A política deu o tom na coletiva de lançamento da 2ª temporada da série 'O Mecanismo', da Netflix, que estreia nesta sexta (10), e que trata dos recentes escândalos de corrupção no País. O diretor José Padilha, entusiasta da Operação Lava Jato e do juiz Sérgio Moro, abriu a sua participação criticando duramente o atual ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro e comparando-o a um salame fatiado.
"Sérgio Moro, se for inteligente, deve estar extremamente arrependido das escolhas que fez", disse Padilha, referindo-se a sua participação no governo. "Bolsonaro não tem maioria no Congresso e está negociando para aprovar suas reformas. Ele está usando Moro como moeda de troca. O Moro foi de herói nacional a salame fatiado, entregue em pedaços ao Centrão para aprovar a reforma da Previdência."
Padilha sugeriu que Moro deveria ter deixado o governo, ao constatar que Flávio Bolsonaro estava ligado ao ex-policial Fabrício Queiróz. O ex-assessor na Assembleia Legislativa fluminense, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), movimentou R$ 1,2 milhão em uma conta bancária de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 - a quantia é incompatível com sua renda. Há suspeita da prática de "rachadinha", quando a maior parte ou todo o salário do servidor é repassado ao deputado. Tanto Flávio como Queiroz negam irregularidades.
Leia mais:
Matheus Nachtergaele volta como Cenoura em 2ª temporada de 'Cidade de Deus: A Luta Não Para'
Netflix inicia gravações de 'Casamento às Cegas Brasil 5', para participantes acima de 50 anos
Roteirista de 'Grey's Anatomy' raspava a cabeça para fingir que tinha câncer; entenda
'Irmãos Menendez': Entenda a relação de Roy, ex-Menudo, com o caso
Inspirada na Operação Lava Jato, a série foi marcada pela polêmica já em sua estreia, no ano passado, a cinco meses das eleições presidenciais. Muita gente acusou Padilha de criar uma peça antipetista, contribuindo ainda mais para o clima de polarização política reinante no País e para a eleição de Jair Bolsonaro. Na época, o diretor afirmou que o mecanismo de corrupção criado no País não tinha ideologia e abarcava todos os partidos, apesar de o foco da primeira temporada estar no PT.
A segunda temporada deixa essa premissa bem mais clara. A começar pela abertura. Ao som do samba de Bezerra da Silva Reunião de Bacana, mais conhecido pelo refrão "se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão", a abertura exibe imagens dos mais diversos políticos que estiveram no poder no País desde a redemocratização.
A nova temporada começa seguindo os eventos de 2014, com a presidente Dilma Rousseff ainda no poder e 12 dos 13 maiores empreiteiros do Brasil já atrás das grades. A força-tarefa liderada pela delegada Verena (Caroline Abras) com a ajuda do ex-policial Marco Ruffo (Selton Mello) está tentando prender o mais importante dos empreiteiros, Ricardo Brecht (Emílio Orciollo Netto).
O impeachment da então presidente e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparecem no centro de uma manipulação orquestrada por políticos de diferentes partidos interessados em perpetuar seus interesses no poder.
Procuradores, policiais e um certo juiz de Curitiba tentam investigar os crimes de corrupção sem politizar o trabalho, mas a tarefa se revela impossível.
"Sempre falei que o mecanismo não tinha ideologia, que era apartidário, isso não mudou, minha opinião é a mesma", afirmou Padilha. "Sempre falei que o PSDB era o mecanismo, que o PMDB era o patriarca do mecanismo, que o PT entrou para o mecanismo. Entre as condições necessárias que alguém tem de satisfazer para chegar à Presidência no Brasil está participar do mecanismo."
Padilha confirma que mudou de opinião sobre Moro, mas não se arrepende da forma como o retratou na primeira temporada de O Mecanismo. Agora, na segunda, o juiz Paulo Riggo surge bem mais envaidecido pela fama adquirida e já pensando em eventuais passos políticos.
"A série é inspirada em eventos reais, estava contando a história do começo da Lava Jato, quando várias coisas não tinham acontecido", justificou. "Eu e a torcida do Flamengo víamos os jogos em que o goleiro Bruno agarrava pênaltis e achávamos maravilhoso. Depois disso, ele cometeu um assassinato. Agora, quando ele agarrava um pênalti, eu não podia reclamar porque não sabia que ele ia cometer um assassinato."
Selton Mello reclamou dos ataques sofridos pelos atores do elenco por fazerem parte da série. "Muita gente que levanta o punho para defender a liberdade de expressão bateu na gente", afirmou. "Que liberdade de expressão é essa? Esse é o nosso trabalho. Eu quero fazer essa série, quero fazer qualquer coisa. Achei um pouco triste e um tanto patético os atores apanharem."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.