A disputa entre a ginasta brasileira Rebeca Andrade e a norte-americana Simone Biles pelo ouro na final individual foi o evento de maior alcance da CazéTV nestas Olimpíadas, chegando a 3,8 milhões de pessoas.
O vôlei feminino bateu o futebol -ao menos na partida dramática contra os EUA, na quinta (8), em que as atletas disputavam uma vaga na final e acabaram derrotadas. Naquele dia, o pico de pessoas assistindo à disputa pela CazéTV simultaneamente chegou a 3,3 milhões de pessoas.
O futebol feminino ficou em terceiro lugar, com 3,1 milhões alcançados no jogo entre Brasil e EUA pelo ouro, no sábado (10). Na mesma hora, o vôlei feminino disputava o bronze contra a Turquia, dividindo as atenções. O quarto lugar de audiência ficou com a partida do Brasil contra a Espanha, vista por 2,8 milhões.
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A CazéTV foi a primeira na história a transmitir as Olimpíadas em meios totalmente digitais, em um evento sempre dominado, no Brasil, pela TV Globo em transmissão aberta. De acordo com balanço feito a pedido da coluna, a emissora alcançou 127,3 milhões de pessoas no Instagram, e 41 milhões no YouTube, por onde eram feitas as transmissões.
Na semana passada, os dois fundadores da LiveMode, Edgar Diniz e Sergio Lopes, que montaram a CazéTV com o streamer Casimiro, e duas das estrelas da TV, Fernanda Gentil e Diogo Defante, se reuniram na creperia do hotel Normandie L'Ecnhantier com alguns de seus 18 patrocinadores e apoiadores.
Dias antes, Defante tinha tirado a blusa e ficado só de collant ao entrevistar a ginasta Rebeca Andrade depois do ouro -cena impossível de se ver em uma grande emissora.
Na cafeteria, a coluna questionou a cena, bem como tantas outras brincadeiras feitas por apresentadores do canal. O próprio Defante admitiu o risco de uma cena mais ousada como aquela, e ainda mais feita ao vivo -mas todos observaram que Rebeca se divertiu e deu risada.
Em outro episódio, o apresentador Guilherme Beltrão afirmou que atletas como os do nado sincronizado, que não disputam medalhas, só vão aos Jogos para "se superar e comer gente". Beltrão pediu desculpas e disse que teve a fala tirada de contexto.
O desafio maior da CazéTV nas Olimpíadas, contou Sergio Lopes à coluna, foi dar consistência a uma cobertura que precisa seguir sendo jovem e ousada, justamente para manter e ampliar seu público -82% das pessoas que assistem ao canal, diz ele, têm menos de 44 anos; 62% têm menos de 34 anos.
A transmissão dos Jogos Pan-Americanos de 2023 no Chile tinha deixado um aprendizado: a cobertura de um evento poliesportivo é muito mais complexa do que a de um campeonato de futebol, espetáculo amplamente conhecido dos brasileiros e que dispensa maiores explicações -antes das Olimpíadas, a CazéTV transmitiu a Copa do Mundo de 2022, e antes ainda de o canal existir, Casimiro já tinha transmitido diversos outros jogos de campeonatos brasileiros.
No caso do Panamericano e das Olimpíadas, são 45 esportes, e milhares de atletas. A cobertura da CazéTV foi considerada divertida, mas rasa. Ninguém entendia bem quase nada do que estava transmitindo na TV.
As críticas foram grandes -inclusive dentro da empresa. "Fizemos uma autocrítica, falamos abertamente disso em redes sociais", diz Sergio Lopes.
Para as Olimpíadas, tudo mudou, diz ele. O canal colocou no ar 55 comentaristas especializados em cada um dos esportes, 12 narradores e 11 repórteres, que tinham a responsabilidade de preencher 500 horas de transmissões.
"A ideia era manter uma abordagem divertida, torcedora, jovem -mas aprofundada", segue o empresário.
As ex-ginastas Laís Souza e Andrea João comentaram as competições de Rebeca Andrade e da equipe feminina do esporte. Pedro Scooby comentou o surfe. O ex-judoca Flávio Canto comentou o judô. E assim por diante.
Na torcida, a CazéTV conquistou os atletas ao fazer propaganda para que os espectadores passassem a segui-los nas redes sociais. Rebeca Andrade, o exemplo mais visível, tinha 2,5 milhões de seguidores no Instagram -saltou para 11,1 milhão. Mais seguidores, mais possibilidade de patrocinadores.
A equipe da LiveMode rechaça prontamente qualquer questionamento sobre o papel da CazéTV como um contraponto à TV Globo, que também transmitiu as Olimpíadas. "Somos complementares, e não competidores", diz ele.
"Conversamos com um público que originalmente começa a se interessar por algum assunto pelas redes sociais, pelas plataformas de streaming. É um público que não se conectaria normalmente com os esportes", diz ele.
O formato casa com a preocupação especial do Comitê Olímpico Internacional (COI) em atrair as pessoas mais jovens para assistir ao espetáculo, diz ele. "Não por acaso [a entidade] incluiu esportes como skate, surfe e breaking nos Jogos. Tudo isso é uma tentativa de se conectar com esse público", segue.
Quanto a CazéTV pagou ao COI pelos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos? Quanto investiu na cobertura? Ele não fala de números.
Pouca coisa não deve ter sido: a cobertura das Olimpíadas de Paris mobilizou no total 300 profissionais diretamente envolvidos na produção de conteúdo.
A ideia algo romântica de que tudo isso nasceu exclusivamente do carisma de Casimiro, que explodiu na epidemia da Covid-19 ao fazer lives durante a quarentena, é relativa.
A LiveMode já tinha uma parceria antiga com entidades esportivas. Uma delas era a Fifa. Em 2020, a TV Globo devolveu à entidade do futebol os direitos de transmissão pela internet.
A Fifa queria explorar esse direito, e a LiveMode ficou encarregada de falar com o mercado. Recebeu algumas ofertas, mas a Fifa recusou todas.
Queria, porém, dar visibilidade a esse conteúdo. Foi então que surgiu a ideia de se associar ao fenômeno Casimiro, com quem já havia parceria na transmissão de jogos como os do Athletico-PR no Brasileirão.
E assim surgiu a CazéTV. Casimiro, a estrela maior do canal, no entanto, não estava nos Jogos de Paris -entre outras coisas, porque ele não gosta de voar de avião.