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Sem inovar, 'Amante Por Um Dia' explora relações humanas

23 mar 2018 às 17:20

A nouvelle vague vive. A "nova onda" do cinema francês foi criada em 1958, opondo-se às grandes produções hollywoodianas da época. Apesar de François Truffaut e Jean-Luc Godard já não serem mais tão populares, o estilo ainda vive, e Philippe Garrel é um exemplo disso.

Em "Amante Por Um Dia", o diretor francês mantém o seu estilo à la nouvelle vague. Filmado em preto e branco, uma característica de Garrel, aborda um tema cotidiano e já muito explorado. O amor e as relações humanas.


Na história, Jeanne (Esther Garrel, filha de Philippe) vai morar na casa do pai (Éric Caravaca) depois de terminar com o namorado, com quem morava. Extremente abatida pela separação, ela conhece a nova namorada do pai, Ariane (Louise Chevillotte), que tem a sua idade. Os três passam a morar juntos e o filme explora a relação entre eles.


Logo nas primeiras cenas, a oposição entre as duas personagens fica clara. Enquanto Ariane é mostrada tendo relações sexuais dentro do banheiro de uma universidade, Jeanne é retratada chorando o término do namoro, sentada ao chão.


Essa contraposição se mantém durante grande parte do filme. Garrel explora o desespero de Jeanne, uma jovem ingênua e em luto com o final de seu primeiro grande relacionamento, enquanto ressalta a liberdade e a experiência sexual de Ariane. Também criando uma oposição ao término de Jeanne está o relacionamento aparentemente feliz de Ariane e Gilles, o pai.


Na primeira cena em que interagem, Jeanne demonstra certa hostilidade com a namorada do pai, mas, depois, as diferenças são deixadas de lado e é construída uma relação de cumplicidade baseada em segredos e confissões.


Gilles fica no meio dessa relação. A situação permite que a discussão entre amor paterno e amor em relacionamentos surja, seja de forma direta – com Ariane tendo ciúmes de Jeanne -, ou de forma indireta – como nos passeio de Gilles com a filha e com a namorada.


A relação de todo o trio é muito bem desenvolvida. Os três atores entregam atuações convincentes, principalmente Esther Garrel, no papel de Jeanne. A atriz, conhecida por "Me Chame Pelo Seu Nome", consegue reproduzir as diferentes nuances das emoções da personagem.


Garrel acerta ao explorar de forma sutil os sentimentos. No longa, um tema que parece ordinário se torna notável, o que cria um ambiente intimista e humano - o processo de aceitar um término, as dificuldades de um relacionamento. Esse universo permite que surjam outras discussões, como na conversa entre Gilles e Jeanne sobre infidelidade, que acaba sendo o pano de fundo para todo o filme.


Aos poucos acontece uma inversão entre as protagonistas. Com Jeanne se recuperando da tristeza do término e Ariane caindo em desgraça.


A montagem do filme é um de seus grandes problemas, dando um ritmo lento à produção e fazendo com que seus 76 minutos pareçam mais longos. Isso se deve principalmente ao fato de que o estilo de Garrel, que referencia a "nova onda", não favorece uma narrativa dinâmica. Apesar do curto tempo, algumas cenas parecem não se conectar com o restante do filme – como em uma discussão sobre guerra.


O diretor opta por utilizar uma narração em off em algumas ocasiões para explorar o pensamento dos personagens. Mas não funciona bem com a sutileza que grande parte do filme apresenta, já que as falas em off adotam um discurso que tenta fazer graça de algumas situações.


Reprodução//Adoro Cinema


Em suma, Garrel faz um trabalho interessante em "Amante Por Um Dia", principalmente por explorar com leveza sentimentos e relações cotidianas que despertam identificação no espectador. Mas vale ressaltar que ele não inova nem mesmo dentro de sua própria filmografia, prendendo-se a seu estilo. Garrel assemelha-se a Woody Allen no que diz respeito a falar sobre relacionamentos humanos e sobre as emoções causadas pelo amor, sejam boas ou ruins.

Em Londrina, "Amante Por Um Dia" está em exibição no Royal Plaza Shopping, diariamente às 17h e 21h. Confira a programação completa de cinema na cidade aqui.


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