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Micronovelas fazem sucesso na China e chegam ao Brasil e aos Estados Unidos

Nelson de Sá - Folhapress
30 set 2024 às 22:00

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- Divulgação
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No primeiro semestre deste ano, a internet chinesa alcançou 1,1 bilhão de usuários. Mais de metade deles, 52%, segundo o Centro de Informação da Internet da China, assistiram aos chamados microdramas verticais em plataformas como Douyin, o TikTok chinês, e Kuaishou, no Brasil, Kwai. No metrô, nos restaurantes, estão por toda parte.

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São web séries com dezenas de capítulos de poucos minutos, quase sempre melodramáticas, exageradas, comparadas na própria China às "telenovelas" latino-americanas. Analistas avaliam que elas afetaram as bilheterias de cinema no país, neste último verão.

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Uma das culpadas seria a microcomédia "Me Leva para Casa", primeiro resultado de um contrato assinado neste ano pelo produtor e ator Stephen Chow, de filmes como "Kung-Fusão" (2004), com o Douyin. Estreou em junho, alcançando 20 milhões de visualizações em dois dias.


Alcançou também maior qualidade, com comediantes conhecidos como Xu Zhisheng, buscando ao mesmo tempo não alterar a linguagem quase amadora. Em 24 capítulos, conta a história de um jovem advogado que salva a irmã de um golpe romântico online.

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Um site chinês sobre conteúdo, Ciwei Gongshe, analisou 6.000 microdramas e concluiu que, para a audiência feminina, os títulos mais populares incluem expressões como "CEO" e abordam relacionamentos. Para a masculina, expressões como "deus da guerra" e temas como ascensão e vingança profissionais.


Os microdramas vêm se firmando no resto do mundo a partir das produções chinesas, não só por TikTok e por seu concorrente Kwai, mas por plataformas desenvolvidas especialmente, como ReelShort, que liberam os primeiros capítulos e cobram pelos demais. Também chinesa, a ReelShort está entre os aplicativos mais baixados nos Estados Unidos desde o ano passado.

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O ator canadense Greg Wollner, baseado em Pequim, já trabalhou em algumas dessas séries voltadas para a audiência americana. Ele descreve uma filmagem na ilha tropical de Hainan, no sul da China, em que foi protagonista.


"Era uma produção chinesa trabalhando pela primeira vez com atores estrangeiros, um desafio para eles", diz. "Filmaram com três câmeras, talvez mais, todas ligadas o tempo todo. Gostei de fazer. O cachê não era ruim, embora inferior ao de outras produções. Agora, eles realmente tiram tudo o que podem de você. O ator principal trabalha 17 horas por dia, dia após dia. Acabam com você."

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Diz que em cinema são comuns jornadas de dez, 12 horas, mas os microdramas vão além. "Alguns atores fazem dois ou três desses verticais por um mês, depois pegam o dinheiro e, esgotados, param por meses. Ouvi algumas histórias de terror. Orçamento ruim, produção ruim, qualidade ruim, tudo ruim. O nosso foi Ok."


Os estúdios americanos ainda não acordaram para os microdramas verticais, mas as produtoras brasileiras já estão no mercado, estimuladas pelo TeleKwai, um projeto do Kwai no país. É o caso da KondZilla, que desenvolveu neste ano uma série em torno do Príncipe Arthur, um dos personagens-perfis da plataforma.
Também esses brasileiros seguem, à sua maneira, a fórmula "trash" original. Entre as web séries de maior êxito no país, "Ela Vendeu o Bebê", com a personagem-perfil Markelly Oliveira.

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Os precursores brasileiros, que explodiram no final da pandemia, foram nomes como o dançarino, músico e empresário do ramo de importação Tiago O Tyka e o agente de viagens, tradutor e intérprete Gilson da Rosa, ambos de Guangzhou, no sul da China.


"Essas produções começaram através de duas chinesas que moram aqui e já eram atrizes", conta Tiago. "Elas tinham um projeto para o Brasil e nos encontraram, e a gente apresentou outros brasileiros. Um elenco muito grande, uns 30, modelos, ex-jogador de futebol. Foi uma bomba, naquele momento. Viralizou muito. Aí deu uma parada."

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Segundo Gilson, a parada na produção chinesa, parte dela também em Pequim, foi resultado da entrada das produtoras brasileiras, com roteiros melhores. Aqueles primeiros vídeos da China deixavam a desejar.
"Os chineses davam o script em inglês, traduzido do mandarim com tradutor eletrônico", lembra ele. "A gente adaptava na hora. Alguns vídeos viralizaram porque as falas eram sem pé nem cabeça. Por isso que acabou muita gente fazendo chacota, até o Felipe Neto."


O grupo voltou neste mês às filmagens, com as mesmas produtoras chinesas, mas "para uma nova plataforma, não sei qual", segundo Gilson, que posteriormente informou que havia sido pedido "sigilo do projeto".


Além de Doyin, Kuaishou e ReelShort, os microdramas se espalham por plataformas chinesas como Tencent Video, iQiyi, BiliBili, DramaBox e o próprio Weixin (WeChat). No ano passado, mobilizaram mais de 300 mil empresas no país, segundo o diário financeiro NBD, e alcançaram uma receita total de US$ 37,4 bilhões de yuans (US$ 5,3 bilhões), segundo a consultoria iiMedia.


O excesso de concorrência já estaria levando o Douyin a rever sua estratégia, cortando canais voltados para o gênero. O alcance do gênero também chamou a atenção dos reguladores chineses, que desde o ano passado orientam as plataformas a um esforço de "retificação" do conteúdo, levando à derrubada de dezenas de microdramas.


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