessoas se corrigirem também, né?", avalia. "Tem muita coisa que a gente faz lá que muita gente não vai concordar e vai falar: 'Não vou deixar isso acontecer na minha vida'. Ou 'não estou tão culpado, porque eles também fizeram isso'."
"É a identificação, você olhar e se reconhecer", resume Wanessa. "Mesmo sabendo que isso também abre espaço para julgamentos. Mas isso desde que eu e meu pai resolvemos ser cantores a gente sabe que está dentro desse crivo de ser julgado. Se a gente se importasse tanto com isso, não estaria mais aqui."