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40 anos de carreira

Zé Ramalho fala de sua relação com os alucinógenos

Agência Estado
27 out 2017 às 08:31
- Reprodução/Instagram
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Zé fala sobre seu estilo já definido desde 1976, quando Avôhai conquistou mesmo quem não sabia o que estava cantando.

Antes que você começasse a explicar a origem de Avôhai ela ganhava força entre pessoas que nem sabiam o significado...

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A espiritualidade e o sobrenatural que existem nessa música são pressentidos por todas as pessoas que a ouviram e se envolveram com ela. Certa vez, perguntaram a uma pessoa simples na região amazônica, um nativo: "O que você acha dessa música, você entende alguma coisa?". E ele respondeu: "Não entendo nada, mas acho bonito". A energia que ela passa para o ouvinte é que torna o fato sobrenatural, real. Porque quando a pessoa ouve, sente algo diferente na história que estou contando. Ela une todas as pessoas, porque todos nós temos nossos antepassados. E os nossos antepassados tiveram os seus antepassados e nesse recuo genealógico iremos chegar ao homem de neandertal. Avôhai junta tudo isso.

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Alceu, o pessoal do Ceará, Fagner, Belchior, Amelinha, Geraldinho Azevedo, Elba, Cátia de França. Acha que pode ter faltado união entre vocês, como fizeram os baianos (Caetano, Gil, Gal, Bethânia, etc.), para mostrarem a força de uma turma com linguagens fortes que se comunicavam entre si? Um movimento que poderia ter tido um nome, uma identificação ainda maior na história, como os baianos fizeram com a Tropicália e os cariocas com a bossa nova?

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Só que esses baianos de que você fala se organizaram em quatro, era um quarteto. E a Bahia é Nordeste também. Nós somos pós-tropicalistas e não trouxemos nas nossas músicas a referência que esses tropicalistas faziam ao seu Estado. Tudo tinha a Bahia no meio. Nós não fizemos turismo nas nossas letras. A união de que você fala não foi semelhante à desses autores tropicalistas. Poderia ser tido, mas não foi. Mesmo assim, cada trabalho apresentado tinha uma unidade de geração. Todos os autores eram pensadores, filósofos, e independentes. Ninguém dependia do outro para falar, nem cantar.


Sobre as experiências espirituais, você as tem feito ainda? Outras músicas mais recentemente surgiram motivadas por substâncias alucinógenas, como Avôhai, ou mesmo sonhos?

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Estou caminhando para os 70 anos. Essas experiências ficaram, a maioria delas, na minha memória. É como disse o filósofo Nietzsche: "O que não te mata, te fortalece". Hoje sou mais comedido em relação a essas substâncias. Procuro, de vez em quando, ter contato com alguma delas, talvez com a mais natural de todas, a maconha. Tudo isso que aconteceu nesses 40 anos influenciou e aparece nas minhas músicas. Mas a experiência e o avanço no tempo, com esse meu trabalho, me deram status de sobrevivente que se tornou mestre.


Sua biografia também vem aí, conforme noticiado. Qual tem sido sua relação com a biógrafa?

Eu autorizei a autora há uns 3 anos e o que ela colheu não sei ao certo porque não li, mas minha mulher, Roberta, recebe os escritos, lê e me passa alguma coisa, de vez em quando... Mesmo tendo autorizado, não significa que eu vá ler.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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