Estreias

'Tomb Raider – A Origem': um filme para não assistir?

16 mar 2018 às 16:28

Desde 1996, Lara Croft resolve enigmas, escapa de calabouços, desbrava tumbas, enfrenta inimigos, mata zumbis, tudo isso com uma regata colada – muitas vezes com a barriga à mostra – e um microshorts, que não parecem oferecer muita proteção à heroína.

A série "Tomb Raider" existe há 22 anos. Começou nos videogames, por meio dos quais conquistou o sucesso. Chegou aos cinemas em 2001, com "Lara Croft: Tomb Raider", tendo Angelina Jolie – com enchimento no sutiã – no papel da protagonista. Tanto o primeiro filme quanto sua continuação, "Lara Croft: Tomb Raider – O Berço da Vida", tiveram uma péssima recepção da crítica e botaram um ponto final à franquia nos cinemas. Pelo menos até este ano.


Lara Croft voltou às telas neste mês de março, com "Tomb Raider – A Origem", tendo Alicia Vikander no papel da protagonista. Na história, Lara tem 21 anos e leva a vida fazendo entregas de bicicleta em Londres. Ela se recusa a assumir a herança do pai (Dominic West), desaparecido há sete anos. Para tentar desvendar o sumiço dele, Lara vai até o último lugar onde ele esteve, na ilha perdida de Yamatai, no Japão. Roar Uthaug é o responsável pela direção.


O reboot adapta o jogo "Tomb Raider", de 2013, responsável por reiniciar a série no universo dos games. O jogo foi muito bem recebido pela crítica especializada, sendo reconhecido como um ótimo recomeço para a franquia. Infelizmente o mesmo não acontece com o novo filme.


"Tomb Raider – A Origem" é uma bagunça do começo ao fim, não oferecendo nada de novo aos gêneros de aventura e de ação, já tão batidos. Alguém realmente acha que é uma boa ideia fazer mais um filme de "caçadores de tesouro" à la Indiana Jones? Depois de cinco filmes de "Piratas do Caribe", outros cinco de "Indiana Jones", três de "A Múmia", dois de "A Lenda do Tesouro Perdido"... Acho que não preciso continuar.


O filme acerta na caracterização de Lara Croft. Alicia Vikander se parece fisicamente com a protagonista dos jogos e suas roupas e cabelo são fieis ao game. A escalação da atriz também é um acerto. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2016 por "A Garota Dinamarquesa", Vikander pode não ter muito o que fazer em "Tomb Raider", mas destoa dos outros atores, principalmente pela péssima performance de Dominic West e de Walton Goggins, que vive o vilão do longa, sobretudo nos momentos (que deveriam ser) emotivos.


Um ponto que deve – infelizmente – ser destacado é a não-sexualização da protagonista. Infelizmente, já que isso deveria ser normal há muito tempo. De qualquer forma, como já deve estar óbvio, Lara Croft tem um grande passado (e presente) de sexualização. Inclusive em jogos mais novos da franquia, com exceção do reboot de 2013, que trouxe uma nova e bem-vinda imagem à personagem. "Tomb Raider – A Origem" manteve isso. A protagonista abandonou os shorts curtos e a barriga à mostra, nada úteis em meio à floresta, e deixou de fora as "poses sensuais" para adotar uma postura que deveria ser comum em todos os filmes com personagens femininas.


O roteiro do filme é confuso e pouco crível, com muitas coisas acontecendo em um espaço curto de tempo e com pouca – ou nenhuma – explicação. Os fatos se atropelam, não dando brechas para que o espectador entenda com clareza detalhes importantes do longa. Isso também impede que seja criado qualquer laço mais profundo de empatia com os personagens ou até mesmo que a relação entre eles seja desenvolvida de forma natural e humana. Mas tudo bem. Quem se importa com isso se, em seguida, teremos uma cena de perseguição exageradamente alongada, com direito a tiros, acrobacias, trilha sonora irritantemente agitada, câmeras tremendo, muitos (muitos mesmo) cortes rápidos e adrenalina?


Aliás, falta motivação, principalmente ao vilão. Ele se sustenta por clichês. Em um momento, é apresentado como personagem cruel para, em seguida, deixar outro personagem sobreviver simplesmente "porque sim". As motivações do pais de Lara também são pouco abordadas, com algumas coisas ditas em um primeiro momento para, depois, serem abandonadas no restante do filme.


Reprodução//IMDB


Os enigmas, uma das marcas da franquia de jogos, são deixados de lado. Lara Croft simplesmente parece saber de tudo, com quase nenhum desafio, com exceção de uma única cena na parte final do filme. Grande parte do mistério envolvendo a ilha é dito por meio de uma narração ao fundo, o que acaba sendo um péssimo artifício narrativo, principalmente por toda a explicação ser mal feita. Pensando bem, talvez os roteiristas tenham pensado em fazer do filme em si um grande enigma que os espectadores deveriam tentar solucionar. Vendo por esse lado, talvez tenha sido um grande acerto, porque, ao final do filme, ainda continuamos com cara de interrogação por causa de muitos nós soltos.


Aliás, fica aqui um questionamento de um dos enigmas que não consegui decifrar: se o pai de Lara Croft desapareceu na ilha, como o diário dele com a pesquisa sobre o lugar estava em Londres, com a protagonista?


Ao final, o filme tenta fazer um plot twist, mas que simplesmente não funciona. Não faz muito sentido, é tudo jogado e, como o restante do longa, pouco crível. Funciona como um gancho para as possíveis sequências, mas poderia ter sido executado de forma bem diferente. O filme já deixa pontas soltas demais para tentar surpreender ao final. Para que um plot twist seja bem executado, é preciso que o plot do filme seja bem executado.


"Tomb Raider – A Origem" se baseia em um bom material original, Alicia Vikander é uma boa atriz e o diretor Roar Uthaug já se mostrou competente em "A Onda" (2015). É uma franquia com grande potencial e que infelizmente foi desperdiçada em um recomeço pouco original, com efeitos especiais questionáveis, cenas de ação genéricas, um roteiro fraco e, principalmente, nada de novo.



Reprodução//IMDB

Em Londrina, "Tomb Raider – A Origem" é exibido no Shopping Boulevard, no Catuaí Londrina Shopping, no Shopping Royal, no Londrina Norte Shopping e no Aurora Shopping. Confira a programação completa aqui.


Continue lendo