Quando recebeu o convite para viver um personagem cheio de autoestima em uma minissérie da Disney, o cantor Vitão, 22, não pensou duas vezes. Para ele, seria a oportunidade perfeita para introduzir em seu currículo mais uma ocupação que, meses depois, transformaria por completo o seu entendimento do que é arte.
O músico está na minissérie "Tá Tudo Certo", uma produção original Disney+ dividida em quatro episódios. "O personagem, que também é Vitão, tem muitas semelhanças comigo. Possui uma carapaça de segurança, um cara que todos gostam, mas é uma pessoa profundamente insegura, pois não consegue realizar o sonho de ser ator", revela ele.
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"Eu também sou um cara que tem inseguranças e às vezes aparenta ter armadura, mas internamente tenho meus dilemas. Na série, ele é tido como um vilão bem-humorado em alguns momentos. Vai ser um empecilho para a relação do casal protagonista", adianta Vitão.
A comédia romântica conta a história de Pedro (Pedro Calais), um jovem estagiário que quer ser uma estrela da música e que, por acaso, conhece Ana (Ana Caetano), uma cantora e compositora que o leva a aprender e a curtir a música e a vida. Nessa jornada, ambos se apaixonam, e Pedro vai repensar o que o sucesso significa para ele.
Na trama, apesar de ter o sonho de se tornar um músico, Pedro precisa lidar com a vontade dos pais que o querem ver como um advogado. Após fazer um estágio na parte jurídica de uma gravadora, recebe uma proposta tentadora de seguir no caminho da música.
Escrita por Raphael Montes, Felipe Simas e Rubel, o projeto, que deve chegar à plataforma Disney+ no segundo semestre, tem no elenco, além de Pedro, Ana e Vitão, nomes como Toni Garrido (Toni), Clara Buarque (Clara), Julia Mestre (Julia), Gita Delavy (Gita) e participações especiais de Manu Gavassi (Manu) e Agnes Nunes (Agnes).
De acordo com Vitão, a nova experiência tem sido ótima, apesar dos constantes friozinhos na barriga. "Enxergo como algo novo e que às vezes é um pouco assustador. Tenho visto algumas cenas e tenho gostado, sinto orgulho de mim quando assisto. Meu primeiro trampo como ator está sendo legal", opina.
A partir de agora, o maior desejo dele é que mais portas se abram nesse setor, já que é uma vontade antiga. Segundo ele, aliar a atuação com a música poderá ajudá-lo a se sentir mais inteiro. "Sendo músico eu já passo emoção. Mas com atuação no currículo sou um cara mais completo como artista, fará diferença no palco, nas entrevistas. Não espero que esse seja um trabalho único. Quero navegar por qualquer coisa que queira fazer", explica.
A minissérie é, de fato, um projeto de estreias. O escritor e diretor Felipe Simas já havia colocado Ana Caetano, 27, cantora e dupla de Vitória no duo Anavitória, para atuar num filme sobre as duas de 2018 e que atualmente pode ser visto no catálogo da Netflix. Porém, para Ana, essa é como se fosse a sua estreia na dramaturgia.
"No 'Ana e Vitória', eu tinha ingenuidade, medos em alguns momentos e vergonhas que não me deixavam presente. Estava desatenta. Então, esse está sendo o momento mais lindo que estou tendo, prestando mais atenção em como as coisas funcionam e não me importando mais com minha vergonha, estou muito entregue", afirma a cantora e atriz.
Assim como Vitão, ela também quer seguir carreira. "Na primeira experiência falei que seria a primeira e última vez que atuaria. Quando fui vendo o Felipe escrevendo foi me dando vontade. Agora que estamos gravando fiquei com vontade de brincar mais, fiz as pazes com esse lugar."
Ana, aliás, não chega sozinha para o set de filmagens. Ela conseguiu encaixar seu cãozinho da raça Beagle nas cenas. O animal, de nome Manteigas, virou membro do casting e adorado por todo o elenco.
Já o vocalista da banda Lagum, Pedro Calais, 25, foi outro que se aventurou na nova profissão com o personagem de mesmo nome. "A primeira coisa que me conectou foi ver uma equipe muito bem preparada para receber quem não estava. Me deu segurança de ver que tinha profissionais prezando pela minha entrega", afirma o artista.
Tal segurança fez com que ele se reunisse com os dialoguistas e diretores para mexer e dar opiniões no próprio texto para o deixar mais natural. "Além de ter ficado mais fácil, deu orgulho gravar uma parada que foi você quem deu a ideia e interferiu", reforça.
A trama gira muito em torno do conceito de sucesso que pode ser diferente de pessoa para pessoa. Na opinião pessoal do cantor, acostumado a fazer turnês e lançar discos, sucesso é o processo e não necessariamente a realização.
"É muito doido, pois sempre estamos em busca desse lugar. Ainda não cheguei onde quero, mas me considero um cara de sucesso, pois estou feliz e confortável com o lugar que alcancei sem passar por cima de ninguém. Fazer essa minissérie é mais uma conquista de sucesso e enxergo como bênção", finaliza.
ANOS 1980 SERVEM DE INSPIRAÇÃO
O fascínio do escritor e diretor Felipe Simas pelos anos 1980 o ajudaram a ter a ideia do enredo da minissérie. Simas conta que a maior inspiração do projeto foi "Armação Ilimitada" (Globo, 1985-1988), série que contava com três pessoas morando numa casa, assim como em "Tá Tudo Certo". "Trouxe muitas das minhas referências", destaca ele.
"Sou oitentista, então tudo o que assisti me marcou. Tinha os filmes 'Menino do Rio' (1982) e 'Garota Dourada' (1984) em que músicos atuavam. Sempre quis trazer essa experiência para os dias de hoje. Existe uma cena da música que flerta com pop e MPB, e a ideia era chamar pessoas dessa vertente", diz Simas.
Ele explica que considera Vitão um artista mais urbano, mas que se encaixa nesse perfil, assim como a atriz Clara Buarque, filha de Carlinhos Brown e neta de Chico Buarque. Ana Caetano, dupla de Vitória, já trabalha com ele há sete anos, já que ele é empresário da dupla. Já a escolha pelo protagonista Pedro Calais se deu por causa da semelhança dele com um personagem de um dos filmes preferidos de Simas.
"Considero que o Pedro tenha a mesma canastrice, no bom sentido, que o personagem Ferris Bueller, de 'Curtindo a Vida Adoidado' (1986), tem. Percebo que ele tem isso até na vida pessoal e que cairia como uma luva para o papel de 'Tá Tudo Certo", emenda o diretor. Para ele, essa atual geração musical brasileira tem o mesmo descompromisso de soar cool que era comum na geração dos anos 1980.
A minissérie, com filmagens já em fase final, mas cuja estreia está programada apenas para o segundo semestre, terá quatro episódios e não deverá contar com uma segunda temporada, pois foi escrita originalmente para ser um filme. Bandas independentes e que se destacaram na pandemia farão participações, tais como O Grilo e Jovem Dionisio. Os atores também terão momentos musicais durante os episódios.