A Usina Cultural promove neste sábado (27), às 19h, a palestra “A mulher preta e seu espaço na cultura”, com a pesquisadora e professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Juliana Barbosa. A atividade integra a programação do projeto Pontes de Cultura – engrenagens do futuro, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de Londrina e com recursos da Pnab (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura). O evento é gratuito, com inscrições pelo Sympla.
Juliana, que é pós-doutora em Estudos da Linguagem, explica que a arte tem um papel estratégico na sociedade, funcionando como espaço de sociabilidade, resistência e formação de identidades. Ela destaca que o samba foi um dos principais ambientes criados pelo povo negro escravizado diante das opressões do Brasil colonial, no qual as mulheres negras tiveram atuação central. No entanto, lembra que essa presença foi historicamente silenciada por causa do racismo e do machismo.
Ao refletir sobre os avanços das mulheres pretas na cultura, a pesquisadora aponta que histórias antes apagadas vêm sendo reescritas, permitindo maior ocupação de espaços. Como exemplo, cita a trajetória de Dona Ivone Lara, que só conseguiu assinar suas composições aos 40 anos, apesar de escrever desde os 12. Hoje, observa, há mulheres compondo, cantando, tocando, dançando, pesquisando e produzindo no samba. Coletivos como o Mulheres na Roda de Samba, criado pela cantora Dorina, vêm ampliando essa visibilidade, mas Juliana alerta que o processo não é uma vitória definitiva e depende da continuidade de políticas públicas de inclusão e cotas raciais.
Questionada sobre críticas ao movimento identitário, a professora defende que classe social não pode ser discutida de forma isolada. Segundo ela, raça e gênero são marcadores que potencializam desigualdades e que, no Brasil, estão diretamente ligados à base da pirâmide social. Ignorar esse aspecto, afirma, é não compreender a complexidade da questão.
Juliana também avalia que a valorização da identidade tem sido fundamental para conquistas das mulheres negras. Ela cita exemplos que vão da estética, como a ressignificação do cabelo crespo, até a produção acadêmica, a exemplo do coletivo Acadêmicas dos Sambas, que reúne cientistas negras para construir novas narrativas históricas sobre o samba e o carnaval.
Para a pesquisadora, enfrentar desigualdades no Brasil exige mudanças estruturais profundas. Ela considera que a manutenção desses abismos sociais resulta de um projeto historicamente bem-sucedido, sustentado por mecanismos políticos, ideológicos e institucionais. Nesse sentido, acredita que qualquer transformação efetiva exigirá confrontos e interferências em diferentes esferas da vida social.
A palestra será proferida na sede da Usina Cultural, na avenida Duque de Caxias, nº 4.159.
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