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Luto

Cinema perde Milos Forman, um diretor de olhar crítico e implacável

Agência Estado
14 abr 2018 às 15:26

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Paulo Francis, que não subestimava a importância dos filmes de Martin Ritt, dizia que o maior ataque de Hollywood ao racismo era obras de um cineasta checo radicado nos EUA. No começo dos anos 1980, Milos Forman não apenas vencera o Oscar, como fizera história como o segundo diretor a vencer o Big Five, as cinco principais categorias. Melhor filme, direção, roteiro, ator e atriz. O primeiro, nos anos 1930, foi Frank Capra, por "Aconteceu Naquela Noite". Na sequência, Forman, em 1975, por "Um Estranho no Ninho". E depois só mais um, Jonathan Demme, de "O Silêncio dos Inocentes".

Jan Tomasz Forman, que se tornou conhecido como Milos Forman, nasceu em 18 de fevereiro de 1932. Morreu na madrugada de sexta-feira (13), em Connecticutt. Tinha 86 anos. Há mais de 30 recebera o segundo Oscar, por "Amadeus". Perguntaram-lhe certa vez o que mais gostava na vida. Além de dirigir filmes, lecionar cinema. Por décadas foi catedrático na Universidade Columbia. Nos anos 1960, integrou a chamada nouvelle vague checa, com filmes como "Os Amores de Uma Loira", "O Baile dos Bombeiros" e "Pedro, o Negro".

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Havia um encanto nesses filmes libertários sobre pequenas vidas. A loira e o bombeiro tornaram-se representativos de uma época. A Primavera de Praga, um sonho de socialismo democrático que terminou quando, em plena Guerra Fria, os russos invadiram com seus tanques a República Checa. Veio a repressão. Forman estava em Paris. Asilou-se nos EUA e virou cidadão norte-americano (em 1977). Ali, surge outro Forman, um cineasta muito maior. Seus filmes expressam o ar do tempo. Drogas, contestação, racismo, guerra do Vietnã, as instituições. É todo um mundo que Forman coloca em xeque.

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"Busca Insaciável", "Hair", "Um Estranho no Ninho", "Ragtime", "Amadeus", "Valmont", "O Povo Contra Larry Flynt", "O Mundo de Andy". Larry Flynt é sobre o lendário dono da revista Hustler e seus sucessivos processos por pornografia. Andy é sobre o comediante Andy Kaufman, O Homem na Lua - título original. Kaufman foi um crítico implacável do que considerava a hipocrisia e o puritanismo da "América". Aclamado, reverenciado, Forman foi uma alma atormentada. Tinha a ver com sua origem, claro.

O pai desafiou o nazismo e morreu num campo de extermínio. Ele cresceu sentindo-se abandonado e só quando os campos foram abertos e a verdade, revelada, Forman percebeu o que havia ocorrido com sua família, com ele. Filmava o horror sonhando com algo melhor. "When the moon is in the 7th dawn..." A era de "Aquarius", "Hair". Forman tinha alma de roqueiro. Até o seu Mozart era para roqueiros. "Ragtime" era a súmula da luta. O pianista Coalhouse Walker Jr., Howard Rollins Jr., em guerra contra a sociedade dos brancos. Passaram-se quase 40 anos e nenhum filme é mais forte que esse.


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